quarta-feira, 29 de julho de 2015

Minha primeira grande viagem (Buerarema\Gandu) (17ª parte)

29\03\84 Acordei às sete horas. Saí, fui pedir alimentos e ganhei farinha, bananas, pão, roscas e laranjas. Comi um pouco e fui até Itabuna. No meio do caminho caiu uma forte chuva. Em Itabuna, procurei catraca maior e encontrei uma de 22 dentes, com a qual ficou mais confortável pedalar.

Ao meio-dia, passei em algumas casas e ganhei um prato de comida (feijão, arroz, carne e salada), bananas e 500 cruzeiros.

Andei um pouco pela cidade e fui até Ilhéus. Tomei um banho na praia. Bati uma foto na frente de uma igreja antiga. Ao anoitecer, fui pedir alimentos e ganhei pão, bananas, laranja, maçã e bolachas.

Depois, fui até a delegacia regional de polícia. Atualizei o diário, conversei com o pessoal, tomei um banho e fui autorizado a dormir no banco de uma Kombi.

30\03\84 O sol já estava quente quando acordei. Comi bananas e laranjas, conversei um pouco e saí no rumo de Uruçuca. Na beira da estrada, vi muitas lagartixas que fugiam quando eu me aproximava. Havia, também, algumas cobras. Muito pouco movimento.

Chegando a Uruçuca, andei um pouco e sentei num muro perto do mercado público. Comi as três bananas que ainda tinha. Passei em algumas casas e ganhei um prato de comida (arroz, carne, cenoura, chuchu, ovo cozido, abóbora e batata doce), uma manga, um abacate, bananas, laranjas, limas e mais 200 cruzeiros.

Continuei a viagem. Andei 9 km e entrei na BR-101. Tomei banho numa fonte. Mais adiante, passei por duas cidadezinhas separadas por um rio (Aurelino Leal e Ubaitaba). Mais adiante, numa vila chamada Travessão, dei umas voltas. Depois, fui até Ibirapitanga, uma cidadezinha que cresceu em cima de morros. Passei em duas casas e ganhei bolachas. Sentei numa calçada perto da Telebahia, comi as bolachas, um laranja e duas limas.

 Depois, fui até a delegacia. Atualizei o diário, falei com o sargento e o tenente. Arranjaram uma esteira e um colchão. A delegacia era um prédio de dois pavimentos: no de baixo, ficavam os presos; no de cima, os policiais. Deitei e dormi.

31\03\84 Acordei antes das seis. Os passarinhos iam de lá para cá em suas gaiolas. Um rádio estava ligado, noticiando um incêndio na igreja da Barroquinha, em Salvador. O sargento estava levantando. Conversamos um pouco e tomamos café.

Saí às 7 horas e 30 minutos no rumo de Gandu. Tendo andado uns 20 km, parei no acostamento e comi as duas laranjas e as duas limas que eu tinha na caixa. Passaram duas garotas de uns 17 anos e uma delas perguntou se eu não queria levá-la junto para onde eu estivesse indo...

Depois, passei por uma cidadezinha chamada Itamarati. Havia um riozinho cheio de curvas onde estavam muitas mulheres lavando roupa.

Cheguei a Gandu às 13h30min. Passei em algumas casas e ganhei bananas, laranjas, bolo e um prato de comida (feijão, farofa, carne e tomates). Andei pela cidade. De repente, escureceu e caiu um temporal. Abriguei a bicicleta no mercado público e aproveitei para tomar banho. Comi uma laranja.

 Passou o temporal, mas continuou chovendo. A cidade estava sem energia elétrica e anoiteceu. Fiquei sentado debaixo de uma cobertura, ao lado de um prédio, e fiquei aguardando.

 Quando as luzes da cidade acenderam, procurei a delegacia. De lá me mandaram até a casa do delegado que, por sua vez, telefonou para a delegacia autorizando meu pernoite lá. Fui dormir numa cama no alojamento que ficava junto às celas.

 Não consegui dormir muito, pois numa cela havia uma TV ligada no volume máximo e em outra, também bem próximo, um rádio com volume muito alto, em ondas curtas, sintonizado na Rádio Record de São Paulo, tocando música sertaneja. No corredor, um PM, incrivelmente musculoso, também com volume alto num outro rádio em ondas curtas e ouvia música da jovem guarda na Rádio Globo. E, para completar, no outro lado do corredor, numa mesa colocada junto à grade, um PM e um preso jogavam loto, fazendo muito barulho quando sacudiam as pedras numa garrafa plástica (naquele tempo ainda não havia garrafas pet).


