domingo, 27 de dezembro de 2015

Curioso acidente de trânsito

Meu transporte é a bicicleta. Para dar uma noção de o quanto ando, vou e volto de casa ao centro de Belém (2x21 km) perto de 300 dias por ano, sendo que a última vez em que usei um ônibus foi em 2013.

Num destes dias, no início da noite, chegando a um cruzamento muito movimentado, no final da Av. Almirante Barroso estava eu seguindo pelo meio da pista (trânsito lento), ao lado de um pequeno caminhão baú. Costumo acompanhar caminhões e ônibus lentos, pois funcionam como uma proteção lateral.

De repente, o caminhão deu uma acelerada e eu estava ficando para trás, quando, estranhamente, a bicicleta sumiu do meio das minhas pernas e eu, automaticamente, usei as pernas para não cair e fui quase caindo, como se houvesse tropeçado, e, instintivamente, fui para o lado da pista, sendo que cheguei até a calçada, onde caí e logo levantei.

A bicicleta estava lá no meio da pista, e uma moto parada ao lado, com dois rapazes. Todos os carros também pararam para ver o desfecho....

Como foi que a bicicleta saiu debaixo de mim?
Quando o caminhão acelerou e eu fiquei para trás, o “esperto” motoqueiro entrou logo atrás do baú e pretendia atravessar a pista, sendo que bateu na caixa da bicicleta. A bicicleta caiu para o lado e eu iria cair para frente, mas consegui “transferir a queda” para a calçada.

Fui lá, disse ao motoqueiro que estava tudo bem, tirei a bicicleta da pista, e o trânsito voltou ao normal. A bicicleta não sofreu danos e eu só esfolei levemente um braço.

domingo, 20 de dezembro de 2015

Minha primeira grande viagem (Recife/Goianinha-RN) (25º parte)

22/04/84 Levantei às 6h40min. Tomei café, arrumei minhas coisas, me despedi de Roque e segui viagem.

 Entrei em Olinda e bati duas fotos. Passei por Paulista, Abreu e Lima e Igarassu. A estrada era de blocos de concreto e passava por entre canaviais.

 Entrei em Goiana ao meio-dia. Pedi alimentos em algumas casas e ganhei bolachas, pão, bananas e uma manga. Comi e continuei.

Depois da divisa PE/PB, a estrada passou a ser de asfalto. Os canaviais foram sumindo. Vi muitos cajueiros.

Entrei em João Pessoa ao anoitecer. Pedi alimentos e ganhei pão, bolachas, bananas, mangas, abacates, goiabas e doce em calda. Na última casa pediram para ver meus documentos. Fiquei conversando até cair uma forte chuva que durou uns 15 minutos.

Depois, fui até Bayeux. Telefonei para mamãe no meio do caminho. Em Bayeux, procurei a delegacia de polícia, atualizei o diário e dormi às 22h30min.


23/04/84 Levantei às 4h40min. Peguei a bicicleta e segui viagem. Na estrada, muitas subidas e um longo banho de chuva. Depois da chuva, o eixo dianteiro começou a fazer ruído.

 Entrei em Mamanguape e, numa oficina, paguei o reparo com 500 cruzeiros. Sentei em frente ao prédio do correio, escrevi alguns aerogramas e despachei. Fui pedir alimentos e ganhei pão, bolachas, bolo de canjica, bananas e 200 cruzeiros. Segui viagem e suportei mais uma grande chuva.

 Entrei em Canguaretama, já no Rio Grande do Norte. Pedi alimentos em algumas casas e ganhei pão, bolachas, uma laranja e bolo de coco. Na saída da cidade, tomei um banho num posto de gasolina e segui.


 Entrei em Goianinha ao anoitecer. Pedi alimentos e ganhei pão, bolachas, bananas, uma tangerina, uma lata de sardinhas e uma laranja. Num banco da praça fiz minha refeição e conversei com alguns rapazes. Depois, fui à delegacia de polícia. Deram um colchão e dormi num alojamento. Alguns policiais dormiam em redes.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Minha primeira grande viagem (Pontezinha/Recife) (24ª parte)

15/04/84 Levantei cedo e saí.  Vi uma placa que dizia “Recife a 10 km”. Eu estava me sentindo muito fraco. Logo que entrei em Recife, procurei pelo meu amigo Roque Wagner no SRPV do aeroporto. Informaram que ele havia trabalhado toda a noite e que voltaria só em 72 horas.

Fui até o apartamento onde ele morava, na Boa Viagem. Ele estava lá. Conversamos um pouco,   tomei café. Roque  foi dormir e eu também tirei uma soneca.

Mais tarde, Roque levantou e fomos à praia ouvir música, conversar e tomar cerveja. Retornando ao apartamento, almoçamos e assistimos TV. Atualizei o diário e escrevi alguns aerogramas. No início da noite, demos umas voltas de moto. Na praça da Boa Viagem havia uma feira com pratos típicos e artesanato. Choveu. Roque comprou para mim uma banana congelada envolta em calda de chocolate (“banana zerada”). Telefonei para mamãe.

Na volta ao apartamento, tivemos de parar e esperar a chuva passar. Roque preparou ovos mexidos e jantamos. Depois.Roque foi namorar e eu fui dormir.

16/04/84 Levantei pouco depois das sete horas. Roque estava dormindo. Fui até a praia. Havia algumas pessoas correndo na beira do mar. Eu quis correr também, mas não consegui completar nem 500 metros, pois minha perna começou a doer.

Voltei ao apartamento, fiz uma refeição e escrevei mais alguns aerogramas. Roque levantou e fomos ao supermercado fazer compras. Na volta,  ajudei Roque a fazer um trabalho de aula.

