domingo, 17 de julho de 2016

Minha primeira grande viagem (Pedro Barros\São Paulo) (6ª parte)

20\12\83. Quando acordei, a cidade estava deserta. Olhei para o céu. Vi as nuvens e o horizonte.  Calculei que não tardaria a amanhecer. Peguei a bicicleta e segui viagem.  Começou a chover muito forte. Fiquei encharcado.  Andei uma meia hora e cheguei a um posto de gasolina. Entrei no restaurante que havia ao lado, comprei um saquinho de bananada com mil cruzeiros. Perguntei as horas e me surpreendi: faltavam cinco minutos para a uma hora da madrugada.

 Pus-me a comer a bananada e atualizei o diário.  Dei umas cochiladas. Levantei. Comi um pastel, um ovo cozido e tomei dois copos de leite com 650 cruzeiros. Eram cinco horas. O dia estava clareando e segui viagem.  Céu nublado.  Subi a serra cheia de curvas.  Agarrei-me em vários caminhões. O último, um FNM (fenemê), andava tão devagar que, nas descidas, eu era mais rápido.

 Na entrada de Itapecerica da Serra, parei num posto de gasolina.  Havia um vento muito forte,  contra o meu deslocamento. Conversei um pouco com um rapaz que estava ali.  Ele trabalhava como chapa. Passou-me todas as dicas para encontrar a Rua Teixeira da Silva, sendo que cheguei lá como se fosse um morador daquela imensa cidade.  Dei a ele o boné que havia ganho de Hideaki,  e minha lona plástica,  pois concluí ser de pouca utilidade.  

Segui viagem.  Faltavam menos de 30 km até  São Paulo.  Quando passava por uma  outra cidadezinha,  caiu uma chuva muito forte e fria.  Fiz  questão de tomar aquele banho.  Não me preocupei com os efeitos da água sobre as engrenagens da bicicleta.

 Entrando em São Paulo,  outro banho de chuva.  Furou o pneu traseiro.  Procurei uma oficina.  Eu ainda tinha dois mil cruzeiros.  Chegando lá, o mecânico, sobrecarregado, indicou-me outra oficina ali perto.  Fui lá, e, desta vez, aceitaram o trabalho.  Não era um furo.  Eram três. O mecânico disse que  era impossível  remendar três furos tão próximos um do outro.  Uma câmara nova custava dois  mil cruzeiros!  Estava resolvido o problema.

 Localizei novamente o caminho até a residência de Ruben, meu parente, onde pretendia me hospedar.  Eu tinha perdido o endereço, provavelmente em Registro, na casa do Sr. Hideaki.  Mesmo assim, eu não esqueci que era na Rua Teixeira da Silva, entre Alameda Santos e Avenida Paulista. 

 Chegando lá, debaixo de chuva, consultei um catálogo telefônico numa loja próxima, sendo que o nome dele não constava na lista.  Na quadra onde ele morava  havia poucos edifícios. Passei na portaria de um,  perguntei  pelo nome e acertei.Ruben havia chegado do trabalho momentos antes.Desceu com suas duas crianças e me recebeu.  Guardei a bicicleta na garagem e subimos.  Tomei um banho e jantamos. Após o jantar, ficamos na cozinha.  Bebemos um pouco de cerveja e conversamos. Por volta das 22 horas, fomos dormir.


Fiquei no apartamento até o dia 26\12. Descansei bastante, visitei alguns conhecidos e dei umas voltas pela cidade onde encontrei bem menos bicicletas do que imaginava.
 Na véspera do Natal, ganhei a camisa que usei nesta foto no Parque Ibirapuera.




Minha primeira grande viagem (Divisa PR\SP - Pedro Barros) (5ª Parte)

18\12\83. Levantei e, sem ter o que comer, segui viagem.  Senti o corpo cansado.  Encontrei uma espiga com alguns grãos de milho cozido no acostamento e comi.  Depois, mais um meio pacote de bolachinhas salgadas também serviu como  ¨combustível¨.  Andei uns 15 km e parei num posto de gasolina.

