sábado, 27 de dezembro de 2014

Minha primeira grande viagem (Paulo Lopes\Joinville) (3ª parte)

10\12\83. Levantei às 6:20. Foi uma noite muito bem dormida. O dia amanheceu com cara de chuva e um passarinho cantava sem parar numa gaiola da delegacia. O delegado estava preocupado com dois colegas que foram pescar e não voltaram ainda. Atualizei o diário.  Passei na padaria. O padeiro havia saído. Deixei um bilhete de agradecimento e fui a Florianópolis. No caminho passei por um caminhão que desceu o barranco com uma carga de uréia.  Chegando a  Florianópolis, passei por uma ponte que tinha  uma passarela por baixo. Dei umas voltas no centro. Vi o calçadão todo enfeitado para o Natal. Bebi água na praça XV de Novembro. Procurei uma senhora cujo nome estava num catálogo de Análise Transacional. Lá ganhei um almoço e mais mil cruzeiros.  Saí e fui subir o morro da televisão. No começo da subida, passei numa casa e ganhei bananas e laranjas. Com muito esforço, consegui subir o morro, empurrando a bicicleta. Lá chegando, comi duas laranjas e bati uma foto.



 Conversei com uns guris que estavam lá em cima. Desci o morro, ganhei pão e bananas numa casa e cem cruzeiros noutra, com os quais comprei 4 bananas e 3 laranjas. Segui viagem para  Tijucas ao anoitecer. Estava chuviscando. Quando o chuvisco transformou-se em chuva, armei a lona debaixo de uma goiabeira e lá fiquei aproximadamente uma hora, quando a chuva parou. Já escuro, continuei rumo a Tijucas. Encontrei um fusca azul que  havia furado o pneu traseiro direito. Estavam sem macaco. Fiquei dando uma mãozinha. Resolvido o problema do fusca, combinei almoçar no dia seguinte na casa deles em Itapema. Segui viagem e cheguei a Tijucas às 22 horas. Fui a um posto de gasolina, gastei 900 cruzeiros para encher a barriga. Atualizei o  diário. Começou a chover. Dormi na lancheria do posto. Como era noite de sábado para domingo, não parava de entrar e sair gente, assim como também não parava de chover. Dormi mal, em meio a tanta confusão.

11\12\83. Acordei cedo e gastei 700 cruzeiros para encher a barriga. Quando a chuva afinou a ponto de não me molhar, segui viagem até Itapema. No meio do caminho, a chuva engrossou. Entrei numa garagem. Quando entrei na garagem dei-me conta de estar num cabaré. Eu estava com muito sono. Sentei num tijolo junto a uma parede e dormi. Acordei quando chegou um carro vermelho (um Corcel) que entrou na garagem.  Reconheci o motorista que eu havia visto no posto de gasolina e o cumprimentei. Ele entrou no cabaré e eu tirei uma soneca no carro dele. Quando acordei, havia afinado a chuva. Fui até Itapema. Lá chegando, telefonei a cobrar para mamãe e disse onde estava e que tudo ia bem. Procurei a casa do pessoal do fusca azul de Florianópolis. Encontrei a casa. Uma das garotas, a que usava um chapéu do Kiss, me recebeu e disse que os rapazes estavam na praia. Larguei a bicicleta na casa e fui encontrá-los, Um estava numa prancha de surf, esperando uma onda que eu sabia que não ia aparecer. O mar estava muito calmo. O outro, Disney, estava num caiaque. Os dois rapazes gostavam tanto da água que só faltava terem barbatanas! Quando eles saíram do mar, fomos até a casa, jogamos futebol, depois dominó, brincamos e conversamos um pouco e almoçamos churrasco. Após almoço, enxuguei a louça. O sobrenome dos donos da casa era Feiber. Moravam em Florianópolis, na Rua  D.Pedro II. Após o almoço, voltamos à praia. Joguei vôlei com as garotas e tomei um banho. Depois, voltamos à casa, fizemos um lanche, me despedi do pessoal e segui até Camboriú.  Subi e desci um morro e entrei em Balneário Camboriú.  Ainda chovia fino. Passei numas casas e ganhei bananas, sanduíches e leite. Dei umas voltas e procurei onde dormir. O comissário de polícia me autorizou a dormir num carro que estava detido. Havia muitos mosquitos e, para completar o sono, fiquei dormindo algumas horas após clarear o dia.

12\12\83. Saí. Céu nublado e cinzento. Peguei alguns pãezinhos e frutas. Tomei um café de ficar triste de tanto comer e ainda ganhei 600 cruzeiros. Fui à praia. Defronte a uma ilha que ficava a uns 500 metros, tomei um banho. A água estava gelada. Saí logo. Sentei num banco e atualizei o  diário. Dei umas pedaladas ao longo da praia  e, em seguida, fui até Itajaí. Cheguei lá por volta do meio-dia. Procurei a residência do Sr. Antônio Carlos  da  Silva, indicado em V. Aires pelo meu vizinho  Antônio Carlos  Heissler.  Lá chegando, eu o encontrei.  Ele se prontificou a me hospedar naquela noite. Ofereceu-me um almoço. Recusei por não estar com fome. Em seguida, sentei-me a uma cadeira e escrevi alguns aerogramas. Peguei a bicicleta, fui ao correio e depois passei numas casas para pedir alimentos.  A primeira casa que passei era a do prefeito. Foi coincidência. Uma empregada me atendeu e me deu dois pãezinhos com manteiga.  Noutra casa, na mesma rua, ganhei um saco cheio de sanduíches, cucas, laranjas e bolachas. Comi uma parte, dei umas voltas pelo centro da cidade. Dei uma entrevista no Jornal Opinião.  Voltei à casa de Antônio Carlos. Joguei pingue-pongue com uns garotos na casa ao lado. No início de noite, eu e Antônio Carlos conversamos um pouco. Tomei um banho, jantei e em seguida fomos todos dormir.



13\12\83. Levantei às 6:30. Tomamos café. Resolvi seguir até Joinville. O céu estava com cara de chuva. Mesmo assim, saí. Tinha andado uns 20 minutos e caiu uma forte chuva. Não tive chances de me abrigar. Fiquei encharcado. Continuei andando. A chuva passou e em seu lugar veio um chuvisqueiro. Na beira da estrada vi muitas árvores que tinham flores cor-de-rosa e flores brancas, na mesma planta. Eram árvores grandes. Uma senhora que caminhava na beira da estrada disse, após ter enchido bem os pulmões, que o nome era Jacateirão do Roxo. Caíram, ainda, umas quatro chuvas fortes. Felizmente, encontrei abrigo quando elas caíram. Entrei em Joinville à meia-tarde. Procurei  outro amigo  de Antônio Carlos Heissler   e descobri que ele estava em férias e havia viajado a Porto Alegre. Passei em algumas casas, ganhei uns lanches. Dei umas voltas pela cidade e fui até o  jornal “A Notícia”, onde dei uma reportagem. Em seguida, fui até o 2º. Distrito Policial pedir um pernoite. Lá fui informado que, em frente à estação rodoviária, havia um hotel cuja dona me arranjaria um pernoite grátis. Fui até lá.  Hotel Novo Horizonte. Quando cheguei, vi uma senhora sentada em frente ao hotel, usando um vestido cor-de-rosa.  Era a dona.  Expliquei a ela que estava realizando uma fantasia de infância e ela prontamente me indicou uma entrada lateral, onde eu encontraria seis quartos vagos e que eu poderia escolher qualquer um.  Imediatamente entrei e escolhi o número 5. Fiz um lanche e dormi.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

SECANDO AS REDES

Secando as redes


Num posto de gasolina, em Eunápolis-BA, eu e a Ilda passamos a noite em cima de um caminhão Mercedes vermelho descarregado e nos cobrimos com as duas redes.
Ao amanhecer, quando levantamos, notamos que elas estavam molhadas de sereno. Então, lá pelo meio-dia, numa parada para descanso, enquanto comia macarrão, aproveitei para pendurar as redes entre o meu pescoço e uma placa. Elas secaram em menos de dez minutos.

Cacau na BR 101

O cacau                                                                                      


Na região do recôncavo baiano passamos por muitos cultivos de cacau. A Ilda tinha a hábito de querer comer toda a fruta que visse, mas, para evitar problemas, consegui persuadi-la para só olhar. Havia cacau por todos os lados, nos tempos que a vassoura de bruxa era notícia, mas nós não pegamos nenhum.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Passeio Terra Alta

Anteontem, fui dar uma volta mais longa. Saí de casa às 6:27 e segui pela BR até Castanhal, e, de Castanhal, até  Terra Alta, tudo asfalto, 91 km em 6 horas e pouco. Para voltar, atravessei a cidade e segui por um ramal com trechos com pedras alternados com trechos de areia. Estava num caminho já percorrido várias vezes, mas, de repente, a estradinha acabou em uma porteira. Achei estranho, voltei uns 2 km e segui por outro caminho que era novo para mim. Chegando a um povoado, já tendo andado uma hora e meia desde Terra Alta, soube que havia chegado a Pio XII. Do Pio XII, segui por um caminho que acreditava desembocar na estrada da Vigia, no km 25, mas, nas encruzilhadas que encontrei, devo ter errado o rumo e saí lá no km 36, pouco antes das 16 horas.  Nessas 3 horas que andei desde Terra Alta até o km 36 da estrada da Vigia, não peguei bolachas para comer, pois os trechos de areia eram constantes e exigiram  esforço na direção. Mesmo assim, várias  vezes encalhei e tive de empurrar a bicicleta. Passei por vários igarapés, mas prefiro ficar pedalando a tomar banho...
Depois, no asfalto, 36 km até Santa Isabel e mais 32 até em casa, sendo que cheguei às 20:19. Os últimos 29 km foram no escuro e usei duas lanterninhas de led.
Distância percorrida: + ou – 195 km, sendo 36 em piçarra e areia e 159 em asfalto.