Fiquei andando de lá para cá e deitando para tentar dormir, alternadamente, até amanhecer.

domingo, 19 de julho de 2015

Viagem Natal-Teresina-Belém 2002 - Terceira Parte

Ao amanhecer do quinto dia, conversei com a guarda do posto até a chegada de um funcionário e segui no rumo de Sobral. Para minha surpresa, o movimento estava bem intenso.

Perto da entrada de Sobral, fiz um lanche (cuscuz, ovo frito, leite) e o dono não quis cobrar. Seguindo caminho, fui até Aprazível, onde cheguei às dez e pouco. Conversei um pouco com o dono daquela casa grande que ficava ao lado do posto de gasolina e liguei de um orelhão para a casa de Dona Oneide em Coreaú para informar minha chegada. A pessoa que atendeu não entendeu o que eu falei e disse que não tinha mais paciência para atender trote ou alguma coisa assim... Quando estava planejando esta viagem, combinei que visitaria Dona Oneide, mãe da Rita, minha cliente.

Diante do resultado do telefonema, fiquei em dúvida se deveria ir, mas resolvi ir mesmo assim, nem que fosse só para dar satisfação à Rita. De Aprazível a Coreaú, 29 km a favor do vento em uma hora e 15 minutos.

Lá chegando, conversei com Dona Oneide e uma irmã de Rita e o Waldemar. Almocei baião de dois com carne seca e voltei para Aprazível, onde já havia combinado pernoitar na casa grande ao lado do posto. A volta, contra o vento, durou duas horas e 15 minutos.

No sexto dia, dia 20\02\2002, dia do falado anagrama, levantei às quatro horas da madrugada. Fiz uma boa merenda no outro lado da BR, num ponto de parada de ônibus interestadual (queijo, cuscuz, café). Ainda no escuro, segui pela BR deserta.

Andei poucos km e dobrei a esquerda no rumo de Mucambo. Passei por uma movimentada feira e, poucos km depois, uma subida inesquecível.

A primeira parte, uma reta de uns 800 metros (eu acho), subi na coroa 28 com catraca 22, a relação mais leve que eu tinha, e, mesmo assim, em zigue-zague. Eu imaginava que, depois da curva, a subida ficaria mais suave.

Puro engano. Quando fiz a curva para a esquerda, a inclinação ficou mais acentuada e tive de empurrar a bicicleta. O guidão encostava-se ao peito e eu precisava parar de 20 em 20 metros para recuperar o fôlego.  No meio da subida, num trecho em forma de U, por uns 200 metros, pude pedalar. Estava com uma camisa de botão, aberta na frente. Estava suando e, ao mesmo tempo, gelado. Podia observar os batimentos cardíacos na minha barriga perto da boca do estômago.

Se não me engano, gastei uma hora e 40 minutos para subir os estimados quatro km.

Quando cheguei ao alto, me senti como um super-homem e, depois de mais alguns km, atravessei Ibiapina.

Mais adiante, depois de São Benedito, numa subida onde se via uma plantação de rosas, fui alcançado por outro ciclista, numa bicicleta sem marchas, que andava com facilidade onde eu me esforçava para acompanhar. Falei a ele que gostaria de ter a metade da sua força, e ele respondeu “você é muito mais forte do que acredita”.

Depois após passar por uma subestação da Coelce, entrei à direita, no rumo de Carnaubal e fui me informando como chegar a Cachoeira do Norte. Lá chegando mais ou menos às 14 horas, visitei dona Rosa, irmã do Nazareno, outro cliente.

Dona Rosa já me conhecia, pois havia morado perto da casa do Nazareno, em Ananindeua. Chegando lá, fui tomar banho no igarapé que ficava no fim da plantação de feijão. Água gelada.

Passei o resto do dia descansando e dormi na casa dela

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Minha primeira grande viagem (Eunápolis-Buerarema) (16ª parte)

26\03\84 Acordei às seis horas. Fui até uma praça, comi três abacates e atualizei o diário.
Depois fui a uma oficina. Após muito trabalhar para ajeitar o eixo central e o cubo traseiro, paguei ao mecânico doze mil cruzeiros e saí de Eunápolis por volta das dez horas.

