domingo, 23 de agosto de 2015

Viagem Natal - Teresina - Belém 2002 - Quarta Parte

No sétimo dia, levantei cedo e tomei café com a família de Dona Rosa antes de clarear o dia.

Fomos juntos até a frente da casa e, curiosamente, eles estavam com frio e eu não. Perguntei  se havia algum caminho para Piripiri que evitasse Tianguá; o esposo de Dona Rosa falou que havia um caminho com trechos sem pavimentação e orientou para eu perguntar ao chegar em Serra Nova, um povoado que encontraria no caminho.

Agradeci e segui viagem. Na saída de Carnaubal, passei por um mata-burro e entrei no Piauí. A estrada, ao invés de asfalto, passou a ser de terra, parecida com as estradas de 100 anos atrás.

Depois de pedalar uma hora e tanto, vi duas casas, uma de cada lado da estrada, e um menino. Havendo uma entrada à direita, perguntei para onde ia. Ele disse que, indo reto chegaria a Pedro II, e, pelo ramal à direita, chegaria a Domingos Mourão, que seria o caminho mais curto, mas com mais dificuldade para uma bicicleta. Perguntei onde era Serra Nova e ele disse que era ali onde nós estávamos. Admirado, perguntei onde era a igreja, o comércio, a escola, e ele disse que só havia a casa do vovô, a casa do papai e aquela outra casa “mais acolá”.

Optei pela segunda alternativa. Fui uma estrada do tipo “rali”. Dois caminhos com um canteiro de capim no meio. Quando havia descida, a estrada era cortada na pedra e a bicicleta pulava muito e era preciso caminhar até o fim da descida. Quando ficava plana, areia fofa. E, para complicar, uma meia dúzia de encruzilhadas sem sinalização e sem ninguém para informar. E, ainda, mutucas mordendo nas pernas, de modo que tive de vestir a calça jeans que uso para dormir.

Depois de umas duas ou três horas de caminho difícil, vi uma longa cerca de galhos de árvore.

No final da cerca havia uma casa e na frente da casa havia uma senhora. Perguntei se eu estava no caminho certo para Domingos Mourão e ela disse que sim. Disse também que logo em frente a estrada era pavimentada e que faltavam só seis km. Agradeci e fiquei animado.

Sabem como era a pavimentação? Enormes pedras irregulares, como na Idade Média. Uma subida e uma descida. A subida, pulando muito, consegui percorrer pedalando, mas, na descida, tive de ir caminhando.

Na entrada da cidade havia uma ponte com água lá embaixo. Perguntei a um menino se podia tomar um banho lá e ele respondeu que não, pois aquela água era parada e fazia meses que não chovia no local.

Faminto, e com o dinheiro que ganhei de José Aprígio em Muriú, encontrei um restaurante, pouco depois das 13 horas. Lá chegando, havia só uma moça que me atendeu. Perguntei se ainda havia comida e ela disse que sim. Disse a ela que trouxesse um prato com qualquer coisa e deixei o dinheiro na mesa. Informei que eu estava muito fedorento por causa do percurso que fiz desde Carnaubal e disse para ela evitar ficar perto de mim.
Ela respondeu que eu poderia tomar banho no chuveiro da casa e se quisesse poderia ir para o quarto, mas eu achei aquela história meio esquisita, de modo que só fiquei para a refeição.

Ao sair, passei numa oficina de automóveis e pedi para calibrar os pneus da bicicleta. Perguntei se havia algum açude ou rio no caminho para Piripiri onde eu pudesse tomar um banho e o mecânico disse que só havia um que era muito longe (22 km)!

Agradeci e segui viagem. Depois de uma hora e pouco pedalando, encontrei o riozinho. Desci o barranco ao lado da ponte e tomei o tal banho.

Mais adiante, numa encruzilhada, dobrei à direita e cheguei ao asfalto à noitinha. Vi um jegue parado no meio da pista e uma carreta parada a 50 cm dele. Buzinava, roncava o motor, e o jegue nem se mexia. Incrível e cômico.

Mais adiante, faltando uns 10 km para chegar a Piripiri, escureceu. Fui andando com atenção, aproveitando a luz dos caminhões. No final, longa descida,  a bicicleta ganhou velocidade e andei acima de 30 km\hora por uns 10 minutos.

Na entrada de Piripiri, num posto de gasolina que eu já conhecia de outras viagens, jantei, pendurei a rede e dormi.


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