Consumo: 5,9 litros de água e 36 bolachas Maria. 

domingo, 16 de novembro de 2014

Bosta Verde....

Em fins de 1983, na estrada mais bonita que já andei, a Rio-Santos, encontrei, num longo trecho entre Ubatuba e Parati, muitas placas na estrada com propaganda de um empreendimento chamado Costa Verde. Eram tantas placas que, para quem passa lentamente, de bicicleta, é uma chatice.
Pois eu achei muita graça, dava gargalhadas sozinho na BR, quando, a partir de um determinado trecho, todas as placas foram pichadas, só uma letra, sendo que a propagada Costa Verde foi transformada em Bosta Verde....

Em 1987, passei pela região e fiz uma foto da minha mulher num lugar conhecido como saco da ribeira.


domingo, 2 de novembro de 2014

Percurso diferente: Benevides - Santa Isabel - Americano

Hoje fiz um percurso curto e variado. Saí de casa às 8:37 e encontrei a BR-316 entupida de carros até o km 14, por causa do movimento do dia de finados  nos cemitérios próximos a Marituba.
Resolvi fazer um percurso usando só a coroa menor (28), sendo que a catraca é 16-19-22. Tendo pedalado 19 km, já dentro de Benevides, tomei o rumo da Estrada de Maravilha, passando pelos balneários de igarapé Taiassuí e Maravilha. Depois da entrada para Feijoal, entrei à direita e fui no rumo de Caraparu, outro balneário de igarapé.
Da entrada de Caraparu, segui no rumo de Santa Isabel. Ao meio-dia, já entrando na cidade, vi uma rua à direita com um  movimento muito intenso para ser uma rua de periferia. Pedi informação a um motoqueiro e soube que por ela havia condições de chegar até Americano.
E lá fui eu. 1 km para sair de Santa Isabel , e uma estradinha cheia de árvores dos dois lados e uns 3 igarapés. Pedalei 50 minutos e encontrei só 2 bicicletas e 4 motos. Uns 3 barranquinhos difíceis e um trecho de uns 4 km dentro do mato, onde a estradinha virou trilha. Depois da parte de mato, mais um trecho de piçarra entre fazendas de gado e estava entrando em Americano.
O tempo total de S.Isabel até Americano foi 1h23min (+\- 19 km). De Americano para casa, asfalto, 46 km. Chegada: 16:31.
 Esses últimos 46 km foram chatos para pedalar com a coroa 28, pois é aquele trecho que a bicicleta pede para acelerar. Resisti  à tentação e mantive a marcha leve até o final, mas senti que os  braços ficaram cansados.
Distância percorrida: + ou – 116 km, sendo 42 em piçarra e 74 em asfalto.

Consumo: 3,5 litros de água e 28 bolachas Maria.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O tomador de batida

(isto já foi postado em WWW.laurofiss.blogspot e estou copiando por que as pessoas acham muita graça deste ¨causo¨)

Quando eu morei em Porto Alegre, eu gostava de ir ao centro da cidade, na Praça 15 (15 de Novembro), tomar batida. Nas várias lanchonetes  havia, já cortados, pedaços de banana, mamão, abacate, maçã, e também outros ingredientes em potes, como aveia, neston, etc.

O meu costume era pedir 6 copos, com todos os ingredientes misturados e ainda ovos crus com casca e tudo. Aquilo para mim era um lanche normal...

Também na feira, ali próximo, na Rua Voluntários da Pátria, eu merendava bananas. As bananas só eram encontradas embaladas de 2 em 2 kg. Assim sendo, minha merenda era 2 kg de banana. Quando não tinha banana, eu me contentava em comer 2 kg de tomate....

Então, por ocasião da minha viagem de bicicleta ao Pará,  em 1984, estava eu dando umas voltas na cidade do Rio de Janeiro. Na Av. Presidente Vargas, próximo à esquina com a Rio Branco, entrei numa lanchonete e vi lá na parede que tinha batida. Fui ao caixa e comprei  4 copos.


Chegando ao balcão, e não vendo nenhuma fruta para fazer batida, nem banana, nem nada, perguntei  qual tipo de batida havia para escolher. E ouvi, espantado, maracujá, laranja, e outras frutas estranhas que nunca vi em nenhuma batida. Pedi  os 4 copos de maracujá. Imaginava que ia vir misturado com alguma farinha para engrossar, mas veio bem fininho, como um suco. O atendente ainda perguntou se eu ia tomar um só copo e voltar mais tarde, ao que eu respondi “pode trazer os 4, pois sou acostumado a tomar 6”... Quando tomei o primeiro gole, tinha um gosto estranho de cachaça. Como já estava pago, tomei tudo (os 4 copos).

 Me  senti  tão mal  que saí da lanchonete me apoiando na parede.  Não tive coragem de sair andando com a bicicleta. Eu estava zonzo. Sentei na calçada, no chão, até melhorar um pouco. Lembro que passou alguém vendendo “não-sei-o-quê”  e comprei. Após comer, melhorei um pouco, subi na bicicleta e pedalei vigorosamente até me sentir “normal”.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Minha primeira grande viagem: primeiros momentos (1ª parte)

   No dia 03\12\1983 iniciei a minha primeira viagem de bicicleta entre o Rio Grande do Sul e o Pará.  A motivação, um sonho de infância: estar só, num lugar estranho, sem dinheiro, entre pessoas estranhas, e PEDIR (alimento, proteção, orientação).
   Andar na estrada é algo que me dá uma sensação de plenitude, não sei explicar direito, sinto que faz muito bem ao meu espírito. É fato que, não poucas vezes, o corpo reclama por causa de alguns excessos, mas isso não diminui a minha disposição.
   Quando criança, eu sonhava muito que estava voando devagar, perto do chão, como se estivesse levitando. Andar de bicicleta é, em algum grau, semelhante.
    Em Porto Alegre, na casa de um casal conhecido de meu irmão mais velho, ele fez a última revisão na minha bicicleta, que era, por coincidência, o mesmo modelo da dele.  Ele regulava tudo com incrível precisão. Nunca soube que ele tenha trabalhado como mecânico...

    A bicicleta, marca Odomo, coroa 46, catraca 20, freio contra-pedal, central de pino, com dez anos de uso. 




  Às 17 horas e pouco nos despedimos e eu saí no rumo de Gravataí. Uns 30 km. Trânsito intenso, urbano, muito vento e poeira. Ainda antes de escurecer, cheguei e procurei o apartamento de uma ex-colega de curso, Margarete, que estava à minha espera.
   Após tomar banho e lavar a roupa que eu acabara de usar, ficamos na sala ouvindo música e conversando. Depois, jantamos (leite, pão, queijo, mortadela, ovos). Depois, novamente, voltamos à sala e conversamos mais e mais, e no final, trocamos um abraço e fomos dormir. Se a memória não falha, ela tinha duas filhas, umas meninas de 5 a 7 anos.
   No dia seguinte, 04\12, na sala, acordei e me atrevi a colocar uma fita de Joan Baez a rodar. Tomamos café e continuamos a conversar até as dez e pouco, quando resolvi seguir viagem, agradeci a hospitalidade, dei um abraço nela e fui.
   Achei que neste dia iria até Osório (+ 87 km). Tendo andado uns 15 km, logo após ter passado em frente à fábrica Pirelli, um caco de vidro furou o pneu traseiro. Parei no alto de uma coxilha, à sombra de uma árvore, fiz o remendo e segui adiante. À medida que o tempo passava, o vento contra ficava mais forte, e, sem câmbio, era uma briga para avançar. Algumas vezes, no plano, não consegui pedalar e empurrei a bicicleta.
   Ao anoitecer, cheguei a Santo Antônio da Patrulha, a 55 km de Gravataí. Já escuro, pedi alimentos em 3 casas e uma fruteira, sendo que ganhei pão, bolo, roscas, queijo, laranjas e tomates. Eu me senti realizado, pois ninguém disse não. Fiz um bom jantar e guardei o restante para o outro dia. Entrei num parque de diversões, conversei com algumas pessoas para saber onde eu poderia pedir para dormir. Dois meninos foram comigo até um caminhão estacionado em frente a uma casa e disseram que eu poderia dormir na cabine, pois o pai deles sempre deixava aberto. Agradeci e logo me instalei.
  No dia seguinte, 05\12, acordei por volta das 6 horas, fiz minha primeira refeição com as sobras do dia anterior. Dei umas voltas pela cidade e mais tarde fui dar uma entrevista na Rádio Itapuí.
  Às onze horas segui no rumo de Osório, sendo que os 30 km foram percorridos sem dificuldade, uma vez que o vento estava calmo. Quando cheguei, o céu estava com cara de chuva. Fui pedir alimentos em algumas residências; ganhei bananas, laranjas, bolo e sanduíche. Estando bem alimentado, fui até a Rádio Osório e dei outra entrevista.
  Depois, mais umas voltas pela cidade, e às 16 horas, me dirigi para Terra de Areia, onde cheguei às 19:30. Foram 52 km de acostamento ruim, muitos caminhões na pista, obras, e vento forte. Lá, conforme combinado em Osório, procurei a residência do Sr. Dilon Bittencourt, onde jantei e dei entrevista para um jornal. Fui dormir num banco no posto de gasolina. Estava muito frio e dormi pouco. Além do frio, houve muito barulho naquela noite, pois o Grêmio tinha se tornado Campeão Mundial de Futebol e eu, como torcedor do Internacional, não gostei.
  No dia seguinte, 06\12, fui acordado pouco antes de amanhecer. Atualizei meu diário e escrevi um aerograma para um amigo de São Luís do Maranhão. Fui a uma residência, pedi pão, despachei o aerograma no correio e fui ao fotógrafo tirar a foto que o Sr. Dilon havia pedido. O fotógrafo fez umas fotos com a máquina dele e esta com a minha. 