 A cidade mais próxima, Cajati, ficava a 60 km de distância. Fraco e com fome, eu não tinha disposição para andar mais umas 5 ou 6 horas em estrada de serra. Consegui carona com um caminhão da empresa União até Registro, a 110 km. Estando a 20 km de Registro, encontramos um caminhão tombado. Era de um colega da empresa União.  Descemos e fomos  dar  uma olhada.  O motorista deu uma olhada para dentro da cabine.  No estado em que ficou o caminhão, o colega poderia ter morrido.  Entretanto, João de Deus, o  motorista  do caminhão  tombado, apareceu do outro lado do caminhão.  Estava intacto.  Havia tombado o caminhão à meia-noite.  Tinha dormido na direção.  Ficara ali para  proteger  a carga  contra  ladrões.  Seguimos  viagem e  desci  em  Registro.  O  caminhão  seguiu rumo a São Paulo,  sendo  que  o motorista me deu 200 cruzeiros e desejou boa sorte.

 Entrei na cidade. Segui por uma rua que margeava o rio.  Passei numas  casas.  Ganhei pão, leite e duas laranjas.  Consumi pão e leite. Fui a um posto de gasolina.  Comi as laranjas.  Foi noutra casa.  Tomei suco de laranja e comi pão com carne. Em outra,  pão com manteiga.  Tendo enganado o estômago provisoriamente, procurei uma praça para descansar. Entrei no prédio da Telesp e, enquanto descansava, atualizei o diário. Telefonei para mamãe. Permaneci ainda na Telesp conversando com uma senhora e depois fui procurar algumas casas para pedir mais alimentos. Caiu uma forte chuva. Abriguei-me numa garagem que ficava ao lado de um estádio de futebol. 

Tendo passado a chuva, cheguei a uma casa cujo portão estava trancado. Vi uma pessoa na sala, deitada  num  sofá.  Bati palmas.  A pessoa que estava no sofá levantou e pedi algo para comer. Era o Sr. Hideaki Uematsu.  Ele trouxe para mim um pacote de bolachas.  Disse achar estranho eu estar fazendo uma viagem tão longa, pois a minha bicicleta não era preparada e eu não usava mochila. Prontamente,  expliquei as razões de andar daquele jeito e mostrei o exemplar do jornal Folha do Mate que havia divulgado a minha aventura.  Ele me convidou para entrar e comer inhoque.  Eram quase 16 horas.  Entrei.  Enquanto conversávamos, comi  inhoque, salada, carne, feijão, arroz.  Havia dois pauzinhos na salada, mas ganhei garfo e faca para me servir.  Após terminar a refeição, o Sr. Hideaki ainda serviu melancia.  Sugeriu colocar sal na melancia.  Ele era de opinião que o sal acentua o gosto. Fiz a experiência. Era gostoso, mas preferi comer sem sal. Eu estava querendo sair e dar umas voltas pela cidade, para não abusar da hospitalidade do Sr. Hideaki, mas ele me convidou  ainda para assistir Fluminense x Corinthians pela televisão. Fiquei. Enquanto o jogo ia se desenrolando, continuamos a conversar. Ele leu uma parte do meu diário e sugeriu que eu anotasse os aspectos pitorescos da viagem. Explicou que sentiu o texto monótono e que os fatos pitorescos melhorariam, já que eu tencionava escrever um livro. Na sala também participava da conversa sua esposa, Mitiko. 

Mais tarde, chegaram suas duas filhas, Elaine e Carla. Tomei um banho, fomos a um restaurante oriental jantar, andamos um pouco de carro pela cidade e voltamos à casa por volta das 23 horas. Elaine pretendia estudar psicologia.  Em seguida, fomos dormir. Eu não estava com sono, mas já era tarde. 


19\12\83. Dormi bem e levantei cedo. Fui do quarto  à sala, sem barulho, e atualizei  o  diário enquanto esperava o pessoal levantar.  A família  levantou.  Tomamos o café da manhã. Entramos no carro. A família ia trabalhar. Deixamos Hideaki no DNER e fomos à loja da Sra.Mitiko.  Elaine e Carla trabalhavam na loja de brinquedos e artigos de bazar que ficava na principal  rua da cidade. Permaneci um pouco na loja observando o movimento.

Depois, voltei à casa, peguei a bicicleta e fui ao jornal Tribuna da Ribeira, onde dei reportagem. Fui entrevistado por uma repórter muito simpática.  Depois, dei umas voltas pela cidade. Voltei à loja e fiquei por lá até o meio-dia, quando fomos almoçar. 

Após o almoço, arrumei minhas coisas para seguir viagem. Na bagagem eu levava as bolachas, pedaços de pizza e duas latas de coca-cola, que Hideaki me dera, além de um boné e 2.500 cruzeiros.  Hideaki, Elaine e Carla me acompanharam até a rua. Apertei  a mão de Hideaki. Senti que ia chorar. Controlei-me e parti. 

