domingo, 17 de julho de 2016

Minha primeira grande viagem (Terra de Areia\Paulo Lopes) (2ª parte)

06\12\83.  Tomei  o  rumo  de  Torres,  a  50 km  de  Terra de Areia.  A estrada  ia  serpenteando.  No lado direito, planícies e lagoas; no lado esquerdo, morros cobertos de bananeiras.  Na localidade de Três Cachoeiras, ganhei um pedaço de pão e um copo de leite. Cheguei  a  Torres ao meio-dia. Uma cidade com edifícios, muitos bancos e hotéis.  Notei  muitas  casas  desocupadas.  Na praia havia pouca gente.  Passei num posto de gasolina, tomei um banho, lavei minha camisa,  me  vesti melhor e  fui  pedir  alimentos  em algumas casas. Ganhei pão, leite, bananas, laranjas, queijo, presunto e sardinhas.  Lanchei e fui até a Rádio Maristela, onde dei entrevista. Em seguida, fui ao Jornal de Torres.  O responsável pela edição estava viajando e fiquei conversando com um rapaz que trabalhava no jornal e que, quando cheguei, estava pintando um muro. Falei sobre minha aventura e ele falou de algumas experiências que teve quando prestou serviço militar.  Quando nos despedimos, ele me deu 350 cruzeiros para comprar um rango.  Saí de Torres por volta das 17 horas, com destino a Sombrio. Tendo andado uns 7 km, atravessei o Rio Mampituba, que limita RS e SC. Bem no meio da ponte, cruzei com uma jamanta que vinha em alta velocidade. O vento arrancou o boné da minha cabeça.  O boné caiu no rio. Eu já estava calculando onde conseguir outro boné e, ao olhar para o rio, vi  que a correnteza levava o meu boné lentamente.  Decidi recuperar o boné, que ainda não havia afundado.  Desci por uma estradinha que margeava o rio a toda velocidade. Não dei atenção  às pedras e buracos. A uns 80 metros da ponte, larguei a bicicleta, tirei o tênis e a camisa e me atirei no rio para salvar o boné. Nadei uns 10 metros, peguei o boné e saí do rio.  Pedalei mais uns 30 km por uma estrada arborizada  com eucaliptos e pinheiros e cheguei a Sombrio no início da noite. Dei umas voltas pela cidade. Passei pela pequena estação rodoviária, pelo pequeno prédio da Telesc e pela grande igreja verde e amarela, com uma torre bem alta. Fiz meu jantar com as sobras de Torres.  Tencionava dormir na Brigada Militar. Não havendo Brigada Militar na cidade, fui até a delegacia de polícia. Lá conversei com o delegado e com quatro prisioneiros que estavam na cela. Fui dormir num Chevette que o delegado indicou. Deixei a bicicleta dentro da delegacia. A noite estava muito fria e não consegui dormir muito.

07\12\83. Acordei por volta das cinco horas. Levantei, peguei a bicicleta e fui ao centro para esperar a cidade acordar.Enquanto  a cidade ia  acordando, atualizei o meu diário. Passei numa oficina de bicicletas e conversei um pouco com as pessoas que estavam ali. Em seguida, passei em duas casas. Ganhei bolachas e tomates. Segui viagem rumo a Araranguá, 25 km adiante, onde pretendia passar o dia e a noite na residência de um dos dois  conhecidos meus, Pedro  e Hélio. Eles foram meus colegas de trabalho em Venâncio Aires. Passei na empresa onde eles trabalhavam e encontrei-os. Falei da minha aventura e Hélio me convidou para ficar no seu apartamento. Almoçamos juntos, eu, Hélio e Marilene, sua esposa. À tarde eles foram trabalhar e eu fiquei sozinho. Peguei a bicicleta e fui dar entrevista na Rádio Araranguá e a um colunista do Jornal Tribuna do Vale. Depois, voltei ao apartamento, ouvi uns discos e descansei. À tardinha, Hélio voltou do trabalho e me levou de carro até as praias da cidade (Morro dos Conventos e Arroio do Silva). Durante o passeio conversamos animadamente sobre assuntos variados e tomamos cerveja num bar. Voltamos ao apartamento, tomamos mate doce, jantamos, conversamos mais um pouco e fomos dormir.