domingo, 19 de outubro de 2014

Vila Pernambuco

Hoje eu pretendia dar um passeio de 200 km com a minha incrível bicicleta.
Acordei às 4:48 sentindo a barriga inchada e com uma dorzinha. Resolvi esperar e observar. Pinguei uma gota de óleo de menta na água e tomei junto um comprimido de Atroveran. Uma hora depois, fui ao banheiro e constatei que tudo estava normal. Ainda voltei pra cama e levantei às 8 e pouco. Tomei café e me arrumei para ir à estrada. Saí às 9 horas.
Fui até Santa Izabel, atravessei a cidade e segui na direção de Americano pelo caminho onde passava a antiga estrada de ferro. Uma estradinha de piçarra sem movimento e com muitas árvores dos dois lados. Depois de uns 5 km nesta estradinha, cheguei a um obstáculo; uma ponte estava faltando para passar pelo igarapé (barranco muito alto). Voltei uns 4 km e entrei num outro ramal e consegui sair na BR. Eu ainda não havia definido o percurso para este dia.
Faltando 9 km para Castanhal, vi a entrada para Pernambuco, uma vila onde havia um comércio intenso décadas atrás, antes de existir a rodovia Belém-Brasília, por causa de um porto na beira do rio Guamá. Resolvi dar uma andada por lá, já que fazia alguns anos que andei no trecho. Na última vez, fui com uma rapaziada lá de perto do Colégio Madre Celeste. Eles adoravam tomar banho em igarapé: então, naquela ocasião, falei que havia um bem bacana lá. Quando chegamos, eles ficaram admirados de ver um igarapé com centenas de metros de largura...
Entrei no ramal. Passei por alguns povoados menores e gastei uma hora e meia para percorrer os 23 km. Deveria demorar mais, mas fui ajudado pelo vento. Tive de usar a coroa 28 para subir as dezenas de subidinhas de 20 a 80 metros de chão. Verdadeiras ladeirinhas. Passei direto e só parei 2 km depois para beber água e comer 4 bolachas.
Do Pernambuco andei mais 12 km até a estrada de Bujaru. Mais 23 km, Santa Izabel; mais 32 km, cheguei em casa precisamente às 19 horas.
Distância percorrida: + ou - 153 km, sendo 47 em piçarra e 106 em asfalto.

Consumo: 4,5 litros de água e 39 bolachas Maria.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

O tamanho da pedivela

O tamanho da pedivela
Na década passada, depois de ler alguns artigos na internet, resolvi aumentar a pedivela da minha bicicleta de 165 para 195 mm; arranjei uma pedivela velha e fui à oficina de grades, onde, cortando e soldando os pedaços de uma e de outra, ficou do jeito que eu queria. Ficou grande, mas, de acordo com o que li, poderia ser de até 220 mm, metade da minha coxa.
Acostumei a andar com ela e, num certo dia, ao parar em um sinal de trânsito, vi uma bicicleta com uma também longa e perguntei ao ciclista qual era o tamanho. Ao ouvir que era 185, respondi que a minha era 195 e ele disse ¨este tamanho não existe¨.....
Numa das minhas viagens ao Nordeste, naquelas subidas difíceis antes de São Bernardo-MA, quando, nas outras vezes, penava para subir com a relação 28x24, subi, com espanto, usando coroa 38, sem ofegar.

Depois, quando a rosca estragou, fiz outra de 190 e, depois, mais uma de 180. Em todas elas eu conseguia girar acima de 80, mas, depois de uns 4 anos, meus joelhos começaram a doer, e, já sabendo disso antes de fazer esta experiência, para recuperar os joelhos, comprei uma de 145 mm (de criança). Usei por uns 2 ou 3 meses, e os joelhos ficaram bons. Com essa pedivela de 145 mm, acostumei com giro próximo a 100. Só passei para uma normal, de 165 mm, por que, apesar de não cansar girando muito, suava demais....

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Visita de 20 minutos

Domingo passado fui dar uma volta até Castanhal. Resolvi visitar um ex- cliente que foi morar pra lá (o ¨Bigode¨).
Saí de casa às 7:45. Como é costumeiro nas manhãs de domingo, encontrei vários ciclistas na BR, a maioria voltando para Belém. Quase ninguém gosta de andar quando o sol fica mais alto no céu. Muito vento contra. Cheguei lá às 12:05. Vi a nova casa dele, conversei um pouco, tomei um refrigerante de 600 ml, e, às 12:25, retornei, pois queria acompanhar o futebol em casa, onde cheguei às 16:12. Recusei almoçar com a família dele, pois, se enchesse a barriga, ficaria indisposto para pedalar.
Para não perder o hábito, ganhei um banho de chuva do km 48 ao km 42 (25 minutos).

Além do refrigerante, o meu consumo foi 3,8 litros de água e 36 bolachas Maria (180 g) para estimados 124 km pedalados. Depois, em casa, em horário diferente, almocei.

sábado, 13 de setembro de 2014

Paçoca com Efeito Colateral

Estava eu nos preparativos para mais uma viagem de bicicleta do Pará ao Rio Grande do Sul, e tive a ideia de levar um alimento para levar na bagagem e poder utilizar por vários dias.
Comprei um pote de pé de moleque (+\- 1 kg) e pedi para a Mundica usar no preparo de uma paçoca com farinha de mandioca.
A farinha foi torrada e misturada com todos os pés de moleque no liquidificador, e colocada numa garrafa pet de 2 litros.  Durante a viagem, a cada vez que eu bebia água, uns 8 ou 10 goles, tomava, depois, um gole de paçoca. Foi um excelente nutriente.
Mas, quando eu soltava um ¨pum¨, mesmo estando na estrada, longe de outras pessoas, era um fedor que provocaria muita vergonha. Era mais notado quando estava numa subida, quando fazia força com os músculos abdominais.
Esta paçoca durou uns 20 dias, até eu entrar no Paraná.
Quando passava das 15 horas, eu parava de usar a tal paçoca, pois, no final do dia, eu iria me instalar em algum posto de gasolina e não queria passar vergonha...
Por causa deste efeito colateral, não usei mais nas outras viagens, mas ainda vou descobrir alguma coisa equivalente sem necessidade de soltar ¨pum¨ fedorento.


Conserto diferente

Num domingo destes, retornando de um passeio, faltando uns 6 km para chegar a Castanhal, percebi, do outro lado da estrada, um rapaz empurrando a bicicleta. O pneu dianteiro estava vazio.
Perguntei se era buraco grande ou pequeno. Ele perguntou se eu tinha bomba e respondi que tinha bomba, ferramentas e câmara para trocar.    Ele disse que só queria a bomba para encher o pneu.
Então, virou a bicicleta de rodas para cima, e, com uma chave comum, abriu o pneu sem tirar a roda do garfo. Puxou a câmara para fora, encheu com a bomba e achou o furo. O ¨furador¨ foi um aramezinho. Remendo?  Pegou com firmeza a parte que tinha o furo, fez uma espécie de bico e amarrou com um pedaço de linha de pescar. Ele chamava isso ¨fazer um periquito¨.
Enquanto montava a roda, explicou que aquela gambiarra costumava aguentar uns 15 dias.

Posteriormente, comentei isto com um senhor que andava pelos interiores do Pará com uma moto, e ele disse que já fez isto no pneu da moto algumas vezes, e quando não tinha como encher, recheava o pneu com capim....

domingo, 31 de agosto de 2014

O coco

No Rio Grande do Norte, indo de João Câmara para Touros, onde gastamos umas 8 horas para percorrer 60 km de areia e costelas-de-vaca, logo depois daquela curva onde encontramos o asfalto da BR-101, vimos muitos coqueiros plantados e carregados de cocos, sendo que apenas um deles estava do lado de fora da cerca. A Ilda, que não dispensava nem goiaba verde, encostou a bicicleta no coqueiro e pegou este coco. Para abrir, quase destruiu o canivete. Mas valeu a pena. Faltavam apenas 10 km de asfalto para Touros, onde fomos recebidos e tratados com muita mordomia pelo pastor José Aprígio.

Passeio com a minha mulher

A primeira vez que a Ilda foi de bicicleta comigo para Marudá fez parte de uma preparação para uma viagem maior que faríamos brevemente (a nossa lua de mel).
Saímos da casa da tia Maria, lá na Av. Augusto Montenegro, ainda escuro e viemos pela estrada do Tapanã, hoje Mário Covas. Apesar de estar acostumado a fazer o percurso sozinho, aquele dia foi mais comprido. 



