domingo, 27 de setembro de 2015

Minha primeira grande viagem (Camaçari\Umbaúba) (20ª parte)

04\04\84 Acordei com diarréia. Estava chovendo. Fui ao banheiro. Em pouco tempo a chuva passou e segui viagem.

Passei pelo Complexo Petroquímico de Camaçari e fui até Dias D’Ávila, uma cidadezinha toda arborizada. Pedi alimentos numa casa e ganhei pão com ovo, leite e café. Sentei num banco da praça e atualizei o diário.

Continuei. Em Mata de São João, pedi numa casa e ganhei quatro laranjas.
Mais adiante, passando por Pojuca, começou a chover. Fui até Catu. Num posto de gasolina me abriguei e esperei a chuva passar. Depois, andei pela cidade. Passei numa barbearia e pedi para aparar o bigode. Perguntei ao barbeiro onde era o estádio do Catuense e ele disse que este time não é de Catu, e sim de Alagoinhas.
Depois, pedi alimentos em algumas casas e ganhei pão, bolachas, café leite e 2.000 cruzeiros. Entrei num supermercado e comprei uma maçã, goiabada e leite.
Fui a uma praça e conversei com um estudante. Em seguida, fui à delegacia de polícia e pedi pernoite, sendo que me acomodei num beliche às 20 horas e 30 minutos.


05\04\84 Acordei às sete horas. Estava chovendo. A caixa da bicicleta estava cheia de formigas. Limpei a caixa e comi goiabada. Sentei numa escadinha e atualizei o diário.  Quando a chuva afinou, saí no rumo de Alagoinhas. Meu olho esquerdo estava muito irritado. Conjuntivite.  Ainda tomei alguns banhos de chuva pelo caminho.

Em Alagoinhas, passei em algumas casas e ganhei pão, laranja, uma lata de sardinhas e um prato de comida (arroz, pirão, carne, repolho e abóbora). Andei mais pela cidade. Caiu uma forte chuva e me abriguei num posto de gasolina.

Depois da chuva, segui para Entre Rios. Notei que as árvores estavam diminuindo em tamanho e em quantidade. Começaram a aparecer fazendas de gado bovino. As subidas começaram a ficar menos intensas. Caíram mais chuvas.

No final do dia, entrei em Entre Rios. Nas casas onde pedi, ganhei pão, bolo, bananas e um sanduíche com carne. Fiquei um pouco no banco da praça e fui pedir pernoite na delegacia de polícia, sendo que, às vinte horas, me instalei num Passat para dormir.


06\04\84 Acordei, comi três pãezinhos e saí no rumo de Esplanada. No caminho, muitas fazendas e muito gado. Viu uma enorme aranha atravessando a pista, idêntica àquela que vi entre Joinville e Curitiba, só que a cor da bunda era laranja.

Entrei em Esplanada, sentei na praça, atualizei o diário e escrevi alguns aerogramas. Percebi que o Guia 4 Rodas não estava na caixa da bicicleta (esqueci no banco da praça em Entre Rios). Dei umas voltas, passei no correio e fui pedir alimentos. Ganhei pão, 500 cruzeiros e uma maçã. Na casa onde ganhei uma maçã conversei com alguns rapazes. Um deles me deu outro Guia 4 Rodas de presente.


Segui viagem. Tendo andado 3 km, parei num posto de gasolina e comi sardinhas com pão. O vento fazia meus olhos arderem. Lacrimejei muito. Mais adiante, noutro posto, comi algumas laranjas.

 Quando me aproximei da fronteira com Sergipe, vi milhares de laranjeiras plantadas em filas muito retas. Entrei numa cidadezinha chamada Cristinápolis. Pedi alimentos em duas casas e ganhei laranjas e arroz com carne num saco plástico. Fui até a praça e comi. Um alto-falante, instalado na torre de uma igreja, tocava, para toda a cidade ouvir, a música “para que todos tenham vida” e outras alusivas à Campanha da Fraternidade. 

Segui viagem e entrei em Umbaúba ao anoitecer. Pedi numa casa e ganhei um sanduíche com carne. Atravessei a rua, sentei no banco da praça e comi. Passou um homem carregando uma espingarda. Isto era comum na região, pois vi mais uns dez assim neste mesmo dia. Atualizei o diário, escrevi alguns aerogramas e fui à delegacia, onde combinei que dormiria numa cela. Enquanto conversei com dois policiais na frente do prédio, lavaram a cela com água e creolina e colocaram uma cama para mim. Fui dormir.

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