08\12183. Levantei às 6:45. Hélio levou Marilene ao trabalho e voltamos ao apartamento. Tomamos café. Às oito horas, peguei a bicicleta e nos despedimos. Tomei o rumo de Tubarão, levando dois super-sanduíches, quatro ovos cozidos, dois bonés novos, uma lata de talco para os pés e mil cruzeiros, que ganhei de Hélio. Quando saí, o céu estava nublado, mas em poucos minutos o sol apareceu e começou a queimar a minha pele. Na beira da estrada vi muitas olarias. Vi também uma grande fazenda que ocupava os dois lados da estrada. Parei em vários postos de gasolina para beber água. À meia-tarde entrei em Tubarão. Tomei um banho num posto de gasolina. Dei umas voltas pela cidade.Fui entrevistado pelo Jornal O Estado. Passei numa casa e ganhei sardinhas. Passei noutra e ganhei bolacha salgada, pão doce e um mamão. Enchi a barriga e, ao por do sol, segui para Laguna. Na saída de Tubarão vi uma grande usina termelétrica. Escureceu. Num certo ponto da estrada percebi que havia uma lagoa muito grande.Pude observar isto porque havia uma porção de luzes amarelas na sua superfície. Passei por uma ponte que atravessava a lagoa. Havia uns trinta pescadores jogando suas tarrafas na água e pegando uns peixes que variavam entre 15 e 30 cm de comprimento. Começou um vento muito forte e frio. Vesti o blusão e tratei de chegar a Laguna. Tendo lá chegado, dei umas voltas pela cidade, comi bolachas e ovos cozidos e fui dormir num banco da Estação Rodoviária. A noite estava fria e não consegui dormir muito.

091283. Acordei às 5:30. Dei umas voltas pela cidade, fui à praia e segui pela beira do mar até Imbituba. Na praia de Itapirubá, resolvi pedir algo para  comer. Enquanto andava numa rua vi duas vacas gordas, uma preta e uma marrom. Passei numa casa e ganhei um sanduíche com uma generosa fatia de queijo e um copo de leite com uma nata bem grossa. Perguntei à dona da casa se o leite e o queijo eram daquelas vacas e ela confirmou. Em seguida, peguei a beira do mar e continuei  calmamente em direção a Imbituba. Vi uma porção de gaivotas que fugiam quando eu me aproximava. Vi, também, uma pequena cobra. Ela media uns 25 cm de comprimento e a largura de um dedo. Ela era xadrez. Preta e amarela.Mais tarde, uma menina me disse que tratava-se de uma cobra dágua,  Chegando a Imbituba, a areia tornou-se preta. É que havia uma usina de carvão na cidade. Procurei o meu ex-colega de trabalho Elton Monteiro de Oliveira.  Encontrei-o na casa da namorada, após aproximadamente uma hora de procura. Ficamos lá conversando um pouco e almoçamos. À tarde, fomos com o sogro dele vender camarão num navio que estava no porto. Havia uma meia dúzia de navios.  Vi também dois navios afundados. Dei meus dois bonés que ganhei em Araranguá e uma camiseta do Jornal Folha do Mate a Elton e cunhado. À tardinha, fui até Paulo Lopes, Uns 10 km antes de Paulo Lopes, começou a chuviscar.  Não aumentei a velocidade. Segui lentamente e cheguei lá sem me molhar. Fui ao centro da cidade. Como estava escuro, não achei conveniente pedir alimentos nas casas. Fui a uma padaria. Pedi um bolo e um litro de leite, mas o dono não me cobrou nada. Fiz meu jantar no balcão. Bebi todo o leite e comi metade do bolo. Conversei com o padeiro, sua filha e um outro garoto, sendo que mais tarde o garoto me conduziu até a delegacia de polícia, onde consegui um pernoite. O delegado estava assistindo um show de Gilberto Gil na televisão. Deitei às 21:30.

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