Lembro que na primeira meia hora eu arremedava os galos que anunciavam a chegada de um novo dia.
As duas bicicletas com catraca 24, fomos andando só na manha, tomando todos os cuidados para ela não ficar cansada. Acho que gastamos mais de 5 horas para ir até Castanhal (73 km). Lá chegando, bem naquela subida onde está um Cristo Redentor, estourou o pneu dianteiro da bicicleta da Ilda. Era exatamente o dia em que a Caloi Cruiser dela estava completando um ano  de uso. Entramos numa rua à direita, a rua do campo do Vila Nova, e encontramos uma oficina onde conseguimos outro pneu novo (Dunlop).
No trecho entre Castanhal e a entrada para Curuçá, paramos para tomar banho em alguns igarapés (tem um bocado). Em Terra Alta, fizemos uma merenda num comércio.
Faltando uns 30 km para Marudá, a Ilda viu um bocado de Muruci (Murici) bem amarelinhos. Ficou comendo de montão. Eu comi só alguns. Quando voltamos a pedalar, começou a escurecer. Ela, então, começou a acelerar, e eu não consegui acompanhar. Falei a ela que, se quisesse, poderia ir sozinha na frente, mas chegaria no escuro do mesmo jeito. 
Ela resolveu seguir comigo, na manha. Sem ver o chão direito, andamos mais devagar ainda. Depois de Marapanim, passamos por um pequeno trecho de barro antes de uma ponte. Chegamos lá na casa da Mundica (sogra) às 8 e tanto da noite. Fiquei sabendo que algumas pessoas haviam apostado que a Ilda não aguentaria o percurso.... No entanto, ela ainda foi dançar no brega e eu, cansado, fiquei na rede descansando .
No dia seguinte, para retornar a Belém, saímos muito cedo, numa madrugada muito escura. Lembro que em alguns lugares havia pessoas deitadas na pista esperando ônibus, mas, felizmente, pudemos perceber e evitar acidente. Quando começamos a ver o chão, estávamos chegando naquela encruzilhada para Curuçá.

Depois, o vento a favor veio e nos facilitou a volta.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Bicicleta para estrada do LauroFiss2

Quando converso sobre as minhas andanças, muitas pessoas acreditam que tenho uma bicicleta especial para estrada.
Já houve tempos que eu tinha duas bicicletas, mas o modelo nunca mudou.

Bicicleta de ferro, garupa com caixa, rodas de ferro, raio grosso. Por conta da má qualidade das bacias e cones,  uso rolamentos na roda traseira. Pneus, de preferência, 1.9 ou aproximado (20 a 25 reais), uso por 6 a 10 mil km. Corrente, a mais barata (5 reais), rodo mil km (15\20 dias)  e troco. Coroa tripla e catraca de no máximo 7 marchas uso até estragar (milhares de km). Freios de garra, ultrapassados, mas com eficácia suficiente para a velocidade que ando (entre 15 e 20 km\h). Para-lamas, um pedaço de forro PVC.
Última vez que lavei a bicicleta foi no século passado (para dar uma pintura a dedo).


Nas fotos, eu e a minha bicicleta atual (quadro de Monark barra circular). Tem mais duas assim em casa, com caixa e tudo, uma da minha mulher.

domingo, 17 de agosto de 2014

A primeira bicicleta


Já com dez anos de uso, em 1983, no alto do morro da TV, em Florianópolis, tirei esta foto.
Lá embaixo, uma parte da cidade e a  ponte Hercílio Luz, à direita e ponte nova à esquerda.  Naquele tempo eu ainda tinha curiosidade para conhecer cidades.

A máquina era uma Kodak 11, comprada da Sonora pelo reembolso postal. 

domingo, 3 de agosto de 2014

A SERRA DE CURITIBA


Na primeira vez em que passei pelo Paraná, em 1983, indo de Joinville para Curitiba, cheguei a um  ponto da estrada em que a bicicleta estava pesada e não embalava. Eu estava numa reta e não conseguia entender.
Depois de alguns minutos, passou um caminhão Mercedes, motor 1113, cheio de tijolos, muito devagar, e o motor roncando muito. Como eu estava devagar, fiz um esforço e, ao  emparelhar com o  caminhão, agarrei em uma corda e fui a reboque.
Só então comecei a desconfiar estar numa subida. O caminhão demorou tanto para chegar lá no alto que, quando chegou e começou a ganhar velocidade, soltei a corda e senti todo o meu braço anestesiado; quase que a mão esquerda não encontrou o guidom.
Já contei isto para vários caminhoneiros. Alguns confirmaram que serras que tem longos trechos de reta dão a ilusão de a estrada ser plana. Dizem que, lá perto de Barreiras, na Bahia, tem uma descida que parece suave; os caminhoneiros desatentos descem na banguela para aproveitar e, quando querem diminuir a velocidade, não conseguem, e sofrem acidente lá na curva.

Vinte anos depois, indo de Curitiba para Joinville, num domingo à tarde, tive a oportunidade de confirmar que era mesmo uma longa descida. Depois de umas 3 curvas, uma longa reta surgiu, e, sem pedalar, a bicicleta ganhou velocidade, acredito que uns 50\60 km por hora. Vários caminhões descendo devagar, com freio motor, eu passando por eles na pista, e os veículos menores e motos passando por mim. Lá no meio da descida vi uma saliência na pista. Não tive coragem de frear. Fiz posição de jóquei e a bicicleta nem pulou. No final de descida, quando a bicicleta perdeu velocidade, parei no acostamento para beber água. Eu estava ofegante, apesar de estar a mais de dez minutos sem pedalar. Dizem que é por causa de uma  tal adrenalina...

quarta-feira, 30 de julho de 2014

CARTA PARA TUTÓIA


Em 2007 fiz o meu último passeio com mais de 1000 km.
Estava eu jogando dominó com alguns colegas perto de casa e falei que estava com vontade de dar uma volta de bicicleta de uns 2000 km, pois eu visualizei uma folga no trabalho de mais ou menos duas semanas.
Um dos parceiros, o Nilsão, perguntou se eu não poderia levar uma carta para a irmã caçula dele que estava morando em Tutóia,  lá no cantinho do Maranhão, pertinho de Parnaíba.
A distância até Tutóia, 1.070 km, encaixava no meu projeto. Aceitei a encomenda. Ajeitei minhas coisas e levei 150 reais para gastar no percurso, e, se o dinheiro não fosse suficiente, eu já tinha muita prática em viver sem dinheiro.
No primeiro dia fui até Santa Luzia do Pará (200 km). No segundo, Santa Luzia do Paruá-MA (+ 200 km). No 3º, Igarapé do Meio  (+200 km). No 4º, Itapecuru-Mirim (+118 km). Neste dia o vento contra dificultou o meu deslocamento. Tive dificuldade para urinar, sendo que só consegui depois de beber 3 copos de cerveja como se fosse água. Em Miranda, uma mulher da lanchonete onde parei falou que, quando faz muito calor, ela não consegue urinar, e, pesquisando na internet, posteriormente, pude comprovar esta relação entre calor e dificuldade. Em Itapecuru-Mirim, no posto de gasolina onde dormi, estava um grupo de vendedores de redes, gente de Catolé do Rocha e São Bento-PB. Um deles, ao notar minha falta de habilidade para colocar a rede, me ajudou e a instalou com incrível destreza. Porém, uns 20 minutos após todos estarmos deitados para dormir, uma rede escapou e caiu; era a do vendedor que me ajudou.
 No 5º, Chapadinha. Neste dia, também, vento contra. Entrei em Vargem Grande com vontade de comer. No mercado público, já depois do meio-dia, perguntei onde poderia encontrar uma refeição. Uma senhora perguntou se poderia ser ovo frito com farinha e eu disse ¨sim¨. Assim que comi, senti as minhas baterias sendo carregadas do mesmo jeito que numa outra viagem que ganhei também ovos com farinha perto de Chapadinha. No posto de gasolina, em Chapadinha, à noite, liguei a cobrar para minha casa e pedi para mandarem uma mensagem para o telefone celular da irmã do Nilsão, informando que eu chegaria lá ¨depois- de- amanhã¨, mais ou menos ao meio-dia. No 6º dia, dormi num posto de gasolina num lugar chamado Fazenda Mamorana, e, no sétimo dia, faltando uns 70 km para chegar em Parnaíba, entrei à esquerda, passei por Canabrava e Barro Duro e cheguei em Tutóia poucos minutos depois das onze horas. Da minha casa até aí, só asfalto.
Encontrando a residência da irmã do Nilsão, entreguei a carta e perguntei se ela havia recebido a mensagem no telefone celular. Ela, estranhamente, disse que não havia recebido nada, mas  esclareceu que a tal mensagem levaria mais uns 3 ou 4 dias para chegar. A operadora era uma tal de Amazônia Celular. Disse, também, que usar telefone interurbano era quase impossível. Quando precisava ligar para alguém em outra cidade, pedia aos vendedores que visitavam o seu comércio para ligarem por ela quando retornassem a algum lugar onde o telefone funcionasse...
Moral da história: uma bicicleta velha pode ser mais rápida que uma mensagem via celular....
A  irmã do Nilsão estava recebendo visita de um pessoal da Igreja. Falei a ela que queria aproveitar ainda o restante do dia para começar a voltar para Ananindeua. Ela me indicou um restaurante próximo, disse para almoçar por conta dela e nos despedimos.
Almocei e fui direto ao local onde havia umas Toyota 4x4 que levavam as pessoas para Paulino Neves, a uns 30 km de Tutóia. Saí às 16:30 e cheguei ao anoitecer. Apesar de ser pequena a distância, havia muita areia na estrada e seria complicado pedalar. Paguei 5 reais.
Em Paulino Neves, lá mesmo onde desci, comprei iogurte e biscoitos e perguntei onde poderia encontrar outra Toyota que fosse para Barreirinhas.  Indicaram a residência do dono de uma Toyota, lá no fim da rua, e lá fui eu, já no escuro. Lá chegando, pediram que aguardasse a chegada dele, sendo que esperei só uns 10 minutos. Paguei logo a passagem para saída no outro dia bem cedo (10 reais). Perguntei por que de Tutóia  para Paulino Neves o preço era só 5, e ele disse que a distância para Barreirinhas era maior. Ele me convidou para jantar e depois fomos dormir, ele com a família e eu na Toyota.
Às quatro horas ele me acordou. Tomamos café e saímos. Andamos uns 20 minutos pela pequena cidade pegando passageiros e seguimos para Barreirinhas. Não havia estrada. A Toyota, além de ser 4x4, tinha os pneus mais largos e o percurso era por uma infinidade de dunas, muitas vezes passando de raspão ao lado de pequenas árvores, sendo que tínhamos que cuidar para não sermos atingidos por algum galho. Às vezes a Toyota encalhava e não conseguia avançar na areia. Então, engatava a ré, e voltava com mais força para vencer o trecho mais difícil. Chegamos em Barreirinhas às 8:10.
Entrei num mercadinho, comprei alguma coisa para comer e saí no rumo de São Luís, com vento a favor, sendo que consegui ir até Rosário, onde cheguei uns 30 minutos depois de anoitecer. Dormi num posto de gasolina.
No 9º dia, faltando 60\70 km para São Luís, contra o vento, andei com dificuldade e cheguei ao porto da balsa às 11 horas. A balsa já estava pronta para sair e a entrada acabava de ser fechada. Fui com pressa ao guichê para tentar comprar a passagem. Um guarda perguntou para onde eu queria ir. Disse a ele ¨Belém¨. Ele liberou a entrada e disse que não era necessário pagar!  Esta travessia era para um lugarejo chamado Cujupe e durou mais ou menos uma hora. A balsa era da Marinha do Brasil.
Descendo da balsa, andei mais uns 80 km e cheguei a Pinheiro, onde passei a noite na casa do Sr. Ubaldo, conhecido de outras viagens.
No 10º dia, entre Maraçumé e Cajueiro, parei para ajudar a dois caminhoneiros a colocar um muito pesado motor elétrico que havia caído no asfalto e que eles não tinham força para levantar. Eu, com a minha desprezível força, ajudei e conseguimos colocá-lo de volta no caminhão. Insistiram muito em me dar uma carona, mas eu falei que já estava perto de casa...
Em Cajueiro fiz uma rápida visita ao Sr. Zé Fortino, visita obrigatória em todas as minhas passagens pelo lugar. Fui dormir no posto Pombal, em Gurupi, na divisa com o Pará.