Quando dobrei a esquina, deixei a emoção acontecer. Andei uns 20 minutos chorando. A estrada era muito boa. Havia um sol quente e um vento gostoso que vinha da esquerda. 

Ao anoitecer, cheguei a Pedro Barros, uma cidadezinha de uns 1000 habitantes. Ao lado de uma pracinha, com dois bancos e duas árvores, vi dois garotos batendo bola. Um chutava e outro, que se dizia ser Solito, o goleiro do Fantástico, fazia piruetas e imitava os grandes goleiros, ao mesmo tempo em que narrava os lances.

 Enquanto eu observava a cena que muitas vezes vivi na minha infância, um senhor perguntou o que é que eu tinha na caixa para vender.  Contei a ele da minha aventura.  Ele falou que conhece Porto Alegre e me deu mil cruzeiros. Comi os pedaços de pizza. Chutei umas bolas com o Solito no gol. Consegui fazer uns 3 ou 4 gols. O outro garoto, Laércio, deu umas voltas com a minha bicicleta. Tomei uma latinha de coca-cola e atualizei o meu diário enquanto falava um pouco com meia dúzia de garotos que apareceram de bicicleta. Acho que representavam a classe dos ciclistas de Pedro Barros. Comi mais umas bolachas, tomei  a outra coca-cola.

 Um rapaz, filho do guarda da estação ferroviária, me indicou um barraco desocupado, no qual eu poderia passar a noite. Fui até lá com ele. Passamos por uns bares onde só havia homens. Jogavam sinuca e conversavam animadamente.  Vi algumas camisas do Corinthians.  Cheguei ao barraco e entrei com a bicicleta sem ser notado. Vesti uma calça e deitei no chão de madeira, todo empoeirado.  Ouvi os garotos passarem de bicicleta.  Estavam à minha procura.  Adormeci.



Minha primeira grande viagem (Joinville\Divisa PR\SP) (4ª parte)

14\12\83. Acordei pouco depois das oito horas. Levantei, peguei a bicicleta. Não encontrei ninguém no hotel. Segui viagem. Eu sabia que esta seria uma viagem difícil. Eu tentaria ir até Curitiba,  130 km, e teria de subir uma serra. O céu estava limpo e o sol prometia muito calor.  Tendo andado uns 40km, conversei com duas senhoras que pararam na beira da estrada para trocar um pneu do carro. Elas disseram que eram videntes, mãe e filha. Mais adiante, encontrei outro carro parado. Era um casal. O motor estava muito quente. Segui viagem. Comecei a subir a serra. No caminho, a senhora do segundo carro me deu um pacote de fritas.  Agarrei   um caminhão Mercedes 1113 cheio de tijolos que rastejava roncando e bufando serra acima.  Quando terminou a subida e engatou a 3ª. marcha,  soltei. Meu braço esquerdo doía e os dedos menores da mão direita ficaram dormentes.  Parei num posto de gasolina e comi as fritas. Estava a 62 km de Curitiba e já eram 14:40. A estrada continuou num sobe-e-desce, eu pedalava  pouco e caminhava muito. Vi  uma aranha preta, peluda, de uns 15 cm de diâmetro. Ela passeava elegantemente no acostamento.  Tinha a bunda vermelha e, quando percebeu minha presença, fugiu por entre as macegas. Cheguei a Curitiba à noite.  Soprava um vento frio. Fui a uma padaria. Eu ainda tinha 1300 cruzeiros para gastar. Comprei 2 sonhos e 2 copos de leite. Em seguida, procurei o edifício onde morava um amigo da minha irmã, Geraldo Augusto Staub.  Lá chegando, falei com o porteiro e soube que Geraldo não estava em casa, mas que voltaria muito provavelmente. Fui até uma lancheria  e gastei os 600 cruzeiros que me restavam em 2 espetinhos com pedaços de carne. Voltei ao edifício. Comecei a atualizar o diário, quando Geraldo chegou, acompanhado de uma amiga, a qual estava grávida. Guardei a bicicleta na garagem, subimos até o apartamento, conversamos um pouco e fomos ao apartamento da amiga de Geraldo. Lá, jantamos. Tomamos chimarrão. Conversamos mais um pouco. Eu e Geraldo voltamos ao apartamento e fomos dormir.

