domingo, 24 de maio de 2015

Minha primeira grande viagem (Fundão\Pedro Canário) (14ª parte)

18\03\84. Acordei às 6h40min. Atualizei o diário. Conversei um pouco com Chiapetta e segui viagem.
Em Ibiraçu, passei numa casa e ganhei pão e bolo.  Sentei num banco da praça e tomei meu café. Passei noutra casa e ganhei pão e leite. A estrada acompanhava uma estrada de ferro. Vi alguns trens muito compridos, com mais de cem vagões, carregados de minério. Vi plantações de café, aipim e cana-de-açúcar.  As subidas estavam tornando-se mais intensas. Em algumas, tive de subir caminhando.
Depois de Guaraná, a bicicleta começou a acusar problemas no torpedo. Continuei tomando o máximo cuidado para não forçá-lo. Passei por uma pequena cidade chamada Jacupemba. A 11 km de Linhares, parei num posto de gasolina e comecei a comer bolachas. Também distribuí algumas a dois cachorros e três patos que se aproximaram de mim. Conversei com um andarilho que já havia andado por todos os Estados e Territórios.
Andei mais um pouco, atravessei a longa ponte sobre o Rio Doce e entrei em Linhares. Uma cidade muito grande, plana, e com ruas largas e bem traçadas. Procurei a residência de Paulo, no Bairro Lagoa do Meio. Não havia ninguém na casa. Um vizinho me informou que ele deveria estar na casa do sogro e que, talvez, voltaria à tardinha. Resolvi esperar. Comecei a comer bolachas e atualizei o diário. Fiquei conversando com alguns garotos. De repente, apareceram dois fuscas com alto falantes fazendo propaganda de duas lojas diferentes ao mesmo tempo. Abri uma lata de salsichas e comi. Ao anoitecer, Paulo chegou com sua esposa, Dalva.  Conversamos um pouco. Tomei banho, jantamos, assistimos um pouco de TV. Paulo me deu um cheque de 15 mil cruzeiros e fomos dormir.

19\03\84. Acordei às 4h30min. Tomamos café. Paulo foi trabalhar e eu fui dar umas voltas. Paulo trabalhava na Cia. Vale do Rio Doce em São Mateus e Dalva trabalhava no  banco Banestes.  Andei pelo centro. Passei no posto de saúde e na Sucam e não encontrei vacina contra tifo e febre amarela na cidade.
Fui até a oficina indicada por Paulo. Consertaram o torpedo. Havia uma peça quebrada. Fui ao banco, saquei os 15mil, voltei à oficina, paguei 5 mil e fui até a casa de Adriana, uma garota que conheci em Fundão. Informaram que ela telefonou dizendo que voltaria só dia 20 ou 21, lá de Fundão.
Andei mais um pouco pela cidade e fui visitar Dona Joana, a sogra de Paulo. Fiquei lá, conheci a família, almocei. Tomei alguns copos de um muito gostoso suco de cajazinho.  À tarde, fiquei dando voltas e conversei bastante com o pessoal da oficina e alguns rapazes do Jornal Pioneiro. Numa lanchonete, comi bauru e banana-split.
Ao anoitecer, voltei à casa de Paulo. Recolhi a roupa que havia lavado na noite anterior, tomei um banho e jantamos. Depois, Paulo me deu dois postais de Linhares. Preenchi-os prontamente e Dalva encarregou-se de despachá-los. Assistimos um pouco de TV e fomos dormir.

20\03\84. Paulo me acordou às 4h30min. Tomamos café, me despedi de Dalva. Eu e Paulo e o outro Paulo, seu vizinho e colega de trabalho, fomos esperar o caminhão que os levaria a São Mateus.  Quando chegou o caminhão, nos despedimos.  Parti imediatamente a São Mateus.  A estrada era reta, com muitas subidas e descidas, como se fosse um tobogã gigante. Vi muitas plantações de eucalipto, muitas fazendas, e uma reserva florestal chamada Sooretama. Várias placas informavam a presença de animais selvagens.  Eu estava resfriado e o meu nariz corria sem parar. Parei apenas em dois postos de gasolina para beber água.
Às onze horas, entrei em São Mateus. Passei pelo centro, sentei em um banco da praça para descansar. Num supermercado comprei iogurte, bolachas e leite e, com isto, fiz uma refeição. Escrevi alguns aerogramas. Fui ao correio despachar.
Quando saí, havia uma porção de curiosos que me viram na TV. Fiquei respondendo às suas perguntas. Depois, sentei-me na escada do correio e atualizei o diário. Na frente do correio havia dois garotos sentados junto a uma parede, aparando, com a boca, as balas que outro estava jogando. Fui dar umas voltas pela cidade.
Numa praça, ao lado da estação rodoviária, bati uma foto. Na praça, havia uma árvore da qual caíram umas frutas amarelas. Perguntei a um senhor se elas eram comestíveis. Ele disse que sim. Comi uma.
Depois, fui até o jornal ¨Sem Fronteiras¨, onde dei uma entrevista. Em seguida, um rapaz me acompanhou até o porto. Tomei um banho no rio São Mateus. Em seguida, na casa dele, sua irmã serviu biscoitos e café. Remendei um pneu da bicicleta dele que estava furado.  Fui ao supermercado comprar bananas, mariolas, iogurte e bolachas. O rapaz me acompanhou. Sentamos num banco da praça. Jantei e fiquei conversando com ele e um baiano de Feira de Santana. Fui até a delegacia, onde conversei um pouco. No pátio da delegacia havia uma criação de uns caranguejos muito grandes e arroxeados. Voltei à praça e atualizei o diário. Telefonei para mamãe. Voltei à delegacia e o sargento Pacheco me autorizou a dormir no alojamento.

21\03\84.  Acordei cedo. Levantei, fiquei conversando com alguns PMS e duas moças que trabalhavam na cozinha. Tomei um copo de café.
Fui até a frente da delegacia e atualizei o  diário. Notei que as mariolas que havia comprado sumiram. Dei umas voltas. Passei em algumas casas e ganhei pão, bolo, café e uma lata de ameixas. Numa das casas fiquei um longo tempo conversando com uma garota.
Depois, fui até o rio e tomei um banho. Tirei uma soneca no banco de uma praça.  Comi as ameixas e fiquei conversando com um garoto. Dei mais umas voltas. Eu continuava resfriado e não tinha disposição para viajar. Sentei num banco de outra praça e atualizei o diário. Depois, passei em duas casas, ganhei um pão com bife e cem cruzeiros e saí rumo a Pedro Canário. Era de tardezinha. O vento contrário me dificultava andar. Muitas subidas e descidas. No caminho, alguns coqueiros e muitas plantações de eucalipto. Eu sentia uma pequena dor de barriga. Escureceu.

Quando faltavam 10 km para chegar a Pedro Canário, resolvi parar, uma vez que o vento estava sendo muito nocivo ao meu estado de saúde. Hotel e Churrascaria Floresta, ao lado de um posto de gasolina. Tinha eu ainda 10 mil cruzeiros. Resolvi dormir no hotel. Consegui um quarto sem precisar pagar. O dono da churrascaria, Tião, me convidou para jantar.  Entrei no hotel, guardei a bicicleta na recepção, tomei um banho, fui até a churrascaria e jantei. Depois, fui dormir.

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