29\12\83. Acordei cedo. A esposa de
Gerhard convidou para tomar café. Em seguida, ela leu meu diário. Enquanto ela
lia, Gerhard estava ajudando um vizinho a espalhar leivas de grama. Eu escrevi
aerogramas para Jerônimo e Sr. Braga.
Depois, me despedi do pessoal, despachei os aerogramas no correio, fui à
praia, tomei um banho e segui viagem.
Andei pela areia da praia. Passei
por várias praias. Vi muitos carros com placas de Mogi das Cruzes e vi muitos
japoneses. Na medida em que eu andava, o mar ia ficando verde-escuro. A espuma
das ondas parecia mais branca. Antes de chegar a uma praia, havia um desvio.
Não entrei no desvio. Continuei pela
beira da água e cheguei a um pequeno braço de mar, de uns 12 m de largura.
Atravessei-o carregando a bicicleta. Era mais fundo que eu calculei. A água
salgada atingiu todas as engrenagens. Quando cheguei do outro lado, vi muitos
caranguejos, marrons e grandes. Depois daquela praia, peguei uma estrada de
areia e andei uns 30 km. Quando eu passava por alguma ponte, observava que a
água era bem preta. Depois, andei alguns trechos de asfalto e estrada de terra.
Passei por algumas praias que eram separadas por morros.
Depois de uma chamada Boiçucanga, subi um
morro muito alto, por uma estrada cheia de pedras. Um caminhão vazio, por falta
de potência, andou alguns metros para trás para embalar num determinado ponto
da subida. Quando comecei a descer, constatei que o freio da bicicleta estava
estragado. Quando era acionado, a roda trancava bruscamente e o cubo rangia.
Parei. Pus o dedo no cubo e quase me queimei. Tive que descer o morro a pé.
Cheguei a uma praia chamada Maresias. Havia muitas casas grandes, bonitas e com
muros e portões bem altos. Continuei. Subindo e descendo morros, empurrando e
segurando a bicicleta. Aliás, neste dia, descobri que descer segurando a
bicicleta é mais difícil que subir empurrando.
Numa dessas descidas, deixei a
bicicleta correr. De repente, os pedais começaram a girar sozinhos e eu tive
que tirar os pés. Lá embaixo, uns 200 metros à frente, uma curva fechada. Com
medo de não conseguir dominar a bicicleta, optei por jogar-me no barranco, num
ponto onde havia terra fofa. Não me machuquei. Apenas fiquei muito sujo e a
bicicleta entortou a direção, que corrigi facilmente sem usar ferramentas.
Quando eram quase 21 horas, muito cansado e
faminto, cheguei a um lugar chamado Barequeçaba. Pensei ter chegado a São
Sebastião, mas ainda faltava mais um morro. Eram apenas 6 km, mas eu estava
liquidado. Fui a uma mercearia. Comprei leite, bolachas, duas latas de
sardinhas e uma lata de milho. Tomei todo o leite, comi uma lata de sardinhas e
um pouco de milho e dei-me por satisfeito. Um rapaz, José Carlos, com quem eu
conversava, disse que poderia consertar minha bicicleta no outro dia. Em
seguida, fui até a delegacia de polícia pedir pernoite. O sargento que me
atendeu disse que havia dois presos na cela e que estava sendo realizada uma
busca a ladrões e provavelmente haveria mais presos naquela noite. Fui até uma
escola que alguns jovens me indicaram. Falei com o Sr. Luiz, que morava nos
fundos e cuidava da mesma. Consegui dormir numa grande mesa que estava numa
área coberta. Vesti o blusão, a calça de veludo e usei uma toalha para me
proteger dos mosquitos.
30\12\83. Luiz me acordou de manhã
cedo. Tomei um copo de café que ele me ofereceu. Conversamos um pouco e saímos.
Ele foi trabalhar e eu fui à praia. Tomei um banho no mar. Em seguida, comi o
milho da lata e algumas bolachas. Fui em direção á casa de José Carlos.
Sentei-me num banco da parada de ônibus, conversei um pouco com um rapaz e
atualizei o diário. A parada era ao lado
da casa onde José Carlos morava. Passaram-se alguns minutos e ele apareceu.
