Em fevereiro de 1996 ou
1997, resolvi dar uma volta pras bandas de São Domingos do Capim. Num sábado, depois
de pedalar uns 40 km, pouco antes de Americano, parei no comércio ¨Gwel¨ para
fazer um lanche. Biscoito com refrigerante. Na saída, ao saber que meu passeio
duraria dois ou três dias, o comerciante deu um pacote de mais ou menos 1 kg de
fritas, sendo que com isto me alimentei durante quase todo o dia. Depois de
passar por Castanhal, mais uns 15 km, entrei para a direita, caminho novo para
a minha bicicleta. Da BR até São Domingos do Capim eram 45 km. Asfalto,
movimento de 1 veículo a cada 5\10 minutos, nada urbano no caminho, do jeito
que eu gosto. No último trecho, o asfalto acabou e, no final de uma longa e suave descida de
piçarra, cheguei à beira do rio. Travessia de balsa até a cidade. Lá na cidade,
ainda perto da balsa, fiz um lanche servido por uma senhora que me disse que
era mãe de um funcionário da Casa São Domingos, uma loja de armarinhos que eu
costumava freqüentar em Belém. Perguntei a ela sobre a estrada a partir de lá e
ela informou que eu poderia seguir para um povoado a 26 km (Perseverança), e de
lá poderia seguir para a rodovia Belém-Brasília. E lá fui eu. Estrada de
piçarra, subidas suaves, movimento zero. Lá no povoado, num comércio que ficava
na esquina principal, o homem falou que eu poderia ir para Mãe-do-Rio ou
Santana do Capim, e que a distância para qualquer um destes lugares era
também 26 km. Escolhi Santana do Capim, uma vez que Mãe-do-Rio eu já conhecia.
Pedalei pouco menos de 2 horas, e cheguei. Um pequeno povoado à beira de um
largo Rio Capim. Comprei alguma coisa para comer, subi na balsa e pendurei a
rede numa grande casa de madeira que ficava à direita de quem desce da balsa.
No outro dia, faltando
15 minutos para clarear,saí no rumo de Vila Concórdia, 24 km. Passei por uns 2
ou 3 trechos de atoleiro. Antes das 8 horas eu já estava numa padaria em Vila
Concórdia, merendando e conversando com pessoal que se dizia admirado da minha disposição.
De Vila Concórdia até a entrada para Bujaru eram 11 km. Neste trecho,
asfaltado, comecei a sentir dor de barriga e por duas vezes saí da estrada com
diarréia. Comecei a suar gelado e ter de sair da estrada de meia em meia hora.
Acho que estraguei o fígado com aquele pacotão de fritas que ganhei. E o pior,
cada vez que eu saía da estrada por causa da diarreia, só encontrava lugares
cheios de formigas. Mesmo em condições desfavoráveis como uma fraqueza com
febre, sou muito persistente. Continuei andando
do jeito que era possível. Só os 11 km a partir de Vila Concórdia eram
asfaltados, e o resto era piçarra.
Na estrada para Bujaru, no km 42, sendo
novamente assediado pela tal diarreia, vi uma mesa de bilharito e um comércio e
fui direto para lá. Encostei a bicicleta e logo declarei a minha situação,
sendo que o comerciante indicou o WC a poucos metros dali, para onde segui
imediatamente e fiquei aliviado por ter me aguentado. O papel higiênico, aliás,
era revista de mulher pelada. Depois de aliviado, no comércio, perguntei se tinha um Colestase ou Imosec, ao que ele
respondeu que tinha só Elixir Paregórico. Comprei o vidrinho e um refrigerante,
pinguei 40 gotas e tomei. Fiquei lá conversando uma meia hora e comecei a me
sentir melhor. Tomei mais 40 gotas, fiquei muito muito muito agradecido e segui
no rumo de Bujaru, onde cheguei no meio da tarde. Enquanto esperava a balsa
para atravessar o rio Guamá, fiz um lanche. Atravessando o rio, mais 38 km de
asfalto até Santa Izabel, onde cheguei uns 10 minutos depois de anoitecer.
Naquela grande praça que fica no centro, fiz mais um lanche e saí no rumo de
casa, mais 32 km, pelo acostamento, devagar, aproveitando a luz dos muitos
carros que voltavam para Belém no final de domingo. Após ter andado uns 2 km, na
saída de Santa Izabel, uma menina de uns 12\13 anos, que caminhava no
acostamento, pediu uma carona. Magrinha, sentou-se no tubo superior. Falei a
ela para dizer quando quisesse descer e
ela disse ¨tá¨. Depois de andar com ela por uns 6 km, perguntei onde ela queria
descer e ela respondeu que iria para Icoaraci e que pegaria outra carona no
lugar onde eu a deixasse. Indaguei se ela não tinha medo de um estranho como eu
querer mexer com ela e ela respondeu ¨pode mexer porque eu já sou mulher..¨.
Icoaraci está aproximadamente a 50 km de Santa Izabel. Chegando em Marituba, já
a 9 km de casa e a uns 30 da casa dela, deixei-a numa parada de ônibus e dei
dinheiro para pagar passagem até Icoaraci. Cheguei em casa depois das 21 horas.
Ótima história gaúcho!
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