domingo, 14 de junho de 2015

Minha primeira grande viagem (Pedro Canário\Eunápolis) (15ª parte)

22\03\84 Quando acordei, desci do quarto para pegar a bicicleta. O homem do hotel me chamou para tomar café (café, leite, pão, bolachas e mamão). Após o café, atualizei o diário, conversei um pouco e segui viagem.
No lugar dos eucaliptos, surgiram plantações de cana e mandioca.  Para andar com menor esforço, tive a idéia de trocar a catraca de 20 dentes por uma maior, de 24. Em Pedro Canário, na Casa Monark e na Casa Verdiano, a de 20 dentes era a maior. Fui a um posto de gasolina, tomei banho e fiquei sentado num banco. Eu estava me sentindo fraco.
Escrevi alguns aerogramas e pedi ao dono da churrascaria algo para comer. Fui autorizado a me servir à vontade como cortesia da casa.
Depois, andei um pouco pela cidade e parei na estação rodoviária, onde sentei num banco e fiquei observando o movimento. Em seguida, pedi alimento em algumas casas e ganhei pão, bolachas e café.
Quando eu passava em frente à loja Satélite, alguém me chamou. Haviam me reconhecido por terem assistido uma reportagem na TV sobre a minha viagem. Assim como já havia acontecido algumas vezes, fiquei “alugado” aos curiosos que faziam várias perguntas. Acabei indo até o Jornal do Povo, onde fui entrevistado.
No final do dia, fui convidado para passar a noite na casa da dona da loja Satélite. Mais tarde, como o marido dela ainda não havia chegado, acabei indo para a casa de um colega, onde a mãe dele serviu feijão com farofa e ovos fritos e fomos dormir.


23\03\84 Acordei ainda escuro e o outro rapaz também acordou. Ele informou que eram quatro e meia. Arrumei minhas coisas, agradeci por tudo e segui no rumo de Teixeira de Freitas. Soprava um vento frio. Muitas curvas. As subidas tornavam-se mais longas e mais inclinadas. Quando amanheceu, começou a chuviscar. Entrei em Teixeira de Freitas às onze e meia. Sentei na calçada de um restaurante para descansar. Depois, fui procurar uma catraca 24 na cidade. Na quarta oficina, encontrei uma catraca 22 e fiquei com ela, sendo que o mecânico não cobrou e trocou-a para mim.
Depois, em três residências, ganhei bananas, bolachas, 95 cruzeiros e um prato com comida. Comprei umas balas, voltei à oficina. Fiquei conversando e atualizei o diário. Chovia.
Depois, pedi mais alimentos e ganhei pão, leite e bolachas.
Ao anoitecer, procurei o Batalhão de Polícia, de onde fui encaminhado para a Delegacia, onde arranjaram um colchão e uma cela separada para dormir.


24\03\84 Quando acordei, a cela estava trancada. Esperei até as 7h50min, quando o guarda veio me soltar. Saí, fui até a oficina conversar. Depois, fui pedir alimentos. Ganhei bolachas e mamão. Noutra casa, mais meia dúzia de mamão japonês. Comi alguns e fiquei conversando com a moça. Ana, 25 anos. Ganhei mais alguns mamões e guardei-os na caixa. Por volta das 10h30min, chegou Madalena. Continuamos conversando, Madalena saiu e Ana me convidou para almoçar. Feijão, arroz, bife, farinha, pepino e muito suco de maracujá.
Depois do almoço, chegaram Conceição e Madalena. Conceição começou a arrumar as unhas e logo depois foi imitada por Ana e Madalena. Ficamos conversando até perto das 15h, quando me despedi e segui para Itamaraju. Na saída de Teixeira de Freitas, encontrei outro ciclista. Andamos juntos por uns 20 km, quando ele seguiu por uma estrada secundária. Vi algumas fazendas e subi vários morrinhos, sendo que, algumas vezes, consegui agarrar caminhões.
Já escuro, cheguei a Itamaraju. Pedi alimentos numa casa e ganhei 1.300 cruzeiros. Num supermercado, comprei bolachas e goiabada.  Acomodei-me num ponto de táxi para comer e fiquei conversando com um motorista. Havia muitos mosquitos. Fui ao posto de gasolina tomar banho, mas não havia água. Voltei ao ponto de táxi.
Wantuil, o motorista, ainda estava lá. Falou que era adventista e dos seus hábitos como religioso. Depois, convidou-me para tomar banho na sua casa. Fui. Quando saí do banho, fui convidado para dormir na casa. Mostrou o quarto, guardei a bicicleta e fui dormir imediatamente.


25\03\84 Quando levantei, Wantuil  chamou para o café; bolo, leite, café de cevada. Depois, fez uma revisão na minha bicicleta, sendo que trocou algumas peças gastas por outras melhores que ele tinha numa caixa cheia de peças e ferramentas.
Às dez horas me despedi dele e da esposa e segui viagem. Muitas curvas e muitos morrinhos. Tendo andado uns 50 km, parei num posto de gasolina para descansar. Havia um ônibus de excursão com placa de Torres-RS. Uma das passageiras falou comigo e disse que se lembrava da minha passagem por Terra de Areia em dezembro\83. Um homem me deu cinco mil e outro mais mil e seiscentos cruzeiros. Comi os mamões que Ana me deu e bebi muita água.
Seguindo viagem, chegando a Itapebi, a bicicleta começou a apresentar problemas no cubo traseiro, os mesmos de antes de Linhares. Parei no canteiro de uma avenida, comi bolachas e atualizei o diário.
Resolvi seguir até Eunápolis, mais uns 30 km. Agarrei em alguns caminhões nas subidas, sendo que, numa dessas vezes, me desequilibrei e quase caí. O motorista ficou furioso e xingou bastante.
Cheguei a Eunápolis já escuro. Com 900 cruzeiros, comprei refrigerante e dois ovos cozidos.  Depois, tomei um banho num posto de gasolina e atualizei o diário. Voltei à lanchonete onde comprei os ovos e telefonei para mamãe. O rapaz da lanchonete preparou e me deu uma vitamina de abacate. Depois, mais cinco abacates para levar. Outro deu quinhentos cruzeiros. Um terceiro, ainda, ofereceu um copo de vinho de jurubeba (muito ruim), que aceitei e bebi.

Fui à delegacia pedir pernoite, sendo que me mandaram para a outra delegacia. Fui autorizado a dormir na cela de um preso que só ficava lá durante a noite, sendo que, nesta noite, ele foi liberado e eu fiquei no lugar dele. Dormi no papelão que servia de tapete.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quer comentar?