À noite, Roque foi à Universidade e eu fiquei no apartamento.

1704/84 Este dia foi parecido com o anterior, só que, quando Roque foi à Universidade, eu fui junto. Assisti a uma aula de Estatística e respondi a várias perguntas do professor, sendo que, quando ele perguntou qual o curso que eu estava fazendo, fiquei todo sem graça e Roque disse que eu era um visitante....

18/04/84 Roque levantou às 5h30min e foi trabalhar. Mais tarde, levantei, fui à padaria e tomei café. Fiquei no apartamento. Roque voltou às 13h15min. Fizemos um lanche e Roque me acompanhou até o terminal rodoviário onde peguei um ônibus para São Bento do Una, onde fui visitar outro amigo, o Valdir F. Kretschmer.

A viagem durou aproximadamente 5 horas. Quando desci do ônibus, estava escuro e chovia. São Bento do Uma era uma cidade bem pequena.  A primeira pessoa que abordei logo me explicou onde mora o “galeguinho” que trabalha no Banco do Brasil, a uns 300 metros dali.

Cheguei de surpresa. Estavam todos em casa, Valdir, a esposa Elize , a cunhada Márcia e as filhas Karine e Ana Paula.

Fiquei lá aproveitando a mordomia e retornei na madrugada do dia 21. Valdir comprou a passagem e ainda deu 2.500 cruzeiros.


Ainda fiquei no apartamento de Roque durante o restante do dia.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

A caminhada que eu tentei realizar

Em 1982 eu tinha uma namorada no bairro Jurunas, em Belém, e morava na Cidade Nova, em Ananindeua, a 20 km de distância.

Algumas vezes, quando a deixei em casa de madrugada, voltei caminhando para a Cidade Nova, pois os ônibus, naquela época, paravam de circular à meia-noite.

Quando eu já havia caminhado metade do percurso, a partir das 6 horas já havia ônibus circulando, mas eu preferia ir até o fim caminhando, sendo que nunca senti nenhum cansaço ou desconforto por isso.

Então, uns 15 anos depois, resolvi fazer uma caminhada maior, 160 km, até Marudá. Calculei ir até Castanhal no primeiro dia (60 km), dormir num quartinho de hotel, seguir até São Pedro no segundo dia (+ 53 km), e os outros quarenta e poucos km no terceiro dia.

Para tal, saí de casa numa sexta-feira, feriado, levando dinheiro para as despesas e uma pequena sacola com um par de tênis mais folgado para o caso de os pés incharem,  uma toalha e uma rede garimpeira para dormir. Nem protetor solar eu usava.

Saí andando sem forçar, a mais ou menos 5 km/hora. Não senti nada nas pernas, não tive bolhas. Com 28 km caminhados, lá pelas 10h30min, parei para amarrar o cadarço que havia se soltado. Coloquei o pé sobre um galho e percebi que a perna estava meio travada.

Mesmo não sentindo nada, continuei despreocupadamente. Notei que, na medida em que o tempo passava, o comprimento das minhas passadas diminuía, mas a cadência não. Com 54 km caminhados, lá pelas 17h30min, resolvi, pela primeira vez, parar para descansar.

Pensei: “vou descansar dez minutos, tomar um banho no rio Apeú, e seguir para Castanhal”. Havia um tronco de árvore atravessado sobre a pista e sentei nele para o tal descanso.

Passados os dez minutos, tentei levantar, mas, para minha surpresa, embora não sentisse nenhuma dor, não consegui, pois as pernas, embora eu me esforçasse, continuavam dobradas.

Insisti por uns três minutos e, finalmente, consegui ficar de pé. Muito aborrecido, desisti de tomar o banho no rio e resolvi ir direto até Castanhal, pois faltavam só seis quilômetros.

Aí veio a outra surpresa. O pé não queria ir para frente. O máximo que eu conseguia era dar passos de dez centímetros. Calculei que, com um passinho destes, chegaria a Castanhal depois de duas ou três horas.

Vi então, a uns 100 metros atrás de mim, um caminhão de farinha parado no acostamento. Fui até lá e pedi uma carona para Castanhal. Subi na carroceria e, em dois minutos, estava indo de carona para terminar o primeiro dia da minha caminhada.

Uma vez em Castanhal, o caminhão não parou, e depois de eu chamar várias vezes, o motorista, que havia me esquecido, parou. Eu desci e o caminhão seguiu para Bragança, mais ou menos a 160 km de Castanhal.

Fiquei pensando que, se no primeiro dia as minhas pernas ficaram daquele jeito, como ficariam nos outros dois dias que faltavam?

Acabei desistindo. Peguei um ônibus de volta para Ananindeua e fiquei o sábado e o domingo em casa, amolecendo as pernas.

Se eu fosse uma pessoa normal, eu teria tido cãibras, pois nem certa vez quando corri durante mais de cinco horas sem parar eu as tive (mas as pernas ficaram meio travadas também).


Depois, conversando com militares e profissionais do atletismo, fiquei (quase) convencido de que, seu eu continuasse caminhando, as minhas passadas voltariam ao normal na medida em que os músculos fossem aquecendo....... mas isto eu ainda vou comprovar oportunamente.

domingo, 15 de novembro de 2015

Minha primeira grande viagem (Maceió/Pontezinha) (23ª parte)

13/04/84 Após o café da manhã e arrumar minhas coisas, fiquei um pouco pela casa e me despedi de Maria das Graças e sua mãe. Ganhei delas, para levar, arroz, ovos cozidos, pão, laranjas, uma colher e um pedaço de sabão.