No 11º dia, fui até Santa Maria do Pará (+ 180 km). E, no 11º dia, mais 100 km,  cheguei de volta para a minha casa.

domingo, 27 de julho de 2014

PANELADA x ARROZ COM CARNE

Em 1984, em Piripiri-PI, depois de pedalar desde Tianguá, dei umas voltas pela cidade e pedi alguma coisa para comer em algumas residências. Ganhei laranjas, bananas, bolachas, cajuína, prato com arroz+carne+ovos fritos, café, leite, cuca, pão torrado.
Ao anoitecer, numa praça que ficava em frente à igreja,   fiquei conversando com os motoristas de táxi. Eles fizeram uma vaquinha e me deram 2.005 cruzeiros. Indicaram o mercado público para comprar uma refeição. Lá chegando pedi um prato chamado de panelada. Custou 1.000 cruzeiros. Tinha arroz, carne, tomate, cebola e outras coisas mais. Uma refeição saborosa e muito nutritiva.
Alguns dias depois, em Teresina, ao sair de uma casa onde fiquei hospedado com muitas mordomias, ganhei mais 5.000 cruzeiros.
No Maranhão, na entrada para Codó, num lugar chamado de ¨17¨, vi umas barracas com mesas e panelas. Era início da tarde. Perguntei se tinha comida, e a mulher disse ¨panelada¨. Pedi um prato, e, para minha surpresa, quando o prato chegou, tinha um monte de arroz de uns 10 cm de altura e um pedacinho de carne em cima. Comi a carne e uma parte do arroz...
Numa outra viagem, num posto de gasolina perto de Zé Doca, fui jantar num restaurante do outro lado da estrada. A mulher disse que havia  carne assada ou peixe. Pedi peixe.  Veio o prato com um monte de arroz e um pedaço de peixe em cima.
E, numa outra, em Santa Tereza do Paruá, também no Maranhão, um senhor me convidou para  almoçar, pois sua mulher estava preparando um frango. Quando chegou a comida, era um monte de arroz e um pedaço de frango em cima.

Será que um monte de arroz com um pedaço de carne é ¨comida de maranhense?¨.

Pedalar...Comer...Beber nas viagens de bicicleta

Quando faço percursos em que fico mais do que  duas  horas  pedalando,  é fundamental beber água em intervalos de 20 a 40 minutos. Mesmo bem alimentado,  a não reposição de água compromete muito o rendimento físico. É semelhante ao motor de um carro que fica com o radiador vazio; o tanque pode estar cheio de combustível e tudo funcionando muito bem, mas a falta de água faz o motor falhar.
Por outro lado, comer não é tão necessário. A energia que se usa para pedalar não vem apenas do que comemos, mas grande parte vem do oxigênio que respiramos. E, quando o corpo não tem mais energia dos alimentos, ele as retira dos próprios tecidos.
Posso pedalar, desde que não com muito esforço, por mais de 15 horas, só com água. O corpo  vai perdendo o vigor, mas a disposição não diminui. Só fica mais difícil se eu parar de pedalar por mais de 15 minutos, pois aí a tal de fome vai se manifestar. Enquanto o corpo estiver se exercitando, a fome fica quieta e não incomoda. E, se parar para comer, se não for só um pouquinho,  não conseguirei pedalar bem, pois a digestão vai atrapalhar.
Se houver muita perda de sais minerais, uma pitadinha de sal e açúcar na água podem evitar aquela canseira parecida com pressão baixa...

Estes comentários todos tem fundamentação científica, mas isto eu aprendi com as minhas próprias  andanças.

Dormir nas viagens de bicicleta

Na minha primeira viagem de Venâncio Aires-RS até Belém-PA, sem dinheiro, quando não havia uma pessoa indicada a quem eu pudesse pedir, ou quando ninguém me oferecesse um lugar para dormir, eu ia, como primeira opção, à delegacia de polícia. Mostrava os documentos, explicava minha situação e então conseguia lugar para dormir. Em muitas delegacias ficava trancado numa cela, separado dos outros presos, e era solto ao amanhecer. Dormia no chão, o que não era difícil para quem pedalava o dia inteiro. Muitas vezes me deram uma rede para dormir, mas eu achava muito desconfortável e preferia o chão mesmo.
Em outras, nem pareciam delegacias, dormia na cama, com lençol e tudo. Tinha TV, passarinhos na gaiola, geladeira, igual a uma residência comum.
Em outras, dormia dentro de algum carro que estivesse estacionado na delegacia.
Algumas vezes dormi em quartéis de polícia ou de bombeiros onde fui sempre muito bem recebido pelo comandante.
Na minha lua de mel, viajando de Belém a Venâncio Aires, achando eu que ficaria meio estranho pedir para dormir na delegacia com a mulher, quando não havia opção eu pedia para dormir em algum hotel. Sempre consegui, mas perdia tempo na manhã seguinte porque tinha de esperar para agradecer e algumas vezes saímos depois das 8 horas.
Antes desta viagem eu já havia aprendido a dormir em rede e levávamos duas na bagagem.
Num destes dias, no Maranhão, entre Peritoró e Caxias, ao escurecer, ficou difícil para andar por causa do acostamento ruim e do ofuscamento provocado pelos faróis dos caminhões e carros. Pedi para dormir numa casa à beira da estrada e fomos recebidos e tratados tão bem que resolvemos repetir o procedimento mais à frente, em vez de ir a algum hotel. E, em todas as vezes que pedimos um lugar para dormir à beira da estrada, fomos bem sucedidos.
Mas, quando saímos do Sergipe e entramos na Bahia, as pessoas negavam abrigo, chegando até a dizer que não moravam na casa onde estavam.
Assim sendo, começamos a dormir em postos de gasolina, a melhor opção para comer\beber\dormir, banheiro, lavanderia. Desde então, até os dias atuais, a minha opção preferida. Inclusive acho melhor que  visitar alguém conhecido.
Já estive em postos cujos funcionários são instruídos a não permitir a permanência de ¨andarilhos¨.

Em todos os casos, quando não há opção, peço orientação para qualquer pessoa que encontrar pelo caminho, e, via de regra, o resultado é bom.  

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Rio Guamá X Rio Capim


O Rio Guamá, olhando no mapa, nasce perto de Garrafão do Norte e se junta ao Rio Capim próximo a São Domingos do Capim.
O Rio Capim, por sua vez, nasce perto de Açailândia, no Maranhão, é muito mais longo  e tem muito mais água que o Guamá.