15\12\83. Levantei por volta das oito horas. Geraldo ainda dormia. Ele trabalhava no Banco do Brasil e começava ao meio-dia. Lavei minha roupa. Atualizei o diário. Geraldo levantou, tomou um banho e fomos comprar frutas, carne, pão, ovos e leite. Ele queria que eu ficasse uma semana em Curitiba. Tomamos o café da manhã às dez horas. Em seguida, Geraldo foi trabalhar e eu fui com a bicicleta até a empresa Linck procurar uma colega da minha irmã, Gilmara. Lá chegando, conversei um pouco com ela e, em seguida, ela me colocou o aparelho de telex à disposição para que eu me comunicasse com minha irmã Marta, na Linck de Porto Alegre. ¨Conversamos¨ mais de meio metro de bobina. Em seguida, um colega dela me convidou para ir almoçar. Fomos a um restaurante próximo.  Voltando à Linck, Paulo Cesar começou logo a trabalhar.  Tomei um cafezinho e fui até o pavimento superior. Esperei Gilmara voltar do almoço e fiquei algum tempo desfrutando da agradável  presença dela. Em seguida, fui embora, tendo antes combinado que voltaria no dia seguinte apanhar um bilhete que Marta havia mandado de P.Alegre via malote. Voltei ao apartamento de Geraldo. Fiz um lanche e atualizei o  diário. Tirei uma soneca. Geraldo chegou às 19 horas.  Acordei.  Fomos ao apartamento da amiga grávida. Geraldo preparou carne moída e massa para nosso jantar. Geraldo e ela conversavam muito sobre assuntos de trabalho. Voltamos para casa às 23 horas  e fomos dormir.

16\12\83. Acordei às sete horas. Tomei um banho. Observei a cidade da janela do apartamento. Um sol todo acanhado tentava aparecer por entre as nuvens. Num terreno em frente, algumas pessoas jogavam tênis num clube. Escrevi aerogramas para Alceu, mamãe e Sandra.  Às 10 horas, Geraldo levantou. Fiquei cantando para passar o tempo. Às 11 horas Geraldo foi trabalhar e eu fui até a Linck.  Gilmara me entregou um envelope contendo um bilhete de Marta e um de mamãe. Em seguida, Gilmara e eu fomos fazer um lanche. Conversamos um pouco e voltamos à Linck.  Gilmara  começou a trabalhar. Tirei fotocópias do meu diário e pedi a Gilmara para enviar a Marta.  Permaneci no escritório por mais algum tempo. Depois, fui até o terminal rodoferroviário, despachei os aerogramas e retornei ao  apartamento. Fiz um lanche e descansei. Não tendo nada a fazer, fiquei no apartamento até o outro dia. Dormi bastante.


17\12\83. No outro dia, arrumei minhas coisas e resolvi seguir viagem. Comi duas laranjas, despedi-me de Geraldo. Na caixa eu levava uma lata de salsichas, uma de sardinhas e quatro laranjas. No centro da cidade, numa praça, pedi a um senhor para tirar uma foto.



 Fui até a residência do Sr. Valter Penner, um parente  que eu não conhecia. Cheguei lá, conversamos um pouco. Eu, ele, sua esposa e seu pai. Ele e o pai haviam vindo do trabalho especialmente para me conhecer. Me despedi e, às 11 horas, saí rumo a São Paulo. Muito movimento, muitas curvas e muitas subidas. Foram 100 km percorridos em 8 horas. Na divisa com SP, arranjei pernoite num posto de fiscalização. Dormi das 20 horas às seis da manhã.




Minha primeira grande viagem (Terra de Areia\Paulo Lopes) (2ª parte)