Pouca variação na paisagem. Fazendas, curvas, subidas. Depois de andar uns 20 km, comecei a me sentir fraco e cansado. Com muito esforço, segui até Itagimirim. Parei num posto de gasolina, bebi muita água e descansei.
 Em seguida, entrei na pequena cidade e comprei sardinhas e goiabada, estranha combinação que consumi logo a seguir numa pracinha. Depois, num bar, tomei um litro de água mineral. Escrevi alguns aerogramas e despachei no correio. Fui até a praça e tirei uma soneca. Eu sentia muito sono. Acho que era pressão baixa. Meu corpo só queria descansar. As pessoas olhavam muito para mim e a bicicleta. Escrevi mais dois aerogramas e levei ao correio. Depois, comi dois abacates na praça e tomei um banho no posto de gasolina. No supermercado, comprei goiabada e bolachas e jantei. Fiquei na praça conversando com alguns rapazes.

 Um deles indicou o delegado que estava numa esquina ali perto. Fui falar com ele. Pediu que eu ficasse esperando na esquina enquanto ele iria resolver outro assunto. Atualizei o diário. O delegado voltou e autorizou meu pernoite na delegacia. Acompanhado por um PM, entrei na delegacia e dormi num banco estreito. Foi uma noite mal dormida, pois eu não conseguia deitar de lado.

27\03\84 Acordei cedo. A porta estava trancada. Chegou um rapaz na janela e me deu cem cruzeiros. O PM veio e abriu a porta. Na saída, conversamos um pouco e comi umas bolachas.

Segui viagem às 7h30min. Eu planejava ir até Itapebi, mas, quando passei sobre a ponte do rio Jequitinhonha, percebi que Itapebi já estava para trás. Então, meu objetivo passou a ser Camacã. Lentamente, com esforço mínimo. Parei num posto de gasolina para descansar e comi as bolachas que restavam.

 Numa cidadezinha chamada São João do Paraíso, ganhei algumas bolachas e um prato de comida com arroz, farofa, carne e ovo frito. Seguindo viagem, encontrei duas bananas no acostamento. Comi.

 Entrei em Camacã ao anoitecer. Fui até uma oficina de bicicletas atrás de uma catraca 24 sem sucesso. Fui pedir alimentos. Numa casa ganhei um pacote de bolachas; noutra, outro pacote de bolachas; noutra, um beiju; noutra, dois pãezinhos; noutra, muitas bananas. Comi todas que consegui e devolvi o resto. Depois, no posto de gasolina, tomei banho. Ganhei um pedaço de bolo e guardei na caixa.

 Fui á delegacia, atualizei o diário e dormi na sala de espera, num colchão que o escrivão arranjou pra mim.

28\03\84 Acordei cedo. Observei um quadro cheio de fotografias de criminosos. Comi as três fatias de bolo que ganhei no dia anterior. Deixei os pacotes de bolachas para serem distribuídos aos presos. Atualizei o diário e fiquei conversando com o soldado José Luiz dos Santos. A moça que trabalhava na delegacia serviu o café.

 Saí. Havia neblina. Dei umas voltas pela cidade e saí no rumo de Buerarema. Em lugar de pastagens, surgiram grandes extensões de mato. Dentro do mato, muitas plantações de cacau.

 Numa cidadezinha chamada São João do Panelinha, numa casa, ganhei um quibe e um pastel. Mais adiante, na entrada de uma fazenda, pedi água. Eu estava com uma sede fora do comum.

 À tarde, entrei em Buerarema. Dei umas voltas e atualizei o diário. Numa casa ganhei sacolé; noutra, 200 cruzeiros; na terceira, bananas, laranjas, cacau, suco de uva e um sanduíche com queijo, salada e ovo frito. Depois, numa praça, descansei. Numa tenda de cachorro quente, perguntei onde havia uma oficina de bicicletas, e, casualmente, estava ali o dono de uma. Fui com ele até a oficina e ele ajustou novamente o eixo traseiro. Tomei banho e ganhei café na casa dele. Conversamos bastante.


Depois, já noite, fui até a praça, comi o cacau e uma laranja e fui à delegacia, onde dormi num colchão que um PM trouxe para mim. Choveu durante toda a noite.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Viagem Natal-Teresina-Belém 2002 - Segunda Parte

Ao amanhecer do segundo dia, Manoel João falou que eu teria que visitar a oficina antes de seguir viagem, pois o cubo traseiro estava com uma folga enorme e, com certeza, as peças estavam comprometidas.