Já comentei isto com muitas pessoas, mas ninguém sabe a razão de o Rio Guamá, por ser o menor, não ser afluente do Capim.

Passeio Santana do Capim


Em fevereiro de 1996 ou 1997, resolvi dar uma volta pras bandas de São Domingos do Capim. Num sábado, depois de pedalar uns 40 km, pouco antes de Americano, parei no comércio ¨Gwel¨ para fazer um lanche. Biscoito com refrigerante. Na saída, ao saber que meu passeio duraria dois ou três dias, o comerciante deu um pacote de mais ou menos 1 kg de fritas, sendo que com isto me alimentei durante quase todo o dia. Depois de passar por Castanhal, mais uns 15 km, entrei para a direita, caminho novo para a minha bicicleta. Da BR até São Domingos do Capim eram 45 km. Asfalto, movimento de 1 veículo a cada 5\10 minutos, nada urbano no caminho, do jeito que eu gosto. No último trecho, o asfalto acabou e,  no final de uma longa e suave descida de piçarra, cheguei à beira do rio. Travessia de balsa até a cidade. Lá na cidade, ainda perto da balsa, fiz um lanche servido por uma senhora que me disse que era mãe de um funcionário da Casa São Domingos, uma loja de armarinhos que eu costumava freqüentar em Belém. Perguntei a ela sobre a estrada a partir de lá e ela informou que eu poderia seguir para um povoado a 26 km (Perseverança), e de lá poderia seguir para a rodovia Belém-Brasília. E lá fui eu. Estrada de piçarra, subidas suaves, movimento zero. Lá no povoado, num comércio que ficava na esquina principal, o homem falou que eu poderia ir para Mãe-do-Rio  ou  Santana do Capim, e que a distância para qualquer um destes lugares era também 26 km. Escolhi Santana do Capim, uma vez que Mãe-do-Rio eu já conhecia. Pedalei pouco menos de 2 horas, e cheguei. Um pequeno povoado à beira de um largo Rio Capim. Comprei alguma coisa para comer, subi na balsa e pendurei a rede numa grande casa de madeira que ficava à direita de quem desce da balsa.
No outro dia, faltando 15 minutos para clarear,saí no rumo de Vila Concórdia, 24 km. Passei por uns 2 ou 3 trechos de atoleiro. Antes das 8 horas eu já estava numa padaria em Vila Concórdia, merendando e conversando com pessoal que se dizia admirado da minha disposição. De Vila Concórdia até a entrada para Bujaru eram 11 km. Neste trecho, asfaltado, comecei a sentir dor de barriga e por duas vezes saí da estrada com diarréia. Comecei a suar gelado e ter de sair da estrada de meia em meia hora. Acho que estraguei o fígado com aquele pacotão de fritas que ganhei. E o pior, cada vez que eu saía da estrada por causa da diarreia, só encontrava lugares cheios de formigas. Mesmo em condições desfavoráveis como uma fraqueza com febre, sou muito  persistente. Continuei andando do jeito que era possível. Só os 11 km a partir de Vila Concórdia eram asfaltados, e o resto era piçarra.

 Na estrada para Bujaru, no km 42, sendo novamente assediado pela tal diarreia, vi uma mesa de bilharito e um comércio e fui direto para lá. Encostei a bicicleta e logo declarei a minha situação, sendo que o comerciante indicou o WC a poucos metros dali, para onde segui imediatamente e fiquei aliviado por ter me aguentado. O papel higiênico, aliás, era revista de mulher pelada. Depois de aliviado, no comércio, perguntei se  tinha um Colestase ou Imosec, ao que ele respondeu que tinha só Elixir Paregórico. Comprei o vidrinho e um refrigerante, pinguei 40 gotas e tomei. Fiquei lá conversando uma meia hora e comecei a me sentir melhor. Tomei mais 40 gotas, fiquei muito muito muito agradecido e segui no rumo de Bujaru, onde cheguei no meio da tarde. Enquanto esperava a balsa para atravessar o rio Guamá, fiz um lanche. Atravessando o rio, mais 38 km de asfalto até Santa Izabel, onde cheguei uns 10 minutos depois de anoitecer. Naquela grande praça que fica no centro, fiz mais um lanche e saí no rumo de casa, mais 32 km, pelo acostamento, devagar, aproveitando a luz dos muitos carros que voltavam para Belém no final de domingo. Após ter andado uns 2 km, na saída de Santa Izabel, uma menina de uns 12\13 anos, que caminhava no acostamento, pediu uma carona. Magrinha, sentou-se no tubo superior. Falei a ela para dizer quando  quisesse descer e ela disse ¨tá¨. Depois de andar com ela por uns 6 km, perguntei onde ela queria descer e ela respondeu que iria para Icoaraci e que pegaria outra carona no lugar onde eu a deixasse. Indaguei se ela não tinha medo de um estranho como eu querer mexer com ela e ela respondeu ¨pode mexer porque eu já sou mulher..¨. Icoaraci está aproximadamente a 50 km de Santa Izabel. Chegando em Marituba, já a 9 km de casa e a uns 30 da casa dela, deixei-a numa parada de ônibus e dei dinheiro para pagar passagem até Icoaraci. Cheguei em casa depois das 21 horas.

domingo, 8 de junho de 2014

Viagem Belém-Parnaíba-Natal (parte 3 de 3)

Décimo segundo dia. Fui  no rumo  de  Aracati.  Próximo da entrada para Beberibe,  o  vento  começou  a   incomodar  e  só  mudou  quando  passei  na  entrada  da  praia  do  Fortim,  já  no  final  do  dia.  Neste  dia  vi  uma  usina  de  sal,  salinas  à  beira  da  estrada,  uma  fábrica  de  rapaduras.  Vi  também  muitos  restaurantes\lanchonetes  para  turistas.  Pedi  algo  para  comer  numa  delas.  Todos  os  que  trabalhavam  lá  pareciam  adolescentes.  Mandaram falar com  o  gerente.  Um  menino.  Ele  mandou  preparar  um  lanche  com  tudo  de  bom,  entregou  na  minha  mão  e  disse, com incrível  educação,  para  eu  levar  e  comer  mais  adiante, pois  a  empresa  não  gosta  que  mendigos  permaneçam  nas  dependências... Agradeci  pela  merenda  e   pelo  atendimento.  Mais adiante,  numa  outra,  pedi  também,  e  fui  igualmente  bem  tratado,  já  com  pessoal  mais  adulto,  e  com  menos  formalidades.
À noitinha,  na  entrada  de  Aracati,  fui  ao  borracheiro  e  pedi  a  ele  que  colocasse  o  pneu  reserva  que  eu  tinha  levado,  pois  o  traseiro,  embora  novo,  estava  com  um  calombinho e   eu  sabia  que  ele  duraria  menos  de  400 km. Deixei   o  pneu  com  calombo  lá  na  borracharia,  agradeci , e  passei  por  Aracati  pela  estrada  que  circunda  a  cidade  e  fui  dormir  num   posto  de  gasolina  que  fica  na  entrada  para  Canoa  Quebrada.  Havia  uns  carros  com  grandes  caixas  de som   fazendo  um  barulhão  no posto,  o  que  me  deixou  muito  chateado,  mas  um  andarilho  cansado  sempre  consegue  dormir.
Décimo terceiro dia.  O motorista da carreta onde eu estava com a minha rede pendurada estava batendo os  pneus  quando acordei e levantei. Agradeci, tomei café na lanchonete e entrei na estrada no rumo de Mossoró.  Estrada  sem subidas  mais  fortes,  acostamento  ruim,  mas  com  movimento  até  calmo.  Vento contra   vindo  da esquerda.  Muitos   cajueiros, algumas  perfurações (parecia  de  petróleo). Na  entrada  para  Icapuí ,  parei  para  fazer  uma  merenda  num  restaurante,  onde  a  dona  me  conhecia  desde  1987,  quando  ela  serviu  café  para  eu  a  minha  mulher;  naquela  oportunidade  estávamos  em  lua-de-mel  indo  de  bicicleta  para  o  Rio  Grande  do  Sul.  Em  1998 ou 1999, mais  de  dez  anos  depois,  numa  outra  vez  que  passei  por  lá,  só  fui  no  orelhão,  do  lado  de  fora,  e  ela  veio  lá  de  dentro  conversar  comigo  por ter  reconhecido  a  minha  voz....
Seguindo  viagem,  desconfiei  que o pneu traseiro estivesse furado,  mas continuei.  Passei a fronteira  com o RN  e  o  vento  começou a ficar mais forte.  Num  trecho  de reta, faltando uns 15 km para  Mossoró,  o pneu traseiro esvaziou. Parei para trocar a câmara. Não faço remendos. Prefiro levar câmaras de reserva, uma para cada 1000 km. Péssimo mecânico, gastei mais de 40 minutos só para encontrar e tirar do pneu aquele aramezinho fino como um cabelo.  Isto foi naquele sol  de meio-dia, pois no trecho só havia aquele mato nordestino sem folhas e cheio de espinhos.... Depois, em Mossoró, ainda  fui  a uma oficina de bicicletas, mas não lembro o que fiz lá. Pedi ¨merenda¨ num  mercadinho  e  numa  padaria, atravessei a cidade  e  pedalei   até o final do dia, quando entrei no posto de gasolina ¨Zé da Volta¨, me sentindo mais cansado do que nos dias anteriores.  Ganhei um PF e pendurei a rede para dormir entre duas árvores.
Décimo quarto dia.  Saí do posto  com  vento  a  favor,  mas,  pouco  adiante,  quando fiz uma curva para a esquerda  acabou  a  moleza.  À medida que eu me aproximava de Açu, as subidas pareciam ficar mais difíceis.  Segui  andando  preguiçosamente,  cansado  como  nunca.Num posto de gasolina uns 5 km antes de Açu, parei um bocado de tempo para descansar e comer. Não lembro o que comi.  Continuei,  subida após  subida,  e acabei entrando em Angicos. Fui à casa de Manoel João e Dona Severina, onde já estive todas as vezes em que passei por Angicos (umas 5 ou 6). Colocamos a conversa em dia.  Foi um descanso providencial. Após o jantar, fui dormir cedo.
Décimo quinto dia.  Pão, leite, cuscuz, ovos. Bem alimentado,  me despedi do pessoal e saí de Angicos lá pelas 8 da manhã, mais tarde do que o costume. Em condições normais, havia possibilidade de chegar até o destino final, Muriú, uma praia localizada uns 40 km ao norte de Natal.  Neste dia fui vencido pelo vento. Para chegar até um posto de gasolina perto de Lajes, mais ou menos 40 km de  distância, gastei mais de cinco horas. O que ficou bem memorizado no trecho foi a vista daquele estranho  e bem redondo morro, que recentemente, soube que é um vulcão extinto.  No posto fiquei descansando até as 15:30 e depois  percorri mais 28 km em 3 horas, quando cheguei ao  próximo posto de gasolina, em Caiçara do Rio dos Ventos.  E, como se tanto vento não bastasse, o único lugar que encontrei para pendurar a rede foi entre duas torres metálicas que distavam 10 metros uma da outra. Usei as duas cordas  que levava e a rede ficou a 10 cm do chão. O vento não sossegou, nem por um segundo, a noite inteira.  A rede, amarrada, queria sair voando como uma pipa. Mesmo assim, passando um pouco de frio, consegui dormir razoavelmente.
Décimo sexto dia. Restando mais ou menos 100 km, certo de que nenhum vento mais iria me derrotar, saí confiante.  Fui seguindo no rumo de Natal. Num povoado chamado Santa Maria, entrei à esquerda e fui  na direção de Cerá-Mirim. Tendo saído da BR, o movimento de carros ficou quase zero e ficou do jeito que eu gosto: eu e a estrada. Uma chuva de 15 minutos   caiu só  para  que  eu  a  registrasse.  Passei  em  Ceará-Mirim  ainda antes do meio-dia,  providenciei água e  alguma coisa para comer,  atravessei  a  cidade.
Depois daquela  descida  na  rua  que  sai  para  Touros-RN,  passei  por  cima  dos  trilhos,  uma  ponte de pedra e uma usina de cana,  andei  uns 2 ou 3 km e peguei à direita,  no  rumo  do  litoral. A estrada  era  plana  e  as  mudanças  de  direção  tornavam  a  resistência  do  vento   mais  tolerável.  Alguns  povoados  aqui  e  ali,   até  que, por  fim,  após  uma  mudança  de  direção   de  90  graus  à  esquerda  após  um  último  povoado,  andei  alguns  km  com  estrada  calçada  com  paralelepípedos,  sendo  que  a  maior  parte  foi  por  caminhos  alternativos   às  margens,  para  a bicicleta  pular  menos.
Atravessei  a  BR-101,  que  liga  Natal  a  Touros,  e,  mais  uns 4 ou 5 km,  entrei  em  Muriú, destino  final  da  viagem,  onde  me  hospedei  na  casa  do  Pastor  José Aprígio,  um homem cuja  biografia  daria  uma  obra  e  tanto.
Depois  de  alguns  dias  descansando  e  desfrutando  de  muita  mordomia,  voltei  para  casa  de  ônibus,  sendo  que  fiquei  de  voltar, também  de  ônibus,  no  próximo  ano  para  fazer o  retorno  de  bicicleta para  Belém.
Depois  que  voltei  a   Belém,  apareceu uma tal de  gripe  recolhida  e  a  distensão na virilha  só  ficou  curada  no  final  de  abril.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Viagem Belém-Parnaíba-Natal (parte 2 de 3)

