09/04/84 Acordei,
chamei o sargento e saí. O relógio da igreja marcava 6h10min. Na estrada,
movimento intenso de ônibus e caminhões. Passei
por duas cidadezinhas (Rosário do Catete e Carmópolis). Parei num posto
de gasolina e comi pão, bolachas e laranjas.
Como já era costume,
tomei alguns banhos de chuva neste dia. Mais adiante, parei em outro posto de
gasolina para descansar. Eu tinha uma pequena ferida perto do pé. Estava
infeccionada.
Entrei em Propriá por
volta das 14 horas. Andei por toda a cidade. Nas casas onde pedi, ganhei pão,
bolo, bananas, laranjas, mangas, carambolas, duzentos cruzeiros, um saco
plástico com arroz, farinha e carne, e
uma marmita com arroz, feijão, farinha e muita carne.
Ao anoitecer, fui até
uma praça para fazer a digestão (estava empanturrado). Comprei um band-aid.
Conversei com alguns estudantes na praça. Depois, fui até a delegacia de policia.
Dormi na garagem, sobre folhas de papelão. Antes de dormir, notei que o pneu
traseiro estava murcho.
10/04/84 Acordei bem
cedo, saí da garagem e fui esperar uma oficina de bicicletas abrir. Quando o mecânico
chegou e abriu a oficina, resolveu logo o meu problema. O furo havia sido
causado por um espinho. Depois, substituiu um outro remendo que estava ruim.
Saindo de Propriá,
atravessei a ponte sobre o Rio São Francisco e estava já no Alagoas. Num posto
de gasolina, fiz a primeira refeição do
dia com mangas e carambolas.
Tendo andado uns 25 km, o pneu traseiro esvaziou.
Parei, virei a bicicleta e comi uma laranja. Depois, tentei remendar o pneu,
mas não consegui, pois o furo era junto ao bico.
Dei a câmara para um
menino e fui empurrando a bicicleta. Depois de umas duas horas e pouco (cerca
de 10 km), encontrei um velho caminhão Ford azul parado no acostamento. Estava
com o pneu dianteiro furado e sem macaco. Fiquei conversando com o pessoal até
que chegou outro caminhão, um Mercedes, e arranjaram um macaco emprestado para
colocar o estepe.
Ganhei carona. Passamos por Feira Nova e Junqueiro.
Depois de Junqueiro apareceram enormes canaviais.
Entramos em São Miguel dos
Campos às 16:30. Passei em algumas casas e ganhei bananas, laranjas, mangas,
pão e uma marmita com arroz, farinha e muita carne. Depois, fui a um posto de
gasolina descansar um pouco.
Dois funcionários do posto estavam pegando no chão
umas formigas grandes e com asas chamadas de Tanajura. Um deles disse que
levaria para casa para comer.
Depois, fui à delegacia
de polícia. Ganhei um colchão para dormir no corredor entre as celas. Conversei
um pouco com alguns presos e adormeci.
Numa certa hora, acordei com meia dúzia
de policiais espancando um preso perto de mim durante alguns minutos.
Depois disso, ainda
consegui dormir novamente.
11/04/84 Acordei bem
cedo, ainda escuro, chamei um PM e pedi para abrir a grade. Saí e fui até o
posto de gasolina, onde fiquei conversando com o pessoal até a cidade acordar.
O posto funcionava numa sem pavimentação
e a minha bicicleta ficou cheia de barro. Quando saí do posto e cheguei a uma
rua pavimentada, fiquei um bom tempo limpando a bicicleta.
No dia anterior, numa
oficina, o mecânico disse que uma câmara nova para a minha bicicleta custaria
3.000 cruzeiros. Estando sem dinheiro, resolvi pedir nas casas, sendo que após
pedir em 33 casas, consegui juntar 3.040 cruzeiros.
Na oficina, Kita, o mecânico,
montou a roda e ajustou o eixo central. Eram onze e pouco.
Passei em duas casas e
ganhei bananas e mangas. Comi e segui viagem. Numa longa subida agarrei um
caminhão de cana.
Pedalei poucos km e entrei numa estrada à direita. Uma grande
placa “Rodovia Senador Rui Palmeira” indicava uma estrada nova, muito plana e
sem movimento. Outra placa informava “Maceió a 58 km”. Dos dois lados canaviais
até onde a vista pudesse alcançar.
Depois de já haver
acostumado a andar naquela linda e tranquila estrada, de repente, surgiu uma
longa descida. Os canaviais desapareceram e, na minha frente, apareceu o mar.
Lá do alto, como se fosse personagem de algum filme, eu exclamava “El mar, El mar...”.
Eu estava muito feliz.
Na beira do mar, a
estrada seguia cercada de coqueiros. Entrei na Praia do Francês, tomei um banho
e bati uma foto.
Segui pela beira do
mar, entrei em Maceió à tardinha. Pedi alimentos em quatro casas e ganhei
quatro mangas, três abacates e setecentos cruzeiros. Fui a um posto de
gasolina, comi as mangas e um abacate.
Fui ao bairro Farol procurar a
residência de Maria das Graças, uma amiga da minha irmã. Achando o endereço,
descobri que ele havia se mudado. Um vizinho, aquele que morava do outro lado da rua,
desenhou um mapa e explicou o novo endereço dela.
Lá chegando, ela pediu
toda a minha roupa para lavar na máquina. Tomei banho, jantamos, conversamos e,
mais tarde, fui dormir.
12/04/84 Após o café da
manhã, no Centro de Saúde, fiz vacina contra o tifo. Na Sucam, tentei vacina
contra febre amarela, mas estavam sem vacinas.
Numa banca de revistas,
comprei um cartão postal. Voltando à casa de Maria das Graças, escrevi alguns
aerogramas e almocei. Depois, fui despachar os aerogramas no correio.
Na volta,
li um pouco sobre Kant e Aristóteles. À tardinha, fomos comprar macaxeira e
cigarros.
Depois, jantar,
conversar e dormir.
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