Na saída de Maceió, numa praia chamada Ponta Verde, bati uma foto. A estrada, pela beira do mar, ia por entre coqueiros e mangueiras. Num posto de gasolina, fiz uma parada e comi arroz, ovos e laranjas. Depois, a estrada se afastou do mar e surgiram canaviais dos dois lados.

Entrei numa cidadezinha chamada São Luiz do Quitundes. Pedi alimentos em duas casas e ganhei pão com carne e dois abacates. Ao lado da delegacia de polícia, conversei com alguns rapazes.

Depois, numa outra cidadezinha, Matriz de Camaragibe, ganhei bananas, bolachas, jaca e mil cruzeiros. O homem que deu o dinheiro disse que, na saída da cidade, no posto de gasolina do seu amigo Antônio Davi, eu poderia pedir para dormir na garagem.

Comprei bolachas recheadas no supermercado e atualizei o diário. Depois, fui ao posto de gasolina, entrei no restaurante, tomei um suco de laranja e falei com Antônio Davi. Em seguida, sentei num banco em frente ao restaurante, comi as bolachas recheadas e atualizei o diário, Na garagem, sobre um banco estreito, com muitos mosquitos e o barulho de uma boate ao lado, dormi.

14/04/84 Acordei com diarreia. Comi algumas bolachas. Subi um morro e continuei a viagem. Pela posição do sol, eu sabia que a estrada ia na direção do mar.

Ao passar por Porto Calvo, entrei num posto de gasolina e comi bananas. Continuei. De repente, os canaviais sumiram. Apareceram coqueiros, e, em seguida, o mar. 

Mais adiante, entrei numa cidadezinha chamada Maragogi. Tomei um longo banho no mar. Depois, andei  pela cidade. Na praça havia dois alto-falantes de onde se ouvia músicas de Julio Iglesias. Passei em duas casas e ganhei bananas. As bananas estavam geladas. Comi e segui viagem.

Poucos minutos depois, a barriga ficou dura e começou a doer muito. Parei debaixo de uma árvore e deitei no chão. Acho que cheguei a desmaiar. Algum tempo depois, a dor havia passado e a barriga não estava dura.

Continuando, parei num posto de fiscalização e conferi minha localização geográfica. Fui informado que faltavam 125 km para Recife. Eram 11h45min. Fiquei animado e decidi tentar ir até Recife ainda neste dia.

A partir da divisa Alagoas/Pernambuco o asfalto acabou e a estrada passou a ser de blocos de concreto. Tendo andado uns 5 km, a estrada se afastou do mar e passou para os canaviais e iniciou-se uma chuva muito forte. Os dedos logo ficaram anestesiados e me esforcei para não ficar com frio. Sem sinalização, perdi a noção de ritmo. Passei por algumas cidadezinhas, só vi o nome de uma: Rio Formoso. A chuva não deu trégua e eu não parei.


Ao anoitecer, passei por uma cidade chamada Cabo. Achei que Recife estivesse próxima. Para minha surpresa, entrei na BR-101. Movimento muito intenso, acostamento péssimo (lama e buracos).

 Continuei enfrentando a chuva e a estrada ruim, até chegar num lugar chamado Pontezinha, quando parei num posto da Polícia Rodoviária Federal. Comi as duas laranjas que restavam. Troquei a roupa e me acomodei no chão, na garagem, entre uma Brasília e três tonéis de combustível. Havia uma casa noturna nas proximidades e dormi ouvindo música.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Minha primeira grande viagem (Maruim/Maceió) (22ª parte)

09/04/84 Acordei, chamei o sargento e saí. O relógio da igreja marcava 6h10min. Na estrada, movimento intenso de ônibus e caminhões. Passei  por duas cidadezinhas (Rosário do Catete e Carmópolis). Parei num posto de gasolina e comi pão, bolachas e laranjas.

Como já era costume, tomei alguns banhos de chuva neste dia. Mais adiante, parei em outro posto de gasolina para descansar. Eu tinha uma pequena ferida perto do pé. Estava infeccionada.

Entrei em Propriá por volta das 14 horas. Andei por toda a cidade. Nas casas onde pedi, ganhei pão, bolo, bananas, laranjas, mangas, carambolas, duzentos cruzeiros, um saco plástico com arroz, farinha  e carne, e uma marmita com arroz, feijão, farinha e muita carne.

Ao anoitecer, fui até uma praça para fazer a digestão (estava empanturrado). Comprei um band-aid. Conversei com alguns estudantes na praça. Depois, fui até a delegacia de policia. Dormi na garagem, sobre folhas de papelão. Antes de dormir, notei que o pneu traseiro estava murcho.


10/04/84 Acordei bem cedo, saí da garagem e fui esperar uma oficina de bicicletas abrir. Quando o mecânico chegou e abriu a oficina, resolveu logo o meu problema. O furo havia sido causado por um espinho. Depois, substituiu um outro remendo que estava ruim.

Saindo de Propriá, atravessei a ponte sobre o Rio São Francisco e estava já no Alagoas. Num posto de gasolina,  fiz a primeira refeição do dia com mangas e carambolas. 

Tendo andado uns 25 km, o pneu traseiro esvaziou. Parei, virei a bicicleta e comi uma laranja. Depois, tentei remendar o pneu, mas não consegui, pois o furo era junto ao bico.

Dei a câmara para um menino e fui empurrando a bicicleta. Depois de umas duas horas e pouco (cerca de 10 km), encontrei um velho caminhão Ford azul parado no acostamento. Estava com o pneu dianteiro furado e sem macaco. Fiquei conversando com o pessoal até que chegou outro caminhão, um Mercedes, e arranjaram um macaco emprestado para colocar o estepe.