No  quinto  dia,  de  Arari ,  passando  por  Miranda,  entroncamento,  Itapecuru,  João Leite  e  Vargem  Grande,  com  vento  contra,  fraqueza,  virilha   incomodando,  me  superei  e  cheguei  até  a  Placa,  um  povoado  de  meia  dúzia  de  casas,  bem  na  entrada  para  Urbano  Santos,  uns   40  km  antes  de  Chapadinha.  Num  barraco  de  chão de areia,  paredes  de  barro  e  telhado de  palha,  uns 5 m de largura  por  uns  15  de  comprimento,  conversei  com  um  pessoal  que  estava  jogando  dominó  e  pendurei  a  rede  lá  no  fundo.  Quando  acordei,  meia  noite  e  tanto,  estavam,  além  de  mim,   mais  3  pessoas  deitados  em  redes,  esperando  para  pegar  condução   ao  amanhecer.
No  sexto  dia,  sem  ter  o  que   comer   nem  onde  comprar,  saí  no  rumo  de  Chapadinha,  ainda  antes  de  clarear,  e  num  comércio,  a  uns  4  km  antes  da  cidade,  pedi  algo  para  comer.  Me  deram  ovo  frito  com  farinha;  senti  as  minhas  baterias  carregarem  rapidamente.  Fiquei  impressionado.  Depois  de  subir  dois  morrinhos,  fui  a  um  posto  de  gasolina ,  fiz  mais  uma  merenda. 
Seguindo,  a  estrada  ficou  mais  suave  e  o  vento  acalmou.  Passei  Anapuru,  Brejo,  Santa Quitéria.  De Santa Quitéria  para  São  Bernardo,  uns  morrinhos  bem  difíceis.  Cada  um  que  subia, de  coroa  28  e  fazendo  zigue-zague,  eu  ficava  ofegante.  Quando  entrei  na  cidade, ao  descer  o  último  morro,  sentei  numa  calçada  alta,  ao  lado  da  Delegacia  de  Polícia,  e  contei  o  tempo  até   ficar   com  a   respiração  normal:  14 minutos!
Ganhei  dois  pedações  de  bolo  + café com leite  numa  casa  do  outro  lado  da rua.  Me  senti  animado  e  andei  mais  uns  30  km  até  um  posto  de  gasolina (Mamorana),  onde  ganhei  janta,  tomei  banho,  e  pendurei  a  rede  para  dormir.  Fui  tão  bem  tratado  que  quase   encabulei.
No sétimo  dia,  fui  até  Parnaíba.  Dei  umas  voltas  pela  cidade,  procurei  por  um  tal  de  Carlinhos  que  era  primo  de  um  outro  Carlos,  de  Belém.  Lá  pelas  5  da  tarde,  já  anoitecendo,  numa  praça  no  centro,  conversando  com  uns  motoristas  de táxi,  havia  uns insetos  dando  umas   ¨mordidas¨ dolorosas.  Perguntei  o  que  era  e  disseram  que  eram muriçocas.  Ao  perguntarem  se  não  havia  em  Belém,  respondi  que   eu  nunca  tinha  encontrado  em  nenhum  dos  quase  20  Estados  onde  já  passei  de  bicicleta.
Os  taxistas  conheciam  o  Carlinhos  que  eu  procurava  e  me  ensinaram  onde  ele morava, próximo  a  uma  lanchonete  onde  todos  o  conheciam.  Já  no  escuro,  achei   a  casa  que  o  pessoal  da  lanchonete  indicou.  Lá  chegando,  haviam  uma  senhora  e  uma  moça, e  disseram  que  o  Carlinhos   estava  morando  lá  na  praia  do  Coqueiro,  a  uns  10  km.
Deixei  lá  o  recado  do  outro  Carlos,  e  sem  ter  onde  dormir,  fui  para  a  BR  e voltei  6  km  até  um  posto  de  gasolina,  onde  costumo  me  sentir  em  casa.  Dormi  debaixo  de  uma carreta,  onde  não  havia  muriçocas,  só  mariposas  que  não  mordiam,  só  gostavam  de  luz...  (dois  anos  depois,  numa  outra  viagem,  em  Tubarão=SC,  encontrei  as  tais  muriçocas  e  descobri  que  elas  não  respeitam  repelente.)
No oitavo  dia,   saí  do  posto  e  encontrei  muitos  ciclistas  no  acostamento  durante  os  6  km  até  Parnaíba (acho  que  estavam  indo  para  o  trabalho).  Depois,  segui  no  rumo  de  Chaval-CE.  A  estrada  ficou  mais  estreita,  com  alguns  trechos  esburacados,  mas  nada  que  dificultasse  uma  bicicleta  andando  a  impressionantes  15 km\hora...  Num  povoado  onde  havia  uma  saída  para  Luís  Correa,  pedi  algo  para  comer  numa  casa.  Não  lembro  o  que  ganhei,  mas  fui  convidado  insistentemente  para  ficar  lá  por  uns  dias,  pois  eles   costumavam  hospedar  viajantes  e  gostavam  muito  disto.  Expliquei  que  minha  viagem  tinha   um  tempo  limitado ,  agradeci  a  oferta  e  segui.  Quando  passei  a  fronteira  Piauí\Ceará,  o   asfalto,  mesmo  sem  buracos,  ficou  bem  aspero.  Asfalto  primário, informava  uma  placa.  Chegando  em  Chaval,  um  cidade  pequena,  numa  rua  com  calçamento  de  pedras  irregulares,  pedi  algo   para  comer  numa  residência.  Uma  senhora  idosa  e  seu  neto  me  serviram  um  lanche  e  disseram  admirarem  a  minha  coragem  e  se  ofereceram  para  me  ajudar  em  mais  alguma  coisa  se  necessário.  Era  muita  mordomia  para  o  meu  padrão.  Seguindo  viagem,  o  vento  começou  a  se  opor  com  mais  intensidade.  Em  Barroquinha,  já  na  saída,  entrei  num  restaurante  à  beira  da  estrada  e  pedi  para  encherem  minha  garrafa  com  água. 
Saindo  da  cidadezinha,  fazendo  muita  força  contra  o  vento, andei  uns  2  km  em  10  minutos.  Um  carro  encostou  ao  meu  lado  e  um  casal  me  convidou  para  voltar   e   almoçar  lá  no  restaurante.  Eles  estavam  lá  numa  mesa  e  ficaram  curiosos.Aceitei  o  convite  e  voltei.  Comecei  a  comer.  Primeiro  a  salada.  A  mulher  perguntou  se  eu  ia  comer  só  salada e  eu  respondi: ¨na  minha  barriga  tem  uma  gaveta  para  cada  tipo  de  comida...¨,  ao  que   ela  respondeu: ¨na  minha  também,  mas  eu  como  tudo  misturado  e  um separador  coloca  cada  tipo  na  sua  gaveta  correspondente...¨.  Era  um  casal  de  paulistas,  trabalhavam  com  informática,  e  estavam  viajando  de  férias.  Muito  bem  humorados,  o   homem  disse  que,  no  trecho  de  Teresina  até  Piripiri,  havia  tantos  buracos  no  leito  da  pista  que  havia  fila  de  espera  dos  dois  lados.
