06\12\83. Tomei o
rumo de Torres,
a 50 km de
Terra de Areia. A estrada ia
serpenteando. No lado direito,
planícies e lagoas; no lado esquerdo, morros cobertos de bananeiras. Na localidade de Três Cachoeiras, ganhei um
pedaço de pão e um copo de leite. Cheguei
a Torres ao meio-dia. Uma cidade
com edifícios, muitos bancos e hotéis.
Notei muitas casas
desocupadas. Na praia havia pouca gente.
Passei num posto de gasolina, tomei um banho, lavei minha
camisa, me vesti melhor e fui
pedir alimentos em algumas casas. Ganhei pão, leite, bananas,
laranjas, queijo, presunto e sardinhas.
Lanchei e fui até a Rádio Maristela, onde dei entrevista. Em seguida,
fui ao Jornal de Torres. O responsável
pela edição estava viajando e fiquei conversando com um rapaz que trabalhava no
jornal e que, quando cheguei, estava pintando um muro. Falei sobre minha
aventura e ele falou de algumas experiências que teve quando prestou serviço
militar. Quando nos despedimos, ele me
deu 350 cruzeiros para comprar um rango.
Saí de Torres por volta das 17 horas, com destino a Sombrio. Tendo
andado uns 7 km, atravessei o Rio Mampituba, que limita RS e SC. Bem no meio da
ponte, cruzei com uma jamanta que vinha em alta velocidade. O vento arrancou o
boné da minha cabeça. O boné caiu no
rio. Eu já estava calculando onde conseguir outro boné e, ao olhar para o rio,
vi que a correnteza levava o meu boné
lentamente. Decidi recuperar o boné, que
ainda não havia afundado. Desci por uma
estradinha que margeava o rio a toda velocidade. Não dei atenção às pedras e buracos. A uns 80 metros da
ponte, larguei a bicicleta, tirei o tênis e a camisa e me atirei no rio para
salvar o boné. Nadei uns 10 metros, peguei o boné e saí do rio. Pedalei mais uns 30 km por uma estrada arborizada com eucaliptos e pinheiros e cheguei a
Sombrio no início da noite. Dei umas voltas pela cidade. Passei pela pequena
estação rodoviária, pelo pequeno prédio da Telesc e pela grande igreja verde e
amarela, com uma torre bem alta. Fiz meu jantar com as sobras de Torres. Tencionava dormir na Brigada Militar. Não
havendo Brigada Militar na cidade, fui até a delegacia de polícia. Lá conversei
com o delegado e com quatro prisioneiros que estavam na cela. Fui dormir num
Chevette que o delegado indicou. Deixei a bicicleta dentro da delegacia. A
noite estava muito fria e não consegui dormir muito.
07\12\83. Acordei por volta das
cinco horas. Levantei, peguei a bicicleta e fui ao centro para esperar a cidade
acordar.Enquanto a cidade ia acordando, atualizei o meu diário. Passei
numa oficina de bicicletas e conversei um pouco com as pessoas que estavam ali.
Em seguida, passei em duas casas. Ganhei bolachas e tomates. Segui viagem rumo
a Araranguá, 25 km adiante, onde pretendia passar o dia e a noite na residência
de um dos dois conhecidos meus, Pedro e Hélio. Eles foram meus colegas de trabalho em Venâncio
Aires. Passei na empresa onde eles trabalhavam e encontrei-os. Falei da minha
aventura e Hélio me convidou para ficar no seu apartamento. Almoçamos juntos,
eu, Hélio e Marilene, sua esposa. À tarde eles foram trabalhar e eu fiquei
sozinho. Peguei a bicicleta e fui dar entrevista na Rádio Araranguá e a um
colunista do Jornal Tribuna do Vale. Depois, voltei ao apartamento, ouvi uns
discos e descansei. À tardinha, Hélio voltou do trabalho e me levou de carro
até as praias da cidade (Morro dos Conventos e Arroio do Silva). Durante o
passeio conversamos animadamente sobre assuntos variados e tomamos cerveja num
bar. Voltamos ao apartamento, tomamos mate doce, jantamos, conversamos mais um
pouco e fomos dormir.