 Ganhei carona. Passamos por Feira Nova e Junqueiro. Depois de Junqueiro apareceram enormes canaviais.

 Entramos em São Miguel dos Campos às 16:30. Passei em algumas casas e ganhei bananas, laranjas, mangas, pão e uma marmita com arroz, farinha e muita carne. Depois, fui a um posto de gasolina descansar um pouco.

 Dois funcionários do posto estavam pegando no chão umas formigas grandes e com asas chamadas de Tanajura. Um deles disse que levaria para casa para comer.  

Depois, fui à delegacia de polícia. Ganhei um colchão para dormir no corredor entre as celas. Conversei um pouco com alguns presos e adormeci.

 Numa certa hora, acordei com meia dúzia de policiais espancando um preso perto de mim durante alguns minutos.

Depois disso, ainda consegui dormir novamente.

11/04/84 Acordei bem cedo, ainda escuro, chamei um PM e pedi para abrir a grade. Saí e fui até o posto de gasolina, onde fiquei conversando com o pessoal até a cidade acordar.

 O posto funcionava numa  sem pavimentação e a minha bicicleta ficou cheia de barro. Quando saí do posto e cheguei a uma rua pavimentada, fiquei um bom tempo limpando a bicicleta.

No dia anterior, numa oficina, o mecânico disse que uma câmara nova para a minha bicicleta custaria 3.000 cruzeiros. Estando sem dinheiro, resolvi pedir nas casas, sendo que após pedir em 33 casas, consegui juntar 3.040 cruzeiros.

 Na oficina, Kita, o mecânico, montou a roda e ajustou o eixo central. Eram onze e pouco.

Passei em duas casas e ganhei bananas e mangas. Comi e segui viagem. Numa longa subida agarrei um caminhão de cana.

 Pedalei poucos km e entrei numa estrada à direita. Uma grande placa “Rodovia Senador Rui Palmeira” indicava uma estrada nova, muito plana e sem movimento. Outra placa informava “Maceió a 58 km”. Dos dois lados canaviais até onde a vista pudesse alcançar.

Depois de já haver acostumado a andar naquela linda e tranquila estrada, de repente, surgiu uma longa descida. Os canaviais desapareceram e, na minha frente, apareceu o mar. Lá do alto, como se fosse personagem de algum filme, eu exclamava “El mar, El mar...”. Eu estava muito feliz.
Na beira do mar, a estrada seguia cercada de coqueiros. Entrei na Praia do Francês, tomei um banho e bati uma foto.

Segui pela beira do mar, entrei em Maceió à tardinha. Pedi alimentos em quatro casas e ganhei quatro mangas, três abacates e setecentos cruzeiros. Fui a um posto de gasolina, comi as mangas e um abacate.

 Fui ao bairro Farol procurar a residência de Maria das Graças, uma amiga da minha irmã. Achando o endereço, descobri que ele havia se mudado. Um vizinho,   aquele que morava do outro lado da rua, desenhou um mapa e explicou o novo endereço dela.

Lá chegando, ela pediu toda a minha roupa para lavar na máquina. Tomei banho, jantamos, conversamos e, mais tarde, fui dormir.

12/04/84 Após o café da manhã, no Centro de Saúde, fiz vacina contra o tifo. Na Sucam, tentei vacina contra febre amarela, mas estavam sem vacinas.

Numa banca de revistas, comprei um cartão postal. Voltando à casa de Maria das Graças, escrevi alguns aerogramas e almocei. Depois, fui despachar os aerogramas no correio.

 Na volta, li um pouco sobre Kant e Aristóteles. À tardinha, fomos comprar macaxeira e cigarros.


Depois, jantar, conversar e dormir.

domingo, 25 de outubro de 2015

Minha primeira grande viagem (Umbaúba - Maruim) (21ª parte)

07/04/84  Acordei e fiquei esperando abrirem a cela, quando comi um pedaço de pão e quatro laranjas.

Às oito horas, saí com destino a Estância. Choveu. Perto de Estância, vi muitas mangueiras e coqueiros, bem como laranjeiras e plantações de mandioca.

Entrando em Estância, fui pedir alimentos e ganhei pão, bolachas, laranjas, bergamotas, mangas e comida (arroz, quiabo, cenoura, abóbora, carne e farinha).

De barriga cheia, segui viagem. Depois de alguns quilômetros, notei o pneu traseiro furado.  Entrei ao lado de um restaurante e fiz o remendo, mas, ao montar a roda, furei novamente a câmara com a ferramenta, “proeza” que realizei em várias oportunidades.

Chegou uma camionete e um rapaz que estava nela, percebendo a minha falta de jeito, encarregou-se de fazer o serviço na bicicleta. Enquanto ele ajeitava o pneu, fui ajudar outros dois senhores a colocar um eixo pesado sobre um caminhão. Fiquei todo engraxado.

Com a bicicleta novamente em condições de andar, já escuro, segui até Itaporanga. Num posto de gasolina, arranjei um pedaço de sabão e tomei um banho. Depois, fui pedir pernoite na delegacia. Comi um pedaço de pão e duas laranjas. Às 20:30, deitei num colchão que havia na cela e dormi.


08/04/84 Bem cedo chamei o guarda e ele abriu a cela. Atravessei a cidade e saí no rumo de Aracaju. Tomei alguns banhos de chuva pelo caminho. Muito movimento e acostamento de barro.

