domingo, 17 de maio de 2015

Minha primeira grande viagem (Cachoeiro do Itapemirim\Fundão) (13ª parte)

15\03\84. Acordei e levantei às 5:50. Conversei um pouco e fui até o centro. Sentei num banco em frente ao correio e escrevi seis aerogramas. Andei bastante pela cidade e bati uma foto.  Não havia bairro que não tivesse morro.

Enquanto andava pelos morros da cidade, fui pedindo alimentos. Comi pão, tomei café e ganhei maçãs e bananas. Andei por algumas embarradas e lembrei os tempos em que eu e meus amigos íamos passear de bicicleta na zona rural em Venâncio Aires.

 Voltei ao centro e dei uma entrevista ao jornal A Tribuna. Depois, numa casa ganhei pão e café. Em outra, um prato com massa, queijo, salsichas e almôndegas.

 Saí entre 12 e 13 horas rumo a Guarapari. Havia pequenos morros à beira da estrada. Pareciam coxilhas, mas eram mais altos. Empurrei a bicicleta em algumas subidas. Havia muitas árvores dos dois lados da estrada. Vi algumas plantações de café e muitos bananais. Parei num posto e lubrifiquei a corrente. Em Iconha, passei numa casa e ganhei três bananas.

Depois de Jabaquara, encontrei dois rapazes que caminhavam com suas mochilas no acostamento. Fiquei conversando com eles. Tinham saído de Cabo Frio e estavam caminhando rumo à Bahia, sem objetivo de chegar a lugar nenhum. Quando eles entraram num posto de gasolina, me despedi. O sol já havia se escondido atrás dos morros e anoitecia rapidamente. Faltavam 16 km até Guarapari. Forcei o ritmo.

 Entrei na cidade, passei por uma ponte, fui a uma casa e ganhei um prato com feijão, arroz e massa. Depois, andei pela cidade. Quando cheguei à beira do mar, tomei um banho. Depois, numa calçada bem larga, sentei num banco e atualizei o diário.

Procurei a Delegacia de Polícia. Lá chegando, só havia dois PMs. Um deles me disse para ir até a 2ª. Cia. de Polícia, no Bairro Aeroporto. Lá chegando, o Cabo Nelson me explicou que era expressamente proibida a entrada de civis e me indicou a delegacia de Perocão, alguns km adiante. Cheguei lá. Estava fechada. 

Um rapaz que estava num orelhão instalado junto ao prédio me disse que o delegado, Sr. Valdir, estava num bar, ali próximo. Fui lá. Notei que o bar era dele. Havia muito movimento. Falei com ele e ele me explicou que eu deveria aguardar até as 23 horas, quando chegaria um PM para abrir a delegacia. Fui até a delegacia, sentei na calçada e fiquei esperando. Estava frio. As horas foram passando e o tal PM não aparecia. A lua cheia já tinha andado 45 graus no céu.

Peguei a bicicleta, fui até o bar do delegado. Lá chegando, vi que ele estava cantando com alguns fregueses e apresentava sinais de embriaguez. Segui, rumo a Vitória, pela estrada do sol.  A estrada estava deserta. Eu andava com uma disposição fora do comum.  Ouvi os grilos e o mar. Passei por um lugar chamado Praia da Fruta. Mais adiante, num lugar chamado Jucu, dois enormes cachorros me perseguiram por mais de 500 metros.

 Encontrei um posto de fiscalização. Falei com o guarda e fui autorizado a dormir num Landau acidentado que estava no pátio. Eram 3:30 da madrugada. Cheguei ao carro, encontrei um rapaz dormindo no banco de trás. Apresentei-me a ele e deitei no banco da frente.

16\03\84. Por volta das 7 horas, fui acordado. Levantei e segui. Cheguei a uma cidade muito grande e com casas muito bonitas: Vila Velha. 

Passei em algumas casas. Comi muito pão e tomei muito café, a ponto de me sentir meio enjoado. Guardei na caixa uma lata de salsichas e um sanduíche. Conversei com duas senhoras sobre problemas de relacionamento com os filhos. Numa outra casa, conversei com um casal sobre diferenças de clima e de comportamento nas regiões do Brasil. Passei numa oficina de bicicletas e pedi revisão no eixo central.

