15\03\84. Acordei e
levantei às 5:50. Conversei um pouco e fui até o centro. Sentei num banco em
frente ao correio e escrevi seis aerogramas. Andei bastante pela cidade e bati
uma foto. Não havia bairro que não
tivesse morro.
Enquanto andava pelos
morros da cidade, fui pedindo alimentos. Comi pão, tomei café e ganhei maçãs e
bananas. Andei por algumas embarradas e lembrei os tempos em que eu e meus
amigos íamos passear de bicicleta na zona rural em Venâncio Aires.
Voltei ao centro e dei uma entrevista ao
jornal A Tribuna. Depois, numa casa ganhei pão e café. Em outra, um prato com
massa, queijo, salsichas e almôndegas.
Saí entre 12 e 13 horas rumo a Guarapari.
Havia pequenos morros à beira da estrada. Pareciam coxilhas, mas eram mais
altos. Empurrei a bicicleta em algumas subidas. Havia muitas árvores dos dois
lados da estrada. Vi algumas plantações de café e muitos bananais. Parei num
posto e lubrifiquei a corrente. Em Iconha, passei numa casa e ganhei três
bananas.
Entrei na cidade, passei por uma ponte, fui a
uma casa e ganhei um prato com feijão, arroz e massa. Depois, andei pela
cidade. Quando cheguei à beira do mar, tomei um banho. Depois, numa calçada bem
larga, sentei num banco e atualizei o diário.
Procurei a Delegacia de
Polícia. Lá chegando, só havia dois PMs. Um deles me disse para ir até a 2ª.
Cia. de Polícia, no Bairro Aeroporto. Lá chegando, o Cabo Nelson me explicou
que era expressamente proibida a entrada de civis e me indicou a delegacia de
Perocão, alguns km adiante. Cheguei lá. Estava fechada.
Peguei a bicicleta, fui
até o bar do delegado. Lá chegando, vi que ele estava cantando com alguns
fregueses e apresentava sinais de embriaguez. Segui, rumo a Vitória, pela
estrada do sol. A estrada estava
deserta. Eu andava com uma disposição fora do comum. Ouvi os grilos e o mar. Passei por um lugar
chamado Praia da Fruta. Mais adiante, num lugar chamado Jucu, dois enormes
cachorros me perseguiram por mais de 500 metros.
Encontrei um posto de fiscalização. Falei com
o guarda e fui autorizado a dormir num Landau acidentado que estava no pátio.
Eram 3:30 da madrugada. Cheguei ao carro, encontrei um rapaz dormindo no banco
de trás. Apresentei-me a ele e deitei no banco da frente.
16\03\84. Por volta das
7 horas, fui acordado. Levantei e segui. Cheguei a uma cidade muito grande e
com casas muito bonitas: Vila Velha.
Passei
em algumas casas. Comi muito pão e tomei muito café, a ponto de me sentir meio
enjoado. Guardei na caixa uma lata de salsichas e um sanduíche. Conversei com
duas senhoras sobre problemas de relacionamento com os filhos. Numa outra casa,
conversei com um casal sobre diferenças de clima e de comportamento nas regiões
do Brasil. Passei numa oficina de bicicletas e pedi revisão no eixo central.
Depois, segui até Vitória. Sentei numa praça no centro. Eram 11:30 e um
termômetro indicava 36 graus. Atualizei o diário. Saí para dar umas voltas. Fui
pedir alimentos. Negaram alimentos em
cinco casas. Senti que era necessário usar um pouco de persuasão. Na 6ª. Casa
ganhei um sanduíche; na 7ª., 300 cruzeiros;
na 8ª., um copo de leite e meio quilo de bolachas; na 9ª., uvas, uma laranja, uma maçã e dois
pãezinhos; na 10ª., cinco bananas. Comi
bastante e matei a fome.
Voltei ao centro, passei numa livraria e comprei um
cartão postal. Depois, segui pela Av. Beira-Mar. Numa outra casa pedi um pouco
de detergente. Fui a um posto de gasolina e lavei bem as mãos, os pés e os
chinelos. Fui até a praia de Camburi e tomei um banho. O mar era marrom. Passei
em mais uma casa e ganhei uma coxa de galinha, um bolinho de carne, um copo de
leite gelado e um copo de café com leite. Continuei perambulando.
Parei em
frente a um parque de diversões. Fui atraído pela música. Sentei no canteiro
central da avenida, comi um pãozinho e atualizei o diário.
Depois, fui até o
quartel da PM e pedi pernoite. Conversei um pouco com o pessoal do corpo de
guarda. Na sala de recreação, joguei um pouco de snooker. Fui dormir às 22
horas.
17\03\84. Acordei às
seis, tomei café. Fui até o corpo da guarda pegar meus documentos. Um
sub-tenente deu algumas brevidades feitas pela sua esposa e laranjas. Peguei a
bicicleta, me despedi e dei umas voltas.
Passei na Secretaria de Saúde para me
informar sobre vacinas e conversei um pouco com um guarda. Atualizei o diário.
Depois, fui até um posto de gasolina e lavei um pouco a bicicleta. Fui até a TV
Gazeta. Fiquei bastante tempo esperando um repórter.
Quando ele chegou,
conversamos um pouco. Ele pediu que eu fosse com a bicicleta até a praia do
Camburi. Enquanto eu pedalava, um carro e acompanhava. Dentro do carro, ia um
rapaz filmando a minha movimentação. Na praia do Camburi, pediram para
parar e me entrevistaram.
Depois, fui até uma oficina para fazer um reparo. A corrente estava
muito folgada, o freio atrasava e o pedal falhava quando era acionado com
força. O mecânico pôs-se a trabalhar.
Fiquei numa casa, nos fundos da oficina, conversando com os pais dele. Ao
meio-dia, me deram um prato com feijão, arroz, farofa e ovos fritos.
Não
consegui comer tudo. O mecânico ainda não havia terminado o conserto. Fiquei
conversando com alguns rapazes que estavam na oficina. Terminado o serviço,
paguei a ele 10 mil. Peguei a bicicleta, entrei na BR-101 e continuei minha
viagem.
Passei por Carapina e Serra, duas cidades pequenas. A estrada seguia
por entre pequenos morros. Via-se muita grama e plantações de eucaliptos. Algumas
vezes tive de empurrar a bicicleta.
Cheguei até Fundão. Passei na loja do
Zezinho e comprei um pneu borrachudo. Depois, fui a uma oficina que ficava ao
lado de uma serraria e pedi para trocar o pneu traseiro. Uma moça, que morava
ao lado da oficina, me ofereceu café. Aceitei. Conversei um pouco e atualizei o
diário.
Depois, dei umas voltas pela cidade e passei numa casa. Ganhei um prato
com feijão, arroz, farinha, carne e salada. Depois do jantar, assisti a uma
reunião religiosa. A uns 100 m da casa ouvia-se uma batucada. Esta batucada era
um ensaio para uma festa. Terminada a reunião, segui um pouco o pessoal da
batucada e dei umas voltas pela cidade.
Havia uma estação ferroviária muito
movimentada. Muita gente nas ruas. Fui até a delegacia, esperei o guarda
chegar. Ele me deu um colchão e saiu. Atualizei o diário. Depois, o soldado
Chiapetta veio com o sub-delegado José Lírio. Conversamos um pouco. José Lírio
arranjou melhor o espaço onde eu dormiria. Saíram. Eram nove e pouco quando
deitei para dormir.
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