Em 2007 fiz o meu
último passeio com mais de 1000 km.
Estava eu jogando
dominó com alguns colegas perto de casa e falei que estava com vontade de dar
uma volta de bicicleta de uns 2000 km, pois eu visualizei uma folga no trabalho
de mais ou menos duas semanas.
Um dos parceiros, o
Nilsão, perguntou se eu não poderia levar uma carta para a irmã caçula dele que
estava morando em Tutóia, lá no cantinho
do Maranhão, pertinho de Parnaíba.
A distância até Tutóia,
1.070 km, encaixava no meu projeto. Aceitei a encomenda. Ajeitei minhas coisas
e levei 150 reais para gastar no percurso, e, se o dinheiro não fosse
suficiente, eu já tinha muita prática em viver sem dinheiro.
No primeiro dia fui até Santa Luzia do Pará (200 km). No segundo, Santa
Luzia do Paruá-MA (+ 200 km). No 3º, Igarapé do Meio (+200 km). No 4º, Itapecuru-Mirim (+118 km).
Neste dia o vento contra dificultou o meu deslocamento. Tive dificuldade para
urinar, sendo que só consegui depois de beber 3 copos de cerveja como se fosse
água. Em Miranda, uma mulher da lanchonete onde parei falou que, quando faz
muito calor, ela não consegue urinar, e, pesquisando na internet,
posteriormente, pude comprovar esta relação entre calor e dificuldade. Em
Itapecuru-Mirim, no posto de gasolina onde dormi, estava um grupo de vendedores
de redes, gente de Catolé do Rocha e São Bento-PB. Um deles, ao notar minha
falta de habilidade para colocar a rede, me ajudou e a instalou com incrível
destreza. Porém, uns 20 minutos após todos estarmos deitados para dormir, uma
rede escapou e caiu; era a do vendedor que me ajudou.
No 5º, Chapadinha. Neste dia,
também, vento contra. Entrei em Vargem Grande com vontade de comer. No mercado
público, já depois do meio-dia, perguntei onde poderia encontrar uma refeição.
Uma senhora perguntou se poderia ser ovo frito com farinha e eu disse ¨sim¨.
Assim que comi, senti as minhas baterias sendo carregadas do mesmo jeito que
numa outra viagem que ganhei também ovos com farinha perto de Chapadinha. No
posto de gasolina, em Chapadinha, à noite, liguei a cobrar para minha casa e
pedi para mandarem uma mensagem para o telefone celular da irmã do Nilsão,
informando que eu chegaria lá ¨depois- de- amanhã¨, mais ou menos ao meio-dia.
No 6º dia, dormi num posto de gasolina num lugar chamado Fazenda Mamorana, e,
no sétimo dia, faltando uns 70 km para chegar em Parnaíba, entrei à esquerda,
passei por Canabrava e Barro Duro e cheguei em Tutóia poucos minutos depois das
onze horas. Da minha casa até aí, só asfalto.
Encontrando a residência da irmã do Nilsão, entreguei a carta e perguntei
se ela havia recebido a mensagem no telefone celular. Ela, estranhamente, disse
que não havia recebido nada, mas
esclareceu que a tal mensagem levaria mais uns 3 ou 4 dias para chegar.
A operadora era uma tal de Amazônia Celular. Disse, também, que usar telefone
interurbano era quase impossível. Quando precisava ligar para alguém em outra
cidade, pedia aos vendedores que visitavam o seu comércio para ligarem por ela
quando retornassem a algum lugar onde o telefone funcionasse...
Moral da história: uma bicicleta velha pode ser mais rápida que uma
mensagem via celular....
A irmã do Nilsão estava recebendo
visita de um pessoal da Igreja. Falei a ela que queria aproveitar ainda o
restante do dia para começar a voltar para Ananindeua. Ela me indicou um
restaurante próximo, disse para almoçar por conta dela e nos despedimos.
Almocei e fui direto ao local onde havia umas Toyota 4x4 que levavam as
pessoas para Paulino Neves, a uns 30 km de Tutóia. Saí às 16:30 e cheguei ao
anoitecer. Apesar de ser pequena a distância, havia muita areia na estrada e
seria complicado pedalar. Paguei 5 reais.
Em Paulino Neves, lá mesmo onde desci, comprei iogurte e biscoitos e perguntei
onde poderia encontrar outra Toyota que fosse para Barreirinhas. Indicaram a residência do dono de uma Toyota,
lá no fim da rua, e lá fui eu, já no escuro. Lá chegando, pediram que
aguardasse a chegada dele, sendo que esperei só uns 10 minutos. Paguei logo a
passagem para saída no outro dia bem cedo (10 reais). Perguntei por que de
Tutóia para Paulino Neves o preço era só
5, e ele disse que a distância para Barreirinhas era maior. Ele me convidou
para jantar e depois fomos dormir, ele com a família e eu na Toyota.
Às quatro horas ele me acordou. Tomamos café e saímos. Andamos uns 20
minutos pela pequena cidade pegando passageiros e seguimos para Barreirinhas.
Não havia estrada. A Toyota, além de ser 4x4, tinha os pneus mais largos e o
percurso era por uma infinidade de dunas, muitas vezes passando de raspão ao
lado de pequenas árvores, sendo que tínhamos que cuidar para não sermos
atingidos por algum galho. Às vezes a Toyota encalhava e não conseguia avançar
na areia. Então, engatava a ré, e voltava com mais força para vencer o trecho
mais difícil. Chegamos em Barreirinhas às 8:10.
Entrei num mercadinho, comprei alguma coisa para comer e saí no rumo de
São Luís, com vento a favor, sendo que consegui ir até Rosário, onde cheguei
uns 30 minutos depois de anoitecer. Dormi num posto de gasolina.
No 9º dia, faltando 60\70 km para São Luís, contra o vento, andei com
dificuldade e cheguei ao porto da balsa às 11 horas. A balsa já estava pronta
para sair e a entrada acabava de ser fechada. Fui com pressa ao guichê para
tentar comprar a passagem. Um guarda perguntou para onde eu queria ir. Disse a
ele ¨Belém¨. Ele liberou a entrada e disse que não era necessário pagar! Esta travessia era para um lugarejo chamado
Cujupe e durou mais ou menos uma hora. A balsa era da Marinha do Brasil.
Descendo da balsa, andei mais uns 80 km e cheguei a Pinheiro, onde passei
a noite na casa do Sr. Ubaldo, conhecido de outras viagens.
No 10º dia, entre Maraçumé e Cajueiro, parei para ajudar a dois
caminhoneiros a colocar um muito pesado motor elétrico que havia caído no asfalto
e que eles não tinham força para levantar. Eu, com a minha desprezível força,
ajudei e conseguimos colocá-lo de volta no caminhão. Insistiram muito em me dar
uma carona, mas eu falei que já estava perto de casa...
Em Cajueiro fiz uma rápida visita ao Sr. Zé Fortino, visita obrigatória
em todas as minhas passagens pelo lugar. Fui dormir no posto Pombal, em Gurupi,
na divisa com o Pará.
No 11º dia, fui até Santa Maria do Pará (+ 180 km). E, no 11º dia, mais
100 km, cheguei de volta para a minha
casa.