domingo, 27 de setembro de 2015

O causo das bergamotas

Nos anos 70, às vezes nós saímos aos domingos em pequenos grupos e andávamos pelas estradas da zona rural de Venâncio Aires e não dispensávamos as frutas que encontrávamos à beira do caminho. Goiabas, laranjas, abacaxis, melancias, e, principalmente,  bergamotas.
Comíamos tantas bergamotas que era comum ficar com dor de barriga.

Num  domingo destes, o Rogério Kreulich teve a idéia de ir lá num lugar onde havia umas bergamoteiras bem carregadas, que nós já conhecíamos de outros passeios.
O pai dele tinha um fusca, táxi, e fomos motorizados para encher o porta-malas. Lá chegando, encostamos o carro bem pertinho das bergamoteiras e fizemos a colheita de umas duzentas frutas.

Como a estradinha era muito estreita, Rogério fez uma manobra para retornar, mas atolou. Estava conosco um menino de uns 8\9 anos, que eu chamava de “cunhadinho”, pois ele tinha uma irmã muito bonita.

Na falta de força para empurrar o fusca, fui até uma casa a uns 300 metros e pedi ajuda a um senhor que lá estava dando ração para alguns porcos.

Ele topou ajudar, e fomos até o fusca. Quando eu me ajeitava para empurrar, ele, sozinho, com um empurrão, desatolou o carro.

Ficamos contentes e agradecemos a ajuda providencial.
O homem, então, falou: “antigamente os carros eram pesados, e era difícil empurrar, mas, hoje em dia está mais fácil..... e, se vocês quiserem, podem pegar umas bergamotas ali para comer”.


Já pensaram se ele soubesse que já havíamos enchido o porta-malas?

Minha primeira grande viagem (Camaçari\Umbaúba) (20ª parte)

04\04\84 Acordei com diarréia. Estava chovendo. Fui ao banheiro. Em pouco tempo a chuva passou e segui viagem.

Passei pelo Complexo Petroquímico de Camaçari e fui até Dias D’Ávila, uma cidadezinha toda arborizada. Pedi alimentos numa casa e ganhei pão com ovo, leite e café. Sentei num banco da praça e atualizei o diário.

Continuei. Em Mata de São João, pedi numa casa e ganhei quatro laranjas.
Mais adiante, passando por Pojuca, começou a chover. Fui até Catu. Num posto de gasolina me abriguei e esperei a chuva passar. Depois, andei pela cidade. Passei numa barbearia e pedi para aparar o bigode. Perguntei ao barbeiro onde era o estádio do Catuense e ele disse que este time não é de Catu, e sim de Alagoinhas.
Depois, pedi alimentos em algumas casas e ganhei pão, bolachas, café leite e 2.000 cruzeiros. Entrei num supermercado e comprei uma maçã, goiabada e leite.
Fui a uma praça e conversei com um estudante. Em seguida, fui à delegacia de polícia e pedi pernoite, sendo que me acomodei num beliche às 20 horas e 30 minutos.


05\04\84 Acordei às sete horas. Estava chovendo. A caixa da bicicleta estava cheia de formigas. Limpei a caixa e comi goiabada. Sentei numa escadinha e atualizei o diário.  Quando a chuva afinou, saí no rumo de Alagoinhas. Meu olho esquerdo estava muito irritado. Conjuntivite.  Ainda tomei alguns banhos de chuva pelo caminho.

Em Alagoinhas, passei em algumas casas e ganhei pão, laranja, uma lata de sardinhas e um prato de comida (arroz, pirão, carne, repolho e abóbora). Andei mais pela cidade. Caiu uma forte chuva e me abriguei num posto de gasolina.

Depois da chuva, segui para Entre Rios. Notei que as árvores estavam diminuindo em tamanho e em quantidade. Começaram a aparecer fazendas de gado bovino. As subidas começaram a ficar menos intensas. Caíram mais chuvas.

No final do dia, entrei em Entre Rios. Nas casas onde pedi, ganhei pão, bolo, bananas e um sanduíche com carne. Fiquei um pouco no banco da praça e fui pedir pernoite na delegacia de polícia, sendo que, às vinte horas, me instalei num Passat para dormir.


06\04\84 Acordei, comi três pãezinhos e saí no rumo de Esplanada. No caminho, muitas fazendas e muito gado. Viu uma enorme aranha atravessando a pista, idêntica àquela que vi entre Joinville e Curitiba, só que a cor da bunda era laranja.