06\12\83.  Tomei  o  rumo  de  Torres,  a  50 km  de  Terra de Areia.  A estrada  ia  serpenteando.  No lado direito, planícies e lagoas; no lado esquerdo, morros cobertos de bananeiras.  Na localidade de Três Cachoeiras, ganhei um pedaço de pão e um copo de leite. Cheguei  a  Torres ao meio-dia. Uma cidade com edifícios, muitos bancos e hotéis.  Notei  muitas  casas  desocupadas.  Na praia havia pouca gente.  Passei num posto de gasolina, tomei um banho, lavei minha camisa,  me  vesti melhor e  fui  pedir  alimentos  em algumas casas. Ganhei pão, leite, bananas, laranjas, queijo, presunto e sardinhas.  Lanchei e fui até a Rádio Maristela, onde dei entrevista. Em seguida, fui ao Jornal de Torres.  O responsável pela edição estava viajando e fiquei conversando com um rapaz que trabalhava no jornal e que, quando cheguei, estava pintando um muro. Falei sobre minha aventura e ele falou de algumas experiências que teve quando prestou serviço militar.  Quando nos despedimos, ele me deu 350 cruzeiros para comprar um rango.  Saí de Torres por volta das 17 horas, com destino a Sombrio. Tendo andado uns 7 km, atravessei o Rio Mampituba, que limita RS e SC. Bem no meio da ponte, cruzei com uma jamanta que vinha em alta velocidade. O vento arrancou o boné da minha cabeça.  O boné caiu no rio. Eu já estava calculando onde conseguir outro boné e, ao olhar para o rio, vi  que a correnteza levava o meu boné lentamente.  Decidi recuperar o boné, que ainda não havia afundado.  Desci por uma estradinha que margeava o rio a toda velocidade. Não dei atenção  às pedras e buracos. A uns 80 metros da ponte, larguei a bicicleta, tirei o tênis e a camisa e me atirei no rio para salvar o boné. Nadei uns 10 metros, peguei o boné e saí do rio.  Pedalei mais uns 30 km por uma estrada arborizada  com eucaliptos e pinheiros e cheguei a Sombrio no início da noite. Dei umas voltas pela cidade. Passei pela pequena estação rodoviária, pelo pequeno prédio da Telesc e pela grande igreja verde e amarela, com uma torre bem alta. Fiz meu jantar com as sobras de Torres.  Tencionava dormir na Brigada Militar. Não havendo Brigada Militar na cidade, fui até a delegacia de polícia. Lá conversei com o delegado e com quatro prisioneiros que estavam na cela. Fui dormir num Chevette que o delegado indicou. Deixei a bicicleta dentro da delegacia. A noite estava muito fria e não consegui dormir muito.

07\12\83. Acordei por volta das cinco horas. Levantei, peguei a bicicleta e fui ao centro para esperar a cidade acordar.Enquanto  a cidade ia  acordando, atualizei o meu diário. Passei numa oficina de bicicletas e conversei um pouco com as pessoas que estavam ali. Em seguida, passei em duas casas. Ganhei bolachas e tomates. Segui viagem rumo a Araranguá, 25 km adiante, onde pretendia passar o dia e a noite na residência de um dos dois  conhecidos meus, Pedro  e Hélio. Eles foram meus colegas de trabalho em Venâncio Aires. Passei na empresa onde eles trabalhavam e encontrei-os. Falei da minha aventura e Hélio me convidou para ficar no seu apartamento. Almoçamos juntos, eu, Hélio e Marilene, sua esposa. À tarde eles foram trabalhar e eu fiquei sozinho. Peguei a bicicleta e fui dar entrevista na Rádio Araranguá e a um colunista do Jornal Tribuna do Vale. Depois, voltei ao apartamento, ouvi uns discos e descansei. À tardinha, Hélio voltou do trabalho e me levou de carro até as praias da cidade (Morro dos Conventos e Arroio do Silva). Durante o passeio conversamos animadamente sobre assuntos variados e tomamos cerveja num bar. Voltamos ao apartamento, tomamos mate doce, jantamos, conversamos mais um pouco e fomos dormir.

08\12183. Levantei às 6:45. Hélio levou Marilene ao trabalho e voltamos ao apartamento. Tomamos café. Às oito horas, peguei a bicicleta e nos despedimos. Tomei o rumo de Tubarão, levando dois super-sanduíches, quatro ovos cozidos, dois bonés novos, uma lata de talco para os pés e mil cruzeiros, que ganhei de Hélio. Quando saí, o céu estava nublado, mas em poucos minutos o sol apareceu e começou a queimar a minha pele. Na beira da estrada vi muitas olarias. Vi também uma grande fazenda que ocupava os dois lados da estrada. Parei em vários postos de gasolina para beber água. À meia-tarde entrei em Tubarão. Tomei um banho num posto de gasolina. Dei umas voltas pela cidade.Fui entrevistado pelo Jornal O Estado. Passei numa casa e ganhei sardinhas. Passei noutra e ganhei bolacha salgada, pão doce e um mamão. Enchi a barriga e, ao por do sol, segui para Laguna. Na saída de Tubarão vi uma grande usina termelétrica. Escureceu. Num certo ponto da estrada percebi que havia uma lagoa muito grande.Pude observar isto porque havia uma porção de luzes amarelas na sua superfície. Passei por uma ponte que atravessava a lagoa. Havia uns trinta pescadores jogando suas tarrafas na água e pegando uns peixes que variavam entre 15 e 30 cm de comprimento. Começou um vento muito forte e frio. Vesti o blusão e tratei de chegar a Laguna. Tendo lá chegado, dei umas voltas pela cidade, comi bolachas e ovos cozidos e fui dormir num banco da Estação Rodoviária. A noite estava fria e não consegui dormir muito.

