quinta-feira, 16 de julho de 2015

Minha primeira grande viagem (Eunápolis-Buerarema) (16ª parte)

26\03\84 Acordei às seis horas. Fui até uma praça, comi três abacates e atualizei o diário.
Depois fui a uma oficina. Após muito trabalhar para ajeitar o eixo central e o cubo traseiro, paguei ao mecânico doze mil cruzeiros e saí de Eunápolis por volta das dez horas.

Pouca variação na paisagem. Fazendas, curvas, subidas. Depois de andar uns 20 km, comecei a me sentir fraco e cansado. Com muito esforço, segui até Itagimirim. Parei num posto de gasolina, bebi muita água e descansei.
 Em seguida, entrei na pequena cidade e comprei sardinhas e goiabada, estranha combinação que consumi logo a seguir numa pracinha. Depois, num bar, tomei um litro de água mineral. Escrevi alguns aerogramas e despachei no correio. Fui até a praça e tirei uma soneca. Eu sentia muito sono. Acho que era pressão baixa. Meu corpo só queria descansar. As pessoas olhavam muito para mim e a bicicleta. Escrevi mais dois aerogramas e levei ao correio. Depois, comi dois abacates na praça e tomei um banho no posto de gasolina. No supermercado, comprei goiabada e bolachas e jantei. Fiquei na praça conversando com alguns rapazes.

 Um deles indicou o delegado que estava numa esquina ali perto. Fui falar com ele. Pediu que eu ficasse esperando na esquina enquanto ele iria resolver outro assunto. Atualizei o diário. O delegado voltou e autorizou meu pernoite na delegacia. Acompanhado por um PM, entrei na delegacia e dormi num banco estreito. Foi uma noite mal dormida, pois eu não conseguia deitar de lado.

27\03\84 Acordei cedo. A porta estava trancada. Chegou um rapaz na janela e me deu cem cruzeiros. O PM veio e abriu a porta. Na saída, conversamos um pouco e comi umas bolachas.

Segui viagem às 7h30min. Eu planejava ir até Itapebi, mas, quando passei sobre a ponte do rio Jequitinhonha, percebi que Itapebi já estava para trás. Então, meu objetivo passou a ser Camacã. Lentamente, com esforço mínimo. Parei num posto de gasolina para descansar e comi as bolachas que restavam.

 Numa cidadezinha chamada São João do Paraíso, ganhei algumas bolachas e um prato de comida com arroz, farofa, carne e ovo frito. Seguindo viagem, encontrei duas bananas no acostamento. Comi.

 Entrei em Camacã ao anoitecer. Fui até uma oficina de bicicletas atrás de uma catraca 24 sem sucesso. Fui pedir alimentos. Numa casa ganhei um pacote de bolachas; noutra, outro pacote de bolachas; noutra, um beiju; noutra, dois pãezinhos; noutra, muitas bananas. Comi todas que consegui e devolvi o resto. Depois, no posto de gasolina, tomei banho. Ganhei um pedaço de bolo e guardei na caixa.

 Fui á delegacia, atualizei o diário e dormi na sala de espera, num colchão que o escrivão arranjou pra mim.

28\03\84 Acordei cedo. Observei um quadro cheio de fotografias de criminosos. Comi as três fatias de bolo que ganhei no dia anterior. Deixei os pacotes de bolachas para serem distribuídos aos presos. Atualizei o diário e fiquei conversando com o soldado José Luiz dos Santos. A moça que trabalhava na delegacia serviu o café.

 Saí. Havia neblina. Dei umas voltas pela cidade e saí no rumo de Buerarema. Em lugar de pastagens, surgiram grandes extensões de mato. Dentro do mato, muitas plantações de cacau.

 Numa cidadezinha chamada São João do Panelinha, numa casa, ganhei um quibe e um pastel. Mais adiante, na entrada de uma fazenda, pedi água. Eu estava com uma sede fora do comum.

 À tarde, entrei em Buerarema. Dei umas voltas e atualizei o diário. Numa casa ganhei sacolé; noutra, 200 cruzeiros; na terceira, bananas, laranjas, cacau, suco de uva e um sanduíche com queijo, salada e ovo frito. Depois, numa praça, descansei. Numa tenda de cachorro quente, perguntei onde havia uma oficina de bicicletas, e, casualmente, estava ali o dono de uma. Fui com ele até a oficina e ele ajustou novamente o eixo traseiro. Tomei banho e ganhei café na casa dele. Conversamos bastante.


Depois, já noite, fui até a praça, comi o cacau e uma laranja e fui à delegacia, onde dormi num colchão que um PM trouxe para mim. Choveu durante toda a noite.

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