domingo, 19 de março de 2017

Viagem janeiro/2017 - 1ª parte (Ananindeua/Paragominas)

Depois de dez anos sem viajar, criei uma oportunidade e escolhi viajar até Venâncio Aires.

A intenção era fazer uma volta (Ananindeua/Venâncio Aires/Natal/Ananindeua), uns 10.500 km percorridos presumidamente em 80 dias.

No entanto, considerei o longo tempo que eu ficaria desligado do trabalho e da família, a incerteza sobre o meu atual nível de resistência e a dificuldade para reiniciar a vida “normal” depois da viagem e optei por um percurso mais curto na distância e no tempo (aproximadamente 4.000 km em 30 dias).

Eu sairia no dia 01/01, mas, para evitar o intenso trânsito previsto para o dia, saí só no dia 02.

Levei na caixa 3 calções, 3 cuecas, 4 camisas, uma blusa grossa para dormir, uma calça jeans, três pares de meia, três capas de chuva, uma rede, um lençol, meia dúzia de lanternas pequenas, uma faixa reflexiva, três câmaras reserva, três pares de borracha de freio, duas correntes, ferramentas, duas garrafas pet de 1,5 litros de água, um potinho com sal, cápsulas de Pharmaton, 1 pacote de bolachas maria, uma bomba de ar, algum  dinheiro, desodorante, sabonetes,  papel higiênico, repelente, protetor solar, caneta e papel, um jogo de peças para cada eixo da bicicleta e carteira de identidade. Calçados, apenas um par de sandálias havaianas. Duas toalhas de 20x30 cm. Dois bonés. Alguns medicamentos.

O objetivo da viagem? Ficar sozinho e descansar (o espírito). Eu já estava muito estressado. Uma viagem dessas é como um encontro comigo mesmo. É como se fosse uma meditação.

Numa dessas viagens, conversei com um comerciante que contou que o descanso dele era ir para o mato e ficar lá sozinho por uns cinco ou dez dias.

02/01/17 Saí de casa pouco antes das seis horas.



 Neste primeiro dia, a meta foi Mãe do Rio (180 km), sendo que Santana do Capim (150 km) já estaria de bom tamanho.

Segui pela alça viária andando no modo econômico, com o mínimo de esforço. Andar acima de 13 km/hora foi razoável. Fiz todo o percurso só comendo bolachas maria (48) e bebendo água (6 litros), sendo que enchi as garrafas em Acará, mais ou menos às 13h30min.

A passagem pelo rio Acará, para não esperar pela balsa, fui numa balsinha que podia transportar no máximo duas ou três motos. Paguei dois reais. Na saída da balsa, conversei com um motorista que me chamou.  Ele me conhecia de vista nas ruas em Belém.

Choveu muito neste dia. Passei por Concórdia. Cheguei a Santana do Capim ao anoitecer. Perguntei a um policial sobre o acostamento até Mãe do Rio e resolvi seguir. 

Faltando uns 8 km, num posto da Polícia Rodoviária, encontrei uma moça e dois meninos ciclistas, daqueles que andam em grupos.

Fizeram fotografias e mandaram para minha casa pelo “zap-zap”.


Fomos juntos até Mãe do Rio. Me conduziram até um restaurante. Lá esperei a comida ficar pronta. Um dos meninos ciclistas chegou lá depois e me deu mais um pacote de bolachas maria. 

Quando terminei o jantar, verifiquei que o pneu dianteiro estava furado.

Quase 22 horas, chovendo, voltei pela mesma rua e fui até um dormitório (Dormitório Mãe do Rio?), onde consegui um quarto para dormir.

Tomei banho e troquei a câmara furada. Passei a noite inteira sentindo uma dor na perna esquerda. Não era muscular. Era bem no miolo da perna.

Quando levantei, mal conseguia andar. Comentei com o dono do dormitório e ele sugeriu a probabilidade de reumatismo, já que eu havia andado muitas horas na chuva.

Saí para a rua. Muito inseguro, estava confuso.

Decidi ir até Aurora do Pará, mais dez km, na esperança de a perna melhorar com o tempo.

Não deu certo. Piorou. Parei várias vezes e gastei uma hora e meia para percorrer dez km em estrada quase plana.

Em Aurora do Pará parei. Fui à feira, comprei três bananas. Numa lanchonete, um salgado e um café.

Entrei na farmácia e comprei Butazona. Li a bula e tomei uma butazona, um diclofenaco de potássio e dez gotas de tintura de arnica.

Ainda fiquei mais de uma hora pensando em alugar um quarto para esperar por uma melhora, mas os remédios fizeram algum efeito e decidi seguir em frente.

Eu estava tão confuso que me esqueci de encher as garrafas de água. Num povoado mais adiante, parei num comércio onde havia um posto de venda de passagens rodoviárias.

Pedi a um rapaz para encher as duas garrafas com água “não gelada”. Ele trouxe as garrafas cheias e duas coxinhas.

Eu quis pagar, mas ele disse que não era preciso, pois a minha presença era uma bênção para ele.

Agradeci. Na saída vi uma grande igreja da Assembléia de Deus ao lado do comércio.

Durante o resto do dia me alimentei com as bolachas (só umas 20). Enchi as garrafas novamente em Ipixuna.

Cheguei a Paragominas e andei mais uns 6 km até um posto de gasolina no lado esquerdo.

Nos fundos do posto havia um rapaz com um notebook que gravava músicas para os caminhoneiros. Deixei a bicicleta para ele ficar cuidando e fui tomar banho.

Depois fui jantar no restaurante e ele continuou cuidando da minha bicicleta. Tomei mais uma Butazona e repeti o tratamento no dia seguinte.

Perguntei ao rapaz do notebook onde seria um bom lugar para dormir e ele indicou uma parte coberta onde estava um pessoal com alguns carros. Agradeci e fui lá.Conversei com  eles e pendurei a rede num espaço que sobrou. Era um pessoal que trabalhava como mascate. Crediário São Francisco, de Itinga do Maranhão.




Pedi para me fotografarem e mandarem a foto para minha casa.



 Logo minha filha ligou para o rapaz que mandou as fotos e informou que já haviam comprado minha passagem de volta (Porto Alegre/Belém) para o dia 04 de fevereiro.

Conversei mais um pouco com os mascates e dormi. Choveu bastante naquela noite.


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