Em Aracaju, andei bastante e pedi alimentos em várias casas. Ganhei pão, bolachas, bananas, laranjas, mangas e duzentos cruzeiros. No centro da cidade, comprei um cartão postal e telefonei para mamãe. Andei um pouco na beira do rio e resolvi seguir viagem.

Na saída, bati uma foto defronte ao terminal rodoviário. O movimento tornou-se mais intenso e o acostamento piorou. E choveu.
Entrei em Maruim pouco antes das 17 horas. Fugindo da chuva, entrei em um ginásio de esportes, onde alguns rapazes jogavam basquete. Depois, fui pedir alimentos e ganhei pão, bolachas, suco de caju, bolo, laranjas e bananas.

Fui à delegacia de polícia e falei com o sargento. Atualizei o diário e escrevi alguns aerogramas. O sargento e o cabo jogavam cartas. Fui caminhar um pouco. Cheguei a uma praça. Havia uma boate num prédio chamado “Gabinete de Leituras”. Na igreja, um grupo de jovens ensaiava uma peça teatral. Muito movimento de rapazes e garotas na praça.

Retornando à delegacia, encostei dois bancos e fui dormir na cela. Eram 21 horas.

domingo, 11 de outubro de 2015

Viagem Natal - Teresina - Belém 2002 (Sétima e última parte)

 Recordo pouca coisa do décimo primeiro dia. Saí de Bom Jardim cedo e me concentrei em vencer os buracos e o vento contra até aquela curva antes da entrada para Santa Helena. Nas últimas horas choveu bastante e associei a chuva à proximidade com o Pará.

Cheguei até Marcaçumé, já escuro, e jantei num restaurante localizado na saída da cidade, no lado esquerdo. Faltavam apenas 12 km para Cajueiro, onde eu visitaria o Zé Fortino, mas o pessoal do restaurante disse que eu poderia ficar para dormir; e assim foi.  

No 12º dia, saí cedo e fui até a casa do Zé Fortino, onde tomei café e conversei um pouco. Com muita vontade de chegar ao final da viagem, nos despedimos. O vento a favor, desde aquela curva perto da entrada para Santa Helena, era muito bem-vindo.

Faltando uns 5 km para chegar ao km 24, percebi o pneu furado. Sabendo da existência de uma borracharia fui empurrando a bicicleta. Lá chegando, a borracharia não estava funcionando. A minha bomba estava estragada e fui até o povoado, onde me informei e encontrei uma oficina na última rua. O remendo foi feito com um ferro de passar roupa (aquecido com fogo, pois não havia energia elétrica).

Seguindo viagem, andei com muita disposição e, com uns dez km no escuro, cheguei a Santa Maria do Pará, onde ganhei o jantar no restaurante e dormi debaixo de um caminhão no posto de gasolina.


No 13º e último dia, faltando apenas 100 km, segui fácil e cheguei na hora do almoço.   

domingo, 4 de outubro de 2015

Viagem Natal - Teresina - Belém 2002 - 6ª parte

No  nono dia, saí do posto de gasolina a 18 km de Timon e segui no rumo de Caxias. Lembro pouca coisa deste trecho, a não ser que, a partir do meio-dia, já tendo passado por Caxias, o céu começou a escurecer atrás de mim e as nuvens escuras foram me seguindo pela tarde inteira, cada vez mais escuras.

Ao chegar à última curva antes de Peritoró, lá onde começa aquela descida comprida, veio uma ventania atrás de mim; não bastasse a velocidade que a bicicleta ganhou na descida, ainda tinha uma ventania me empurrando!

Só deu tempo de entrar no posto de gasolina no final da descida. Sentei na escadinha do restaurante e vi a chuva caindo no sentido horizontal  e o vento varrendo  tudo   no espaço entre as bombas de combustível (latas, tambores de lixo,  papéis, etc.)

Chuvas com ventania são comuns nesta região no mês de janeiro, pois recordo  outras chuvas parecidas já presenciadas em outras viagens, uma perto de Santa Inês e outra perto de São Bento.

O dia estava acabando e me instalei para dormir pendurando a rede debaixo de uma árvore.


No décimo dia, às cinco horas e trinta minutos eu já estava pronto para seguir, quando vi passar, lentamente, um caminhão em frente ao posto, ainda escuro, com uma carga de formato irregular.

Tendo saído do posto meia hora depois, quando amanheceu, encontrei o tal caminhão uns 30 km mais à frente.  Era uma carga de vidros, e, com a estrada toda esburacada, o caminhão parava a cada buraco para proteger a carga, de modo que eu era mais veloz que ele!


Passei o dia a lutar contra o vento, passei por Bacabal e Santa Inês e terminei o dia em Bom Jardim, entre Santa Inês e Zé Doca, onde me acomodei debaixo de uma carreta no posto de gasolina.

domingo, 27 de setembro de 2015

O causo das bergamotas

Nos anos 70, às vezes nós saímos aos domingos em pequenos grupos e andávamos pelas estradas da zona rural de Venâncio Aires e não dispensávamos as frutas que encontrávamos à beira do caminho. Goiabas, laranjas, abacaxis, melancias, e, principalmente,  bergamotas.
Comíamos tantas bergamotas que era comum ficar com dor de barriga.

Num  domingo destes, o Rogério Kreulich teve a idéia de ir lá num lugar onde havia umas bergamoteiras bem carregadas, que nós já conhecíamos de outros passeios.
O pai dele tinha um fusca, táxi, e fomos motorizados para encher o porta-malas. Lá chegando, encostamos o carro bem pertinho das bergamoteiras e fizemos a colheita de umas duzentas frutas.

Como a estradinha era muito estreita, Rogério fez uma manobra para retornar, mas atolou. Estava conosco um menino de uns 8\9 anos, que eu chamava de “cunhadinho”, pois ele tinha uma irmã muito bonita.

