segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Minha primeira grande viagem (Maruim/Maceió) (22ª parte)

09/04/84 Acordei, chamei o sargento e saí. O relógio da igreja marcava 6h10min. Na estrada, movimento intenso de ônibus e caminhões. Passei  por duas cidadezinhas (Rosário do Catete e Carmópolis). Parei num posto de gasolina e comi pão, bolachas e laranjas.

Como já era costume, tomei alguns banhos de chuva neste dia. Mais adiante, parei em outro posto de gasolina para descansar. Eu tinha uma pequena ferida perto do pé. Estava infeccionada.

Entrei em Propriá por volta das 14 horas. Andei por toda a cidade. Nas casas onde pedi, ganhei pão, bolo, bananas, laranjas, mangas, carambolas, duzentos cruzeiros, um saco plástico com arroz, farinha  e carne, e uma marmita com arroz, feijão, farinha e muita carne.

Ao anoitecer, fui até uma praça para fazer a digestão (estava empanturrado). Comprei um band-aid. Conversei com alguns estudantes na praça. Depois, fui até a delegacia de policia. Dormi na garagem, sobre folhas de papelão. Antes de dormir, notei que o pneu traseiro estava murcho.


10/04/84 Acordei bem cedo, saí da garagem e fui esperar uma oficina de bicicletas abrir. Quando o mecânico chegou e abriu a oficina, resolveu logo o meu problema. O furo havia sido causado por um espinho. Depois, substituiu um outro remendo que estava ruim.

Saindo de Propriá, atravessei a ponte sobre o Rio São Francisco e estava já no Alagoas. Num posto de gasolina,  fiz a primeira refeição do dia com mangas e carambolas. 

Tendo andado uns 25 km, o pneu traseiro esvaziou. Parei, virei a bicicleta e comi uma laranja. Depois, tentei remendar o pneu, mas não consegui, pois o furo era junto ao bico.

Dei a câmara para um menino e fui empurrando a bicicleta. Depois de umas duas horas e pouco (cerca de 10 km), encontrei um velho caminhão Ford azul parado no acostamento. Estava com o pneu dianteiro furado e sem macaco. Fiquei conversando com o pessoal até que chegou outro caminhão, um Mercedes, e arranjaram um macaco emprestado para colocar o estepe.

 Ganhei carona. Passamos por Feira Nova e Junqueiro. Depois de Junqueiro apareceram enormes canaviais.

 Entramos em São Miguel dos Campos às 16:30. Passei em algumas casas e ganhei bananas, laranjas, mangas, pão e uma marmita com arroz, farinha e muita carne. Depois, fui a um posto de gasolina descansar um pouco.

 Dois funcionários do posto estavam pegando no chão umas formigas grandes e com asas chamadas de Tanajura. Um deles disse que levaria para casa para comer.  

Depois, fui à delegacia de polícia. Ganhei um colchão para dormir no corredor entre as celas. Conversei um pouco com alguns presos e adormeci.

 Numa certa hora, acordei com meia dúzia de policiais espancando um preso perto de mim durante alguns minutos.

Depois disso, ainda consegui dormir novamente.

11/04/84 Acordei bem cedo, ainda escuro, chamei um PM e pedi para abrir a grade. Saí e fui até o posto de gasolina, onde fiquei conversando com o pessoal até a cidade acordar.

 O posto funcionava numa  sem pavimentação e a minha bicicleta ficou cheia de barro. Quando saí do posto e cheguei a uma rua pavimentada, fiquei um bom tempo limpando a bicicleta.

No dia anterior, numa oficina, o mecânico disse que uma câmara nova para a minha bicicleta custaria 3.000 cruzeiros. Estando sem dinheiro, resolvi pedir nas casas, sendo que após pedir em 33 casas, consegui juntar 3.040 cruzeiros.

 Na oficina, Kita, o mecânico, montou a roda e ajustou o eixo central. Eram onze e pouco.

Passei em duas casas e ganhei bananas e mangas. Comi e segui viagem. Numa longa subida agarrei um caminhão de cana.

 Pedalei poucos km e entrei numa estrada à direita. Uma grande placa “Rodovia Senador Rui Palmeira” indicava uma estrada nova, muito plana e sem movimento. Outra placa informava “Maceió a 58 km”. Dos dois lados canaviais até onde a vista pudesse alcançar.

Depois de já haver acostumado a andar naquela linda e tranquila estrada, de repente, surgiu uma longa descida. Os canaviais desapareceram e, na minha frente, apareceu o mar. Lá do alto, como se fosse personagem de algum filme, eu exclamava “El mar, El mar...”. Eu estava muito feliz.
Na beira do mar, a estrada seguia cercada de coqueiros. Entrei na Praia do Francês, tomei um banho e bati uma foto.

Segui pela beira do mar, entrei em Maceió à tardinha. Pedi alimentos em quatro casas e ganhei quatro mangas, três abacates e setecentos cruzeiros. Fui a um posto de gasolina, comi as mangas e um abacate.

 Fui ao bairro Farol procurar a residência de Maria das Graças, uma amiga da minha irmã. Achando o endereço, descobri que ele havia se mudado. Um vizinho,   aquele que morava do outro lado da rua, desenhou um mapa e explicou o novo endereço dela.

Lá chegando, ela pediu toda a minha roupa para lavar na máquina. Tomei banho, jantamos, conversamos e, mais tarde, fui dormir.

12/04/84 Após o café da manhã, no Centro de Saúde, fiz vacina contra o tifo. Na Sucam, tentei vacina contra febre amarela, mas estavam sem vacinas.

Numa banca de revistas, comprei um cartão postal. Voltando à casa de Maria das Graças, escrevi alguns aerogramas e almocei. Depois, fui despachar os aerogramas no correio.

 Na volta, li um pouco sobre Kant e Aristóteles. À tardinha, fomos comprar macaxeira e cigarros.


Depois, jantar, conversar e dormir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quer comentar?