Tomamos café. Fui com ele até o mercado e, no caminho, mostrou onde era a oficina, quando fomos cada um para o seu rumo. O mecânico mostrou as bacias rachadas e os cones bem desgastados. Os cones que ele tinha eram sem beiço, de aço cromado, e resistiram bem os quase dois mil km restantes da viagem.

Voltei à casa de Manoel João, arrumei minhas coisas, agradeci e segui viagem. Eram já umas oito e tanto da manhã.

Passei aqueles morrinhos perto de Açu e andei contra o vento até uma curva depois do Posto Zé da Volta, quando a direção da estrada mudou no rumo de Mossoró.

Em Mossoró, numa padaria, comprei pão e um litro de leite e fiz uma ”refeição”. Depois, ainda andei até o início da noite e pernoitei num posto de gasolina próximo à divisa RN\CE.

No terceiro dia, ainda madrugada, saí do posto no rumo de Aracati. De Aracati, para Fortaleza, fui pela estrada do litoral.  Em Fortaleza, optei pelo caminho que passa perto da entrada da Ceasa e sai lá onde as BR para Picos e Teresina se encontram (km 15).

Andei até às 20 horas e dormi num posto de gasolina a 40 km já passando de Fortaleza.Eu havia comprado uma enorme rapadura perto de Messejana, sendo que um caminhoneiro entortou a faca tentando parti-la ao meio.

No quarto dia, com vento a favor, andei bem. Catuana, São Luis do Curu, Umirim, Itapagé, Irauçuba...., até Forquilha.

Na descida daquele povoado que ficava 6 km antes de Itapagé, a mais ou menos 40 km\hora, dei uma pancada numa lombada curta que só vi quando não dava mais tempo para frear. A roda traseira entortou um pouco.


Faltando uns 40 km para Forquilha, notei que a roda traseira encostava no quadro toda vez que eu pedalava forte.Examinei e descobri que a porca havia estourado a rosca. Coloquei mais um cone no eixo e resolvi o problema.  Os últimos km antes de Forquilha foram no escuro, com uma chuvinha. Tive de andar bem devagar, pois não enxergava o chão e havia muitos buracos. Em Forquilha, no único posto de gasolina, dormi sentado numa cadeira de descanso que o vigilante arranjou.       

domingo, 5 de julho de 2015

Viagem Natal-Teresina-Belém 2002 - Primeira Parte

Quando fiz aquela viagem de Belém a Natal postada em junho\2014, a minha bicicleta ficou lá na casa do Pastor José Aprígio e voltei de ônibus. Combinei que viria no ano seguinte, de ônibus, e reformaria a bicicleta para fazer o retorno a Belém.
Em janeiro\2002, telefonei para saber como estava a bicicleta e fui informado de que ela estava reformada e com pintura nova. Não gosto de pintura nova e, por isso, levei outra bicicleta no ônibus (caloi barraforte 1980). Isso foi na primeira quinzena de fevereiro.
A bicicleta foi com uma catraca 22 e uma coroa 48-38-28, bacias e cones comuns nos três eixos.
O ônibus chegou à estação rodoviária de Natal no início da noite e pensei em seguir para a casa de José Aprígio ao amanhecer do dia seguinte (até a praia de Muriú eram uns 40 km de distância). Montei a bicicleta e telefonei para avisar, mas quiseram fazer mordomia e vieram me buscar de carro.

Fiquei lá uns 2 ou 3 dias. Na saída, José Aprígio ainda me deu algum dinheiro e recomendou que eu o gastasse durante a viagem ao invés de ficar pedindo aos outros.

Saí de Muriú mais ou menos às 6h da manhã. Em Ceará-Mirim, às dez horas e tanto, procurei um comércio onde comprei um pedaço de corda de nylon para amarrar a rede de dormir.

Não lembro se vim por João Câmara\Bento Fernandes ou por Santa Maria.

Já na BR, depois de Caiçara do Rio dos Ventos, o vento era tão forte, a favor, que eu andava a mais de 20 km\hora sem o menor esforço. Percebi que algo estava errado na roda traseira. Parei para verificar; o cubo estava muito quente e havia uma grande folga. Peguei as ferramentas e mexi no cone até diminuir a folga.


Naquele trecho mais próximo ao Pico do Cabugi, quase chegando a Fernando Pedrosa, chovendo e anoitecendo, um enorme espinho furou o pneu traseiro. Por causa da chuva, fui empurrando a bicicleta até Angicos (uns 15 km), e fui à casa de Manoel João, aonde cheguei perto das 21 horas.