Depois  do  almoço,   retornei  à  minha  luta  contra  o  vento.  Estava  andando,  com  dificuldade,  a  10 km\hora,  tal  a  força  do  vento.  Já  faltando  uns  10  km  para  a  entrada  de  Camocim,  encontrei  um  rapaz  de  uns  25  anos  entrando no  acostamento  carregando  3  sacos  de  carvão  numa  bicicleta  Monark  barra  circular.  Conversei  com  ele.  Disse  que  o  carvão  era  o  ganha-pão  dele.  Vinha cedo de  Camocim  e  queimava  madeira  todos  os  dias para  fazer  2  ou  3  sacos  cheios  para  vender  aos  comerciantes.  A  renda,  ínfima,  era  para  sobreviver  com  a  mulher  e  dois  filhos  pequenos.  Na  entrada  para  Camocim  nos  despedi mos.  A  estrada  mudou  de  direção,  90 graus  à  direita,  e  os  24  km  até  Granja,  agora  a  favor  do  vento,   foram  percorridos  em  52  minutos.
Bem  na  entrada  da  cidade,  um  posto  de  gasolina.  Num  caminhão  pequeno  que  não  iria  sair  naquela  noite,  pendurei  a  rede  e  pernoitei. 
No  nono dia, lá  pelas  5  da  manhã,  tive  de  levantar  às  pressas  e  recolher  a  rede.  Havia  começado  a  chover  e  água  estava  escorrendo  pelas  frestas  da  carroceria (sem  carga). Me  serviram  um  lanche  e  segui  viagem.  Atravessei  a  cidade  de  Granja.  As  ruas  eram  calçadas  com  aquelas  pedras  irregulares.  Passei  numa  ponte  e  saí  por  uma   estrada  de   piçarra  bem  ruim,  sendo  que  em  algumas  partes    andei  por  caminhos  alternativos  ao  lado  da  estrada.  Mais  uns  poucos  km, entrei  num  povoado  e  perguntei  qual  o  caminho  para  Marco,  a  cidade  onde  eu  pretendia  chegar  naquele  dia. 
Me  disseram  que  o  mais  curto  era  ¨por  dentro¨,  e  indicaram  seguir  reto  no  final   daquela  rua  à  direita.  E  lá  fui  eu.  Já  na  saída  do  povoado,  uns  500m  de  areal.  E  assim  foi  durante  quase  todo  o dia.  Alguns  trechos  de  piçarra,  maioria  trechos  de  areal.  Muitas  encruzilhadas,  nenhuma  placa,  às  vezes  ninguém  para  perguntar ¨pra  que  lado...¨.  Nas  horas  próximas  ao  meio-dia,  a  areia  clara  ofuscava  a  vista  e  fritava  os  pés. Lembro  que  passei  por  cima  de  uma  pequena  ponte  de  pedra  do  tempo  do  Império,  e  também  por  dentro  de  uma  fazenda,  sendo  que  fui  orientado  a  fechar  as  duas  porteiras  pelas  quais  eu  passaria. 
Depois  das  duas  porteiras,  encontrei  uma  casinha  de  madeira.  O  homem  da  casa  me  ensinou  o  caminho  até   a  próxima  casa,  sendo  que  tomei  nota  dos  detalhes  para  não  me  perder.  Ele  disse  que  depois  da  próxima  casa  eu  não  encontraria  mais  ninguém  para  ensinar  o  caminho!  Percorri  o  caminho  e  vi  a  casa  que  indicada  no  alto  de  um  morrinho.  Subi  lá  empurrando  a  bicicleta.  Conversei  um  pouco  com  o pessoal  da  casa. O  homem  disse  que  pescava  para  viver,  num  açude  ali  perto,  e que,  embora  o  mar  ficasse  perto  da  casa  dele,  nunca  precisou  e  nunca  teve  vontade  de  ir  lá.  Perguntou  se  eu  queria  comer  alguma  coisa  e  eu  disse  que  sim.  A  mulher  dele  trouxe  dois  ovos  cozidos.  Fui  quebrar  um  deles,  mas  estava  mais  duro  que  o  normal.  O  homem  disse  que  era  ovo   de  capote , e  que  a  casca  é  mais  resistente  que  o  ovo  de  galinha.   Após  comer  os  ovos  e  encher  a  garrafa  de  água,  ele  me   ensinou  o  caminho  até  o  lugar  onde  eu  deveria  subir  um  barranco  e  entrar  na  BR.  A  BR era  uma  estrada  que   ligaria  a  cidade  do  Marco  à   estrada  de  Camocim,  mas,  diante  das  dificuldades  em  uma  região  de  baixada,  a  obra  foi  abandonada.
Chegando  na  tal  BR,  uma  estrada  de  piçarra,  andei  mais  uns  20  km  e  cheguei  a  Marco  na  boca  da  noite.  Peguei  a  esquerda   e  entrei  num  posto  de  gasolina  dentro  da  cidade.  Perguntei  se  podia  pernoitar  por  lá.  Um  funcionário  do  posto  me  conduziu  à  sua  residência,  nos  fundos  do  posto.  A  mulher  dele  preparou  um  prato  de  comida.  Pendurei  a  rede  na  cozinha  mesmo  e  lá  dormi. 
Décimo  dia.  Tomamos  café  bem   cedinho.  O  funcionário  do  posto  foi  trabalhar  e  eu  segui  viagem.  Logo  senti  a  bicicleta  leve  e  percebi  que  o  vento  estava  a  favor,  meio em  diagonal.  Asfalto  bom,  pouquíssimo  movimento.  Na  entrada de  Amontada,  antes  daquela  subida,  pedi  algo  para  comer  num  comércio  e  ganhei  um  bocado  de  bananas.  Estavam  muito  maduras.  Eram  muitas  e  eu  não  poderia  levar  adiante  pois  virariam  mingau.  Diante  da  insistência  do comerciante,  levei-as  até  o  alto  da  subida,  comi  o  máximo  que  pude,  umas  15,  e  dei   o  restante  para  dois  meninos  que  estavam  passando  por  ali.
Depois,  já  pela  tarde,  passei  em  Itapipoca,  uma  cidade  maior  que  as  outras. ¨A Cidade dos Três Climas¨.  Quase  na  saída,  ganhei  um  pacote  de  bolachas.  Seguindo  viagem,  passei  pela  entrada  para  Uruburetama  e,  mais  adiante,  parei  num  posto  da  polícia  rodoviária.  Conversei  um  pouco  com  os  guardas  que  ficaram  curiosos  e  ganhei  um  litro  de  leite  longa vida.  Já  escurecendo,  atravessei  ainda  Umirim  e,  lá  na  saída,  dormi  ao  lado  de  um  restaurante  onde  mais  de  20  pessoas  dormiram  também com suas redes  penduradas  num  espaço  aparentemente  destinado  para  ser  este  dormitório  ¨coletivo¨.

Décimo  primeiro dia.  Assim  que  pude  ver  o  chão,  segui  viagem.  Passei  por  São  Luís  do  Curu,  Croatá,  Primavera.   Só  parei  para  merendas  mínimas  e  rápidas.  Novamente   enfrentei  um  forte  vento  contrário  até  a  entrada  de  Fortaleza,  no  km  15.  Do  15,  onde  é  o  cruzamento  com  a  BR  que  vem  de  Brasília  (BR 020),  evitei  o  trânsito  mais  intenso  da  cidade  e  segui  pelo  anel  viário,  saindo  em  Messejana. Depois,  Eusébio,  e,  na  saída   de  Aquiraz,  parei  num  posto  de  gasolina,  onde  tratei  de  me  alimentar  e  pendurar  a   rede  para  dormir.