091283. Acordei às 5:30. Dei umas voltas pela cidade, fui à praia e segui pela beira do mar até Imbituba. Na praia de Itapirubá, resolvi pedir algo para  comer. Enquanto andava numa rua vi duas vacas gordas, uma preta e uma marrom. Passei numa casa e ganhei um sanduíche com uma generosa fatia de queijo e um copo de leite com uma nata bem grossa. Perguntei à dona da casa se o leite e o queijo eram daquelas vacas e ela confirmou. Em seguida, peguei a beira do mar e continuei  calmamente em direção a Imbituba. Vi uma porção de gaivotas que fugiam quando eu me aproximava. Vi, também, uma pequena cobra. Ela media uns 25 cm de comprimento e a largura de um dedo. Ela era xadrez. Preta e amarela.Mais tarde, uma menina me disse que tratava-se de uma cobra dágua,  Chegando a Imbituba, a areia tornou-se preta. É que havia uma usina de carvão na cidade. Procurei o meu ex-colega de trabalho Elton Monteiro de Oliveira.  Encontrei-o na casa da namorada, após aproximadamente uma hora de procura. Ficamos lá conversando um pouco e almoçamos. À tarde, fomos com o sogro dele vender camarão num navio que estava no porto. Havia uma meia dúzia de navios.  Vi também dois navios afundados. Dei meus dois bonés que ganhei em Araranguá e uma camiseta do Jornal Folha do Mate a Elton e cunhado. À tardinha, fui até Paulo Lopes, Uns 10 km antes de Paulo Lopes, começou a chuviscar.  Não aumentei a velocidade. Segui lentamente e cheguei lá sem me molhar. Fui ao centro da cidade. Como estava escuro, não achei conveniente pedir alimentos nas casas. Fui a uma padaria. Pedi um bolo e um litro de leite, mas o dono não me cobrou nada. Fiz meu jantar no balcão. Bebi todo o leite e comi metade do bolo. Conversei com o padeiro, sua filha e um outro garoto, sendo que mais tarde o garoto me conduziu até a delegacia de polícia, onde consegui um pernoite. O delegado estava assistindo um show de Gilberto Gil na televisão. Deitei às 21:30.

Minha primeira grande viagem (Vitória do Mearim/Bom Jardim) (36º parte)

20/05/84 Levantei às sete horas. Segui viagem. Antes de sair da cidade, parei para conversar com um grupo de pessoas que me chamou.

A estrada estava boa e as subidas eram suaves. Passei por alguns pequenos povoados e por algumas fazendas. No entroncamento com a rodovia BR-316, tomei um banho num posto de gasolina. Tomei um comprimido de Sonrisal.

 Entrei em Santa Inês ao meio-dia. Pedi alimentos. Numa casa, ganhei três laranjas; noutra, feijão+arroz+ovos+carne, suco de frutas e bananas. A moça que serviu a comida estava ouvindo músicas muito românticas. Conversou algum tempo comigo e aproveitei o tempo para atualizar o diário. Choveu.

 Depois, agradeci e continuei. O asfalto estava muito ruim, cheio de remendos. Na ponte sobre o Rio Pindaré, fiz uma parada e comi as três laranjas. De um bar flutuante ouvia-se músicas de Raul Seixas.

Passei por uma reserva indígena e algumas fazendas. Tomei banho num posto de gasolina e entrei em Bom Jardim.

Sentei num banco da praça e fui logo abordado por um homem que fez muitas perguntas. Fui pedir alimentos em algumas residências e não consegui nada. Um rapaz ofereceu um cafezinho e conversei um pouco com o pessoal da casa, sendo que fui convidado para jantar mais tarde.

Fui até um posto telefônico e liguei para minha irmã. Voltei a casa e jantei arroz+carne+farinha e assisti Fluminense x Corinthians na TV.


Fui à delegacia de polícia e não consegui pernoite. Deitei no banco em frente ao prédio, mas, não me sentindo seguro, fui a um pequeno hotel e consegui um quartinho com rede por dois mil cruzeiros.