Na falta de força para empurrar o fusca, fui até uma casa a uns 300 metros e pedi ajuda a um senhor que lá estava dando ração para alguns porcos.

Ele topou ajudar, e fomos até o fusca. Quando eu me ajeitava para empurrar, ele, sozinho, com um empurrão, desatolou o carro.

Ficamos contentes e agradecemos a ajuda providencial.
O homem, então, falou: “antigamente os carros eram pesados, e era difícil empurrar, mas, hoje em dia está mais fácil..... e, se vocês quiserem, podem pegar umas bergamotas ali para comer”.


Já pensaram se ele soubesse que já havíamos enchido o porta-malas?

Minha primeira grande viagem (Camaçari\Umbaúba) (20ª parte)

04\04\84 Acordei com diarréia. Estava chovendo. Fui ao banheiro. Em pouco tempo a chuva passou e segui viagem.

Passei pelo Complexo Petroquímico de Camaçari e fui até Dias D’Ávila, uma cidadezinha toda arborizada. Pedi alimentos numa casa e ganhei pão com ovo, leite e café. Sentei num banco da praça e atualizei o diário.

Continuei. Em Mata de São João, pedi numa casa e ganhei quatro laranjas.
Mais adiante, passando por Pojuca, começou a chover. Fui até Catu. Num posto de gasolina me abriguei e esperei a chuva passar. Depois, andei pela cidade. Passei numa barbearia e pedi para aparar o bigode. Perguntei ao barbeiro onde era o estádio do Catuense e ele disse que este time não é de Catu, e sim de Alagoinhas.
Depois, pedi alimentos em algumas casas e ganhei pão, bolachas, café leite e 2.000 cruzeiros. Entrei num supermercado e comprei uma maçã, goiabada e leite.
Fui a uma praça e conversei com um estudante. Em seguida, fui à delegacia de polícia e pedi pernoite, sendo que me acomodei num beliche às 20 horas e 30 minutos.


05\04\84 Acordei às sete horas. Estava chovendo. A caixa da bicicleta estava cheia de formigas. Limpei a caixa e comi goiabada. Sentei numa escadinha e atualizei o diário.  Quando a chuva afinou, saí no rumo de Alagoinhas. Meu olho esquerdo estava muito irritado. Conjuntivite.  Ainda tomei alguns banhos de chuva pelo caminho.

Em Alagoinhas, passei em algumas casas e ganhei pão, laranja, uma lata de sardinhas e um prato de comida (arroz, pirão, carne, repolho e abóbora). Andei mais pela cidade. Caiu uma forte chuva e me abriguei num posto de gasolina.

Depois da chuva, segui para Entre Rios. Notei que as árvores estavam diminuindo em tamanho e em quantidade. Começaram a aparecer fazendas de gado bovino. As subidas começaram a ficar menos intensas. Caíram mais chuvas.

No final do dia, entrei em Entre Rios. Nas casas onde pedi, ganhei pão, bolo, bananas e um sanduíche com carne. Fiquei um pouco no banco da praça e fui pedir pernoite na delegacia de polícia, sendo que, às vinte horas, me instalei num Passat para dormir.


06\04\84 Acordei, comi três pãezinhos e saí no rumo de Esplanada. No caminho, muitas fazendas e muito gado. Viu uma enorme aranha atravessando a pista, idêntica àquela que vi entre Joinville e Curitiba, só que a cor da bunda era laranja.

Entrei em Esplanada, sentei na praça, atualizei o diário e escrevi alguns aerogramas. Percebi que o Guia 4 Rodas não estava na caixa da bicicleta (esqueci no banco da praça em Entre Rios). Dei umas voltas, passei no correio e fui pedir alimentos. Ganhei pão, 500 cruzeiros e uma maçã. Na casa onde ganhei uma maçã conversei com alguns rapazes. Um deles me deu outro Guia 4 Rodas de presente.


Segui viagem. Tendo andado 3 km, parei num posto de gasolina e comi sardinhas com pão. O vento fazia meus olhos arderem. Lacrimejei muito. Mais adiante, noutro posto, comi algumas laranjas.

 Quando me aproximei da fronteira com Sergipe, vi milhares de laranjeiras plantadas em filas muito retas. Entrei numa cidadezinha chamada Cristinápolis. Pedi alimentos em duas casas e ganhei laranjas e arroz com carne num saco plástico. Fui até a praça e comi. Um alto-falante, instalado na torre de uma igreja, tocava, para toda a cidade ouvir, a música “para que todos tenham vida” e outras alusivas à Campanha da Fraternidade. 

Segui viagem e entrei em Umbaúba ao anoitecer. Pedi numa casa e ganhei um sanduíche com carne. Atravessei a rua, sentei no banco da praça e comi. Passou um homem carregando uma espingarda. Isto era comum na região, pois vi mais uns dez assim neste mesmo dia. Atualizei o diário, escrevi alguns aerogramas e fui à delegacia, onde combinei que dormiria numa cela. Enquanto conversei com dois policiais na frente do prédio, lavaram a cela com água e creolina e colocaram uma cama para mim. Fui dormir.

domingo, 6 de setembro de 2015

Minha primeira grande viagem (Nazaré das Farinhas\Camaçari) (19ª parte)

02\04\84  Acordei às seis horas. Fiquei sentado na frente da delegacia. Despachei os aerogramas no correio ao lado. Atualizei o diário.

