domingo, 17 de janeiro de 2016

Minha primeira grande viagem (Natal/Angicos) (27ª parte)

28/04/84 Acordei às 3h40min. Tomei café, me despedi e segui viagem, levando algumas guloseimas de avião que os amigos de Mauro me deram.

Supondo estar encurtando o caminho para a BR-101, entrei numa rua à esquerda, e, sem encontrar a saída e sem ninguém na rua para me orientar, acabei dando uma grande volta ao redor de um conjunto habitacional e saí na mesma avenida.

A pista estava molhada, sinal de que havia chovido. Pouco antes de amanhecer caiu uma forte chuva.

Passei por Macaíba. Em Santa Maria, fiz uma refeição com as guloseimas que ganhei em Natal. Eram 8h10min.

Continuando, passei por Riachuelo, Cachoeira do Sapo e Caiçara do Rio dos Ventos. Vi plantações de milho e mandioca. O movimento discreto e o vento a favor facilitavam o meu deslocamento. Não havia mais canaviais. Muita grama e muitos arbustos. Os arbustos, quase todos, sem nenhuma folha. Vi muitos passarinhos: bem-te-vis, galos de campina (parecem cardeais), e alguns de cores metálicas azuis e verdes. Com surpresa, vi também quero-queros (tetéus), aves do folclore do Rio Grande do Sul.

Chegando a Lages, tomei banho num posto de gasolina. Um rapaz perguntou se eu estava percorrendo o Brasil de bicicleta. Confirmei e ele falou que havia lido uma reportagem no jornal, cuja página ele me deu.
Entrei na cidade e fui pedir alimentos. Ganhei bananas, laranjas, leite, guaraná e três pratos com comida (feijão preto, feijão verde, arroz, carne de boi, carneiro e galinha, pepino, tomate, azeitonas e abóbora).

Depois, muito bem alimentado e descansado, segui viagem. Apareceram grandes blocos de pedra na paisagem. Parecia cenário de faroeste.

Numa cidadezinha chamada Fernando Pedrosa, parei num posto de gasolina para beber água. A água era quase branca, sendo que um funcionário disse que era por causa da grande quantidade de cloro.

Segui viagem e entrei em Angicos ao anoitecer. Pedi alimentos em algumas casas e ganhei bananas, laranjas, bolachas, bolo e um sanduíche com queijo de Santana dos Matos. Depois, na delegacia, falei com o delegado, tomei banho e atualizei o diário. Deixei a bicicleta na delegacia e fui até o centro. Noite de sábado. Muitos jovens nas ruas e nas praças. Em alguns bares, rapazes jogavam sinuca. Voltei à delegacia. No caminho, conversei com um pastor evangélico e, mais adiante, com algumas moças.

A delegacia estava fechada. Um rapaz veio abrir. Deitei numa cama e dormi.

29/04/84 Acordei às 6h45min. Comi umas laranjas e resolvi seguir viagem. Quando estava pegando a bicicleta, um rapaz, em nome de um pequeno grupo, me convidou para ficar mais um dia em Angicos. Ele queria que eu fosse junto com eles ao balneário.

A curiosidade de conhecer um improvável balneário num lugar de água escassa contribuiu para que eu aceitasse o convite.

Num comércio, em frente à delegacia, sentei num banco e conversei um pouco com o dono. Voltei à delegacia, atualizei o diário e escrevi alguns aerogramas. O dono do comércio trouxe alguns pães e um copo de leite para mim.

Mais tarde, com alguns rapazes, fui até o balneário. Um dos rapazes era Júlio, um policial. Outro, Valmiro, vulgo Bar, era detento: foi Valmiro que pediu para eu ficar mais um dia.

O balneário: um açude novo, com pedras ao redor, e coqueiros no meio encobertos até próximo às folhas. Havia muitas pessoas lá, tomando banho ou sentadas à beira do açude, conversando, como se fosse uma praia.

Tomei um banho e fiquei um tempo sentado dentro d’água. Me convidaram para sentar a uma mesa, onde conversamos e tomamos cachaça e caldo de feijão e comemos maxixe e pedaços de galinha.

Depois, de volta à cidade, fui almoçar na casa de Valmiro com ele e sua mãe. Feijão, arroz, farinha e carne. Valmiro me deu um frasco com perfume para que eu não esquecesse aquele dia.

Mais tarde, fui ao centro da cidade telefonar para minha mãe, mas não consegui.

Voltei à delegacia e atualizei o diário. No início da noite, o Sr. Manoel João, o dono do comércio, me convidou para jantar na casa dele. Depois, a convite dele, fui assistir a um culto na igreja Assembléia de Deus. Valmiro foi comigo. O pastor que eu havia conhecido na noite anterior falou sobre a minha viagem durante o culto.


Depois, eu e Valmiro voltamos à delegacia. Atualizei o diário, atendi uma ligação de uma moça (Sueli) que  dizia estar apaixonada por mim e fui dormir.

Um comentário:

  1. O pastor evangélico que conheci em Angicos, O Sr. José Aprígio da Silva, é meu amigo, visita obrigatória quando passo pelo Rio Grande do Norte. Na presença dele, não sei explicar, sempre me sinto muito bem. Mesmo eu me declarando agnóstico, ele me respeita e me trata como se eu fosse da família.

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