28/04/84 Acordei às
3h40min. Tomei café, me despedi e segui viagem, levando algumas guloseimas de
avião que os amigos de Mauro me deram.
Supondo estar
encurtando o caminho para a BR-101, entrei numa rua à esquerda, e, sem
encontrar a saída e sem ninguém na rua para me orientar, acabei dando uma
grande volta ao redor de um conjunto habitacional e saí na mesma avenida.
A pista estava molhada,
sinal de que havia chovido. Pouco antes de amanhecer caiu uma forte chuva.
Passei por Macaíba. Em
Santa Maria, fiz uma refeição com as guloseimas que ganhei em Natal. Eram
8h10min.
Continuando, passei por
Riachuelo, Cachoeira do Sapo e Caiçara do Rio dos Ventos. Vi plantações de
milho e mandioca. O movimento discreto e o vento a favor facilitavam o meu
deslocamento. Não havia mais canaviais. Muita grama e muitos arbustos. Os
arbustos, quase todos, sem nenhuma folha. Vi muitos passarinhos: bem-te-vis,
galos de campina (parecem cardeais), e alguns de cores metálicas azuis e
verdes. Com surpresa, vi também quero-queros (tetéus), aves do folclore do Rio
Grande do Sul.
Chegando a Lages, tomei
banho num posto de gasolina. Um rapaz perguntou se eu estava percorrendo o
Brasil de bicicleta. Confirmei e ele falou que havia lido uma reportagem no
jornal, cuja página ele me deu.
Entrei na cidade e fui
pedir alimentos. Ganhei bananas, laranjas, leite, guaraná e três pratos com
comida (feijão preto, feijão verde, arroz, carne de boi, carneiro e galinha,
pepino, tomate, azeitonas e abóbora).
Depois, muito bem
alimentado e descansado, segui viagem. Apareceram grandes blocos de pedra na
paisagem. Parecia cenário de faroeste.
Numa cidadezinha
chamada Fernando Pedrosa, parei num posto de gasolina para beber água. A água
era quase branca, sendo que um funcionário disse que era por causa da grande
quantidade de cloro.
Segui viagem e entrei
em Angicos ao anoitecer. Pedi alimentos em algumas casas e ganhei bananas,
laranjas, bolachas, bolo e um sanduíche com queijo de Santana dos Matos.
Depois, na delegacia, falei com o delegado, tomei banho e atualizei o diário.
Deixei a bicicleta na delegacia e fui até o centro. Noite de sábado. Muitos
jovens nas ruas e nas praças. Em alguns bares, rapazes jogavam sinuca. Voltei à
delegacia. No caminho, conversei com um pastor evangélico e, mais adiante, com
algumas moças.
A delegacia estava
fechada. Um rapaz veio abrir. Deitei numa cama e dormi.
29/04/84 Acordei às
6h45min. Comi umas laranjas e resolvi seguir viagem. Quando estava pegando a
bicicleta, um rapaz, em nome de um pequeno grupo, me convidou para ficar mais
um dia em Angicos. Ele queria que eu fosse junto com eles ao balneário.
A curiosidade de
conhecer um improvável balneário num lugar de água escassa contribuiu para que
eu aceitasse o convite.
Num comércio, em frente
à delegacia, sentei num banco e conversei um pouco com o dono. Voltei à
delegacia, atualizei o diário e escrevi alguns aerogramas. O dono do comércio
trouxe alguns pães e um copo de leite para mim.
Mais tarde, com alguns
rapazes, fui até o balneário. Um dos rapazes era Júlio, um policial. Outro,
Valmiro, vulgo Bar, era detento: foi Valmiro que pediu para eu ficar mais um
dia.
O balneário: um açude
novo, com pedras ao redor, e coqueiros no meio encobertos até próximo às
folhas. Havia muitas pessoas lá, tomando banho ou sentadas à beira do açude,
conversando, como se fosse uma praia.
Tomei um banho e fiquei
um tempo sentado dentro d’água. Me convidaram para sentar a uma mesa, onde
conversamos e tomamos cachaça e caldo de feijão e comemos maxixe e pedaços de
galinha.
Depois, de volta à
cidade, fui almoçar na casa de Valmiro com ele e sua mãe. Feijão, arroz,
farinha e carne. Valmiro me deu um frasco com perfume para que eu não
esquecesse aquele dia.
Mais tarde, fui ao
centro da cidade telefonar para minha mãe, mas não consegui.
Voltei à delegacia e
atualizei o diário. No início da noite, o Sr. Manoel João, o dono do comércio, me convidou para jantar na casa dele. Depois, a convite dele, fui assistir a um
culto na igreja Assembléia de Deus. Valmiro foi comigo. O pastor que eu havia
conhecido na noite anterior falou sobre a minha viagem durante o culto.
Depois, eu e Valmiro
voltamos à delegacia. Atualizei o diário, atendi uma ligação de uma moça
(Sueli) que dizia estar apaixonada por
mim e fui dormir.
O pastor evangélico que conheci em Angicos, O Sr. José Aprígio da Silva, é meu amigo, visita obrigatória quando passo pelo Rio Grande do Norte. Na presença dele, não sei explicar, sempre me sinto muito bem. Mesmo eu me declarando agnóstico, ele me respeita e me trata como se eu fosse da família.
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