Às sete horas saí no rumo de Salvador. Começou uma chuva fina que foi engrossando rapidamente. Era fria. Passei por uma ponte e entrei na ilha de Itaparica. A chuva não parava. À minha direita começaram a surgir praias com coqueiros. Meus dedos ficaram anestesiados de frio.

Entrei numa praia chamada Barra Grande e me abriguei num pequeno comércio. Comprei um pacote de 500 g de bolachas e comi. Fiquei esperando a chuva passar. Por volta do meio-dia, o dono do comércio serviu um pouco de macarrão com peixe.

Às 14 horas a chuva afinou um pouco e segui viagem. Senti enjoo. Acho que o peixe estava deteriorado. Ao cabo de 50 minutos, cheguei ao terminal do “ferry-boat”. Paguei  400 cruzeiros para atravessar os 13 km de água em 40 minutos. Tirei o boné para não ser arrancado pelo vento.

Desci  do “ferry-boat” e  estava  em Salvador.  Fui ao bairro Chame-chame, na residência de Sissa, uma amiga do “Barriga”. Lá chegando, esperei um  pouco e conversei com ela. Tomei um banho e lanchei. Não havia lugar para eu e a bicicleta no apartamento.

Fui até o quartel da Avenida Amaralina, de onde me mandaram para a Sétima Delegacia, ali perto. Quando a delegada chegou, conversei com ela e fui autorizado a dormir numa sala ao lado  da recepção, no chão. Deitei às 23 horas e choveu a noite toda.


03\04\84  Acordei às 6h30min. Fiquei na delegacia esperando a chuva passar. Ouvi um falatório de que várias partes da cidade estavam alagadas. Escrevi alguns aerogramas. Serviram pão e café. O movimento na delegacia  era intenso. Sempre havia mais de dez pessoas. Por volta das dez horas, a chuva afinou.

Fui ao bairro Chame-chame, pedi  alimentos em algumas casas e ganhei pão, bolachas e mil cruzeiros. Comprei um cartão postal e fui ao apartamento de Sissa almoçar. Hercília, sua filha, estava de saída e me desejou boa sorte. Escrevi mais um aerograma. Almoçamos, conversamos um pouco e me despedi.

Fui até a beira do mar, andei um pouco, bati uma foto e saí de Salvador. 

Num dado momento o asfalto terminou e eu estava perdido numa vila suburbana. Pedi orientação a um comerciante. Ele explicou que o mapa (Guia 4 Rodas) mostrava uma estrada que não existia. Ele ensinou um caminho para encontrar a estrada certa.


Entrei em Camaçari  ao anoitecer. Uma cidade muito espalhada. Pedi alimentos em algumas casas e ganhei pão suco de maracujá, laranjas e um abacate. Depois, fui à delegacia de polícia, onde a delegada me autorizou a dormir dentro de uma Brasília branca.  Havia muitos mosquitos.

Viagem Natal - Teresina - Belém 2002 - Quinta Parte

No oitavo dia, antes de amanhecer, levantei e fui convidado para tomar café na lanchonete. Pão com ovo.

Enchi as garrafas com água e segui viagem. Nem quis entrar na cidade. Apesar de o asfalto estar ruim, o vento não atrapalhava e o deslocamento era fácil.

Depois de passar por Capitão de Campos e Cocal de Telha, parei num restaurante de beira de estrada, “almocei” cuscuz com leite de cabra, sendo que, como já havia acontecido perto de Sobral, não quiseram que eu pagasse.

Na entrada de Campo Maior, muitas casas expondo carne de sol na beira da estrada. Entrei numa oficina de bicicletas, mas não lembro o motivo.

Seguindo, passei por Altos e entrei em Teresina à tardinha, sendo que fui direto por aquela avenida que ia para a ponte nova.

Quase chegando a tal ponte nova, parei numa esquina para beber água. Um caminhoneiro que estava ali falou que me viu várias vezes na Cidade Nova, bairro onde moro, e ofereceu carona, sendo que agradeci e recusei.

Passei a ponte sobre o Rio Parnaíba, atravessei Timon, a primeira cidade do Maranhão, e andei mais 18 km até um posto de gasolina (quase tudo no escuro), onde comi um PF e dormi.


domingo, 30 de agosto de 2015

Passeio Terra Alta fora de forma

Hoje, depois de muitos meses, pude sair cedo de casa para dar um passeio na estrada.

Sabendo que a falta de hábito compromete o desempenho, escolhi um percurso de menos de 200 km. Saí de casa às 6h4min. Uma enorme lua estava descendo e, logo depois, um enorme sol começou a subir no mesmo lugar.

Com receio de quebrar o canote do selim, andei com ele meio baixo; estabeleci andar sempre acima de 13 km\hora, o que daria para fazer o percurso sem andar no escuro.

E assim foi; até Castanhal, 60 km em 4h20min; para Terra Alta, mais 2h10min. No retorno, 5h40min.

Na volta, com vento a favor, senti o calor do sol e suei muito. Os punhos estavam doendo um pouco e usei marchas mais pesadas (coroa 48) para aliviar o incômodo.

Cheguei de volta às 18h11min. Estava me sentindo muito bem, mas, passados alguns minutos, veio uma canseira estranha. Acho que foi efeito do calor combinado com as marchas pesadas...


Consumo do passeio: 42 bolachas Maria e 5,8 litros de água.
Distância estimada: 182 km.

domingo, 23 de agosto de 2015

Viagem Natal - Teresina - Belém 2002 - Quarta Parte

No sétimo dia, levantei cedo e tomei café com a família de Dona Rosa antes de clarear o dia.