Levei a bicicleta e José Carlos pegou uma caixa cheia de ferramentas e peças
usadas. Desmontou o cubo traseiro da minha bicicleta e verificou que o bronze que
freava a roda estava quebrado em duas partes e tinha uma rachadura. Pegou um
idêntico em sua caixa e fez a substituição. Explicou que era necessária uma boa
lubrificação, a qual ele não poderia fazer, por falta de graxa. Quis pagá-lo,
mas ele se recusou a receber o meu dinheiro.
Agradeci e fui até São Sebastião. Lá chegando,
após alguns minutos, encontrei uma oficina de bicicletas. Pedi para
lubrificarem e paguei com os mil e quinhentos cruzeiros que restavam. Fui até
uma praça e comi as sardinhas. Depois, dei umas voltas e entrei numa loja de
jogos eletrônicos, onde fiquei conversando com alguns rapazes. Um moreno, que
cuidava da loja, me deu um copo com refresco. Depois fui até outra praça,
grande e arborizada. Tirei uma soneca num banco. Tomei um banho e fui pedir
algo para comer. Numa casa ganhei
laranjas, noutra um prato de comida e noutra um sanduíche com carne. Dei umas
voltas, comi as laranjas e fui até a beira do mar onde permaneci até anoitecer.
Observei as pessoas que passeavam na praça. À medida que anoitecia, um vento
que vinha do Norte aumentava de intensidade. Algumas crianças estavam brincando na água.
Antes de escurecer, fui pedir mais alguma coisa
para comer. Ganhei sanduíches, bolo, laranjas e iogurte. Voltei à prainha da
praça, tomei um banho. Vi um obelisco e constatei que São Sebastião existe
desde 1636. Havia muito movimento na praça. Sentei num banco, de frente para a
avenida. Conversei com um rapaz de São José dos Campos e, durante a conversa,
comi tudo o que tinha na caixa. Em seguida, fui até a delegacia de polícia,
onde me autorizaram a dormir num carro que estava no pátio. Guardei a bicicleta
na delegacia e fui dormir. Eram 21 horas.
31\12\83. Acordei bem cedo. Esperei
bastante tempo até que a delegacia abrisse. Quando abriu, entrei lá e peguei a
bicicleta. Fui convidado para o café. Após o café, fiquei um longo tempo
conversando com um agente de polícia. Segui viagem rumo à praia de Ubatuba. Tendo
andado alguns km, o pneu traseiro furou num pedacinho de vidro branco. Fiz o remendo e segui.
Chegando a Caraguatatuba, tomei um banho no
mar. As ondas eram fortes e a água estava suja. Dei umas voltas pela cidade. Cheguei
a uma casa bem grande e pedi algo para
comer. A empregada que me atendeu informou que eu deveria esperar até que o
dono me atendesse. Enquanto esperava,
atualizei meu diário. Chegaram dois homens e expliquei a eles a razão de estar
ali. Três minutos depois, a empregada
trouxe para mim um prato com pão, carne e batatas e um copo de leite. Fiz a
refeição, agradeci e segui viagem.
Numa praia chamada Lagoinha, tomei um banho de mar. Em seguida, pedi
alimentos numa casa. Comi um pão com berinjela. Depois comi um prato de comida.
Seguindo viagem, tomei um banho numa fonte à beira da estrada.
Passei por algumas praias muito bonitas e
cheguei a Ubatuba. Praia bonita, cidade bonita, gente bonita. Numa casa ganhei
uns sanduíches. Noutra, onde morava um homem de 77 anos de idade, com o qual
conversei um pouco, comi feijão, arroz e ovos fritos. Este senhor disse que era professor e que
nunca havia saído de São Sebastião. Depois, já escuro, ainda passei em duas
casas, onde consegui um sanduíche, uma laranja e três pãezinhos. Sentei-me num
banco à beira do mar e comi. Pude notar que na areia havia alguns siris.
Minutos mais tarde, vi uns meninos pegando os siris com a mão e colocando-os
num saco plástico. Vi também umas velas acesas debaixo de um banco. Após ter
comido, fiquei a um canto da calçada, em cima da bicicleta, e atualizei o meu
diário, em meio ao grande movimento de automóveis e pedestres que passeavam de
um lado para outro.
Em seguida, fui procurar um local para dormir.
Consegui pernoite na Polícia Militar, num sofá do refeitório. Fui dormir às 22:30.
Nesta noite estouraram muitos foguetes na cidade. Era passagem de ano. Num
ginásio de esportes próximo, houve um baile de carnaval.
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