 Depois, segui até Vitória. Sentei numa praça no centro. Eram 11:30 e um termômetro indicava 36 graus. Atualizei o diário. Saí para dar umas voltas. Fui pedir alimentos.  Negaram alimentos em cinco casas. Senti que era necessário usar um pouco de persuasão. Na 6ª. Casa ganhei um sanduíche; na 7ª., 300 cruzeiros;  na 8ª., um copo de leite e meio quilo de bolachas;  na 9ª., uvas, uma laranja, uma maçã e dois pãezinhos; na 10ª., cinco bananas.  Comi bastante e matei a fome. 

Voltei ao centro, passei numa livraria e comprei um cartão postal. Depois, segui pela Av. Beira-Mar. Numa outra casa pedi um pouco de detergente. Fui a um posto de gasolina e lavei bem as mãos, os pés e os chinelos. Fui até a praia de Camburi e tomei um banho. O mar era marrom. Passei em mais uma casa e ganhei uma coxa de galinha, um bolinho de carne, um copo de leite gelado e um copo de café com leite. Continuei perambulando.

 Parei em frente a um parque de diversões. Fui atraído pela música. Sentei no canteiro central da avenida, comi um pãozinho e atualizei o diário.

 Depois, fui até o quartel da PM e pedi pernoite. Conversei um pouco com o pessoal do corpo de guarda. Na sala de recreação, joguei um pouco de snooker. Fui dormir às 22 horas.


17\03\84. Acordei às seis, tomei café. Fui até o corpo da guarda pegar meus documentos. Um sub-tenente deu algumas brevidades feitas pela sua esposa e laranjas. Peguei a bicicleta, me despedi e dei umas voltas.

 Passei na Secretaria de Saúde para me informar sobre vacinas e conversei um pouco com um guarda. Atualizei o diário. Depois, fui até um posto de gasolina e lavei um pouco a bicicleta. Fui até a TV Gazeta. Fiquei bastante tempo esperando um repórter. 

Quando ele chegou, conversamos um pouco. Ele pediu que eu fosse com a bicicleta até a praia do Camburi. Enquanto eu pedalava, um carro e acompanhava. Dentro do carro, ia um rapaz filmando a minha movimentação. Na praia do Camburi,  pediram para  parar e me entrevistaram. 

  Depois, fui até uma oficina para fazer um reparo. A corrente estava muito folgada, o freio atrasava e o pedal falhava quando era acionado com força.  O mecânico pôs-se a trabalhar. Fiquei numa casa, nos fundos da oficina, conversando com os pais dele. Ao meio-dia, me deram um prato com feijão, arroz, farofa e ovos fritos.

 Não consegui comer tudo. O mecânico ainda não havia terminado o conserto. Fiquei conversando com alguns rapazes que estavam na oficina. Terminado o serviço, paguei a ele 10 mil. Peguei a bicicleta, entrei na BR-101 e continuei minha viagem.

 Passei por Carapina e Serra, duas cidades pequenas. A estrada seguia por entre pequenos morros. Via-se muita grama e plantações de eucaliptos. Algumas vezes tive de empurrar a bicicleta.

 Cheguei até Fundão. Passei na loja do Zezinho e comprei um pneu borrachudo. Depois, fui a uma oficina que ficava ao lado de uma serraria e pedi para trocar o pneu traseiro. Uma moça, que morava ao lado da oficina, me ofereceu café. Aceitei. Conversei um pouco e atualizei o diário.

 Depois, dei umas voltas pela cidade e passei numa casa. Ganhei um prato com feijão, arroz, farinha, carne e salada. Depois do jantar, assisti a uma reunião religiosa. A uns 100 m da casa ouvia-se uma batucada. Esta batucada era um ensaio para uma festa. Terminada a reunião, segui um pouco o pessoal da batucada e dei umas voltas pela cidade.

 Havia uma estação ferroviária muito movimentada. Muita gente nas ruas. Fui até a delegacia, esperei o guarda chegar. Ele me deu um colchão e saiu. Atualizei o diário. Depois, o soldado Chiapetta veio com o sub-delegado José Lírio. Conversamos um pouco. José Lírio arranjou melhor o espaço onde eu dormiria. Saíram. Eram nove e pouco quando deitei para dormir.

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