Fomos juntos até a frente da casa e, curiosamente, eles estavam com frio e eu não. Perguntei  se havia algum caminho para Piripiri que evitasse Tianguá; o esposo de Dona Rosa falou que havia um caminho com trechos sem pavimentação e orientou para eu perguntar ao chegar em Serra Nova, um povoado que encontraria no caminho.

Agradeci e segui viagem. Na saída de Carnaubal, passei por um mata-burro e entrei no Piauí. A estrada, ao invés de asfalto, passou a ser de terra, parecida com as estradas de 100 anos atrás.

Depois de pedalar uma hora e tanto, vi duas casas, uma de cada lado da estrada, e um menino. Havendo uma entrada à direita, perguntei para onde ia. Ele disse que, indo reto chegaria a Pedro II, e, pelo ramal à direita, chegaria a Domingos Mourão, que seria o caminho mais curto, mas com mais dificuldade para uma bicicleta. Perguntei onde era Serra Nova e ele disse que era ali onde nós estávamos. Admirado, perguntei onde era a igreja, o comércio, a escola, e ele disse que só havia a casa do vovô, a casa do papai e aquela outra casa “mais acolá”.

Optei pela segunda alternativa. Fui uma estrada do tipo “rali”. Dois caminhos com um canteiro de capim no meio. Quando havia descida, a estrada era cortada na pedra e a bicicleta pulava muito e era preciso caminhar até o fim da descida. Quando ficava plana, areia fofa. E, para complicar, uma meia dúzia de encruzilhadas sem sinalização e sem ninguém para informar. E, ainda, mutucas mordendo nas pernas, de modo que tive de vestir a calça jeans que uso para dormir.

Depois de umas duas ou três horas de caminho difícil, vi uma longa cerca de galhos de árvore.

No final da cerca havia uma casa e na frente da casa havia uma senhora. Perguntei se eu estava no caminho certo para Domingos Mourão e ela disse que sim. Disse também que logo em frente a estrada era pavimentada e que faltavam só seis km. Agradeci e fiquei animado.

Sabem como era a pavimentação? Enormes pedras irregulares, como na Idade Média. Uma subida e uma descida. A subida, pulando muito, consegui percorrer pedalando, mas, na descida, tive de ir caminhando.

Na entrada da cidade havia uma ponte com água lá embaixo. Perguntei a um menino se podia tomar um banho lá e ele respondeu que não, pois aquela água era parada e fazia meses que não chovia no local.

Faminto, e com o dinheiro que ganhei de José Aprígio em Muriú, encontrei um restaurante, pouco depois das 13 horas. Lá chegando, havia só uma moça que me atendeu. Perguntei se ainda havia comida e ela disse que sim. Disse a ela que trouxesse um prato com qualquer coisa e deixei o dinheiro na mesa. Informei que eu estava muito fedorento por causa do percurso que fiz desde Carnaubal e disse para ela evitar ficar perto de mim.
Ela respondeu que eu poderia tomar banho no chuveiro da casa e se quisesse poderia ir para o quarto, mas eu achei aquela história meio esquisita, de modo que só fiquei para a refeição.

Ao sair, passei numa oficina de automóveis e pedi para calibrar os pneus da bicicleta. Perguntei se havia algum açude ou rio no caminho para Piripiri onde eu pudesse tomar um banho e o mecânico disse que só havia um que era muito longe (22 km)!

Agradeci e segui viagem. Depois de uma hora e pouco pedalando, encontrei o riozinho. Desci o barranco ao lado da ponte e tomei o tal banho.

Mais adiante, numa encruzilhada, dobrei à direita e cheguei ao asfalto à noitinha. Vi um jegue parado no meio da pista e uma carreta parada a 50 cm dele. Buzinava, roncava o motor, e o jegue nem se mexia. Incrível e cômico.

Mais adiante, faltando uns 10 km para chegar a Piripiri, escureceu. Fui andando com atenção, aproveitando a luz dos caminhões. No final, longa descida,  a bicicleta ganhou velocidade e andei acima de 30 km\hora por uns 10 minutos.

Na entrada de Piripiri, num posto de gasolina que eu já conhecia de outras viagens, jantei, pendurei a rede e dormi.


domingo, 16 de agosto de 2015

Minha primeira grande viagem (Gandu - Nazaré das Farinhas) (18ª parte)

01\04\84 Por volta das sete horas levantei e saí logo no rumo de Santo Antônio de Jesus. O céu estava todo cinzento.

 Entrei numa cidadezinha chamada Teolândia. As duas casas onde pedi alimentos, ganhei pão, bolachas, café com leite e duzentos cruzeiros. Mais adiante, numa vila chamada Itabaina, pedi numa casa e ganhei pão e bananas.

 As plantações de cacau foram desaparecendo, da mesma forma que o mato. Apareceram campos e criações de gado. Eu estava me sentindo muito bem neste dia.

 Entrei em Santo Antônio de Jesus à tarde. Tomei um banho num posto de gasolina. Pedi alimentos em duas casas; ganhei feijão com carne e farinha num saco plástico, laranjas e bananas. Comi. Eram 16h30min. Eu já havia andado mais de 100 km e continuava muito disposto! Resolvi seguir até Nazaré (Nazaré das Farinhas). As subidas tonaram-se mais suaves e venci o trajeto com facilidade.

Quando cheguei, já estava escuro. Em duas casas, ganhei laranjas, bananas, um sanduíche com carne e um copo com café. Fui até uma praça e atualizei o diário. Telefonei para Marta. Chupei as seis laranjas que ainda tinha. Fui à delegacia e dei mais três laranjas que encontrei na caixa a um soldado. Escrevi alguns aerogramas, tomei o café que o soldado serviu e fui dormir numa cama muito confortável.