08\12183. Levantei às 6:45. Hélio
levou Marilene ao trabalho e voltamos ao apartamento. Tomamos café. Às oito
horas, peguei a bicicleta e nos despedimos. Tomei o rumo de Tubarão, levando dois
super-sanduíches, quatro ovos cozidos, dois bonés novos, uma lata de talco para
os pés e mil cruzeiros, que ganhei de Hélio. Quando saí, o céu estava nublado,
mas em poucos minutos o sol apareceu e começou a queimar a minha pele. Na beira
da estrada vi muitas olarias. Vi também uma grande fazenda que ocupava os dois
lados da estrada. Parei em vários postos de gasolina para beber água. À
meia-tarde entrei em Tubarão. Tomei um banho num posto de gasolina. Dei umas
voltas pela cidade.Fui entrevistado pelo Jornal O Estado. Passei numa casa e
ganhei sardinhas. Passei noutra e ganhei bolacha salgada, pão doce e um mamão.
Enchi a barriga e, ao por do sol, segui para Laguna. Na saída de Tubarão vi uma
grande usina termelétrica. Escureceu. Num certo ponto da estrada percebi que
havia uma lagoa muito grande.Pude observar isto porque havia
uma porção de luzes amarelas na sua superfície. Passei por uma ponte que atravessava a lagoa. Havia
uns trinta pescadores jogando suas tarrafas na água e pegando uns peixes que
variavam entre 15 e 30 cm de comprimento. Começou um vento muito forte e frio.
Vesti o blusão e tratei de chegar a Laguna. Tendo lá chegado, dei umas voltas
pela cidade, comi bolachas e ovos cozidos e fui dormir num banco da Estação
Rodoviária. A noite estava fria e não consegui dormir muito.
091283. Acordei às 5:30. Dei umas
voltas pela cidade, fui à praia e segui pela beira do mar até Imbituba. Na
praia de Itapirubá, resolvi pedir algo para
comer. Enquanto andava numa rua vi duas vacas gordas, uma preta e uma
marrom. Passei numa casa e ganhei um sanduíche com uma generosa fatia de queijo e
um copo de leite com uma nata bem grossa. Perguntei à dona da casa se o leite e
o queijo eram daquelas vacas e ela confirmou. Em seguida, peguei a beira do mar
e continuei calmamente em direção a
Imbituba. Vi uma porção de gaivotas que fugiam quando eu me aproximava. Vi,
também, uma pequena cobra. Ela media uns 25 cm de comprimento e a largura de um
dedo. Ela era xadrez. Preta e amarela.Mais tarde, uma menina me disse que
tratava-se de uma cobra dágua, Chegando a Imbituba,
a areia tornou-se preta. É que havia uma usina de carvão na cidade. Procurei o
meu ex-colega de trabalho Elton Monteiro de Oliveira. Encontrei-o na casa da namorada, após
aproximadamente uma hora de procura. Ficamos lá conversando um pouco e
almoçamos. À tarde, fomos com o sogro dele vender camarão num navio que estava
no porto. Havia uma meia dúzia de navios.
Vi também dois navios afundados. Dei meus dois bonés que ganhei em
Araranguá e uma camiseta do Jornal Folha do Mate a Elton e cunhado. À tardinha,
fui até Paulo Lopes, Uns 10 km antes de Paulo Lopes, começou a chuviscar. Não aumentei a velocidade. Segui lentamente e
cheguei lá sem me molhar. Fui ao centro da cidade. Como estava escuro, não
achei conveniente pedir alimentos nas casas. Fui a uma padaria. Pedi um bolo e
um litro de leite, mas o dono não me cobrou nada. Fiz meu jantar no balcão.
Bebi todo o leite e comi metade do bolo. Conversei com o padeiro, sua filha e
um outro garoto, sendo que mais tarde o garoto me conduziu até a delegacia de
polícia, onde consegui um pernoite. O delegado estava assistindo um show de
Gilberto Gil na televisão. Deitei às 21:30.
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