Entrei em Esplanada, sentei na praça, atualizei o diário e escrevi alguns aerogramas. Percebi que o Guia 4 Rodas não estava na caixa da bicicleta (esqueci no banco da praça em Entre Rios). Dei umas voltas, passei no correio e fui pedir alimentos. Ganhei pão, 500 cruzeiros e uma maçã. Na casa onde ganhei uma maçã conversei com alguns rapazes. Um deles me deu outro Guia 4 Rodas de presente.


Segui viagem. Tendo andado 3 km, parei num posto de gasolina e comi sardinhas com pão. O vento fazia meus olhos arderem. Lacrimejei muito. Mais adiante, noutro posto, comi algumas laranjas.

 Quando me aproximei da fronteira com Sergipe, vi milhares de laranjeiras plantadas em filas muito retas. Entrei numa cidadezinha chamada Cristinápolis. Pedi alimentos em duas casas e ganhei laranjas e arroz com carne num saco plástico. Fui até a praça e comi. Um alto-falante, instalado na torre de uma igreja, tocava, para toda a cidade ouvir, a música “para que todos tenham vida” e outras alusivas à Campanha da Fraternidade. 

Segui viagem e entrei em Umbaúba ao anoitecer. Pedi numa casa e ganhei um sanduíche com carne. Atravessei a rua, sentei no banco da praça e comi. Passou um homem carregando uma espingarda. Isto era comum na região, pois vi mais uns dez assim neste mesmo dia. Atualizei o diário, escrevi alguns aerogramas e fui à delegacia, onde combinei que dormiria numa cela. Enquanto conversei com dois policiais na frente do prédio, lavaram a cela com água e creolina e colocaram uma cama para mim. Fui dormir.

domingo, 6 de setembro de 2015

Minha primeira grande viagem (Nazaré das Farinhas\Camaçari) (19ª parte)

02\04\84  Acordei às seis horas. Fiquei sentado na frente da delegacia. Despachei os aerogramas no correio ao lado. Atualizei o diário.

Às sete horas saí no rumo de Salvador. Começou uma chuva fina que foi engrossando rapidamente. Era fria. Passei por uma ponte e entrei na ilha de Itaparica. A chuva não parava. À minha direita começaram a surgir praias com coqueiros. Meus dedos ficaram anestesiados de frio.

Entrei numa praia chamada Barra Grande e me abriguei num pequeno comércio. Comprei um pacote de 500 g de bolachas e comi. Fiquei esperando a chuva passar. Por volta do meio-dia, o dono do comércio serviu um pouco de macarrão com peixe.

Às 14 horas a chuva afinou um pouco e segui viagem. Senti enjoo. Acho que o peixe estava deteriorado. Ao cabo de 50 minutos, cheguei ao terminal do “ferry-boat”. Paguei  400 cruzeiros para atravessar os 13 km de água em 40 minutos. Tirei o boné para não ser arrancado pelo vento.

Desci  do “ferry-boat” e  estava  em Salvador.  Fui ao bairro Chame-chame, na residência de Sissa, uma amiga do “Barriga”. Lá chegando, esperei um  pouco e conversei com ela. Tomei um banho e lanchei. Não havia lugar para eu e a bicicleta no apartamento.

Fui até o quartel da Avenida Amaralina, de onde me mandaram para a Sétima Delegacia, ali perto. Quando a delegada chegou, conversei com ela e fui autorizado a dormir numa sala ao lado  da recepção, no chão. Deitei às 23 horas e choveu a noite toda.


03\04\84  Acordei às 6h30min. Fiquei na delegacia esperando a chuva passar. Ouvi um falatório de que várias partes da cidade estavam alagadas. Escrevi alguns aerogramas. Serviram pão e café. O movimento na delegacia  era intenso. Sempre havia mais de dez pessoas. Por volta das dez horas, a chuva afinou.

Fui ao bairro Chame-chame, pedi  alimentos em algumas casas e ganhei pão, bolachas e mil cruzeiros. Comprei um cartão postal e fui ao apartamento de Sissa almoçar. Hercília, sua filha, estava de saída e me desejou boa sorte. Escrevi mais um aerograma. Almoçamos, conversamos um pouco e me despedi.

Fui até a beira do mar, andei um pouco, bati uma foto e saí de Salvador. 

Num dado momento o asfalto terminou e eu estava perdido numa vila suburbana. Pedi orientação a um comerciante. Ele explicou que o mapa (Guia 4 Rodas) mostrava uma estrada que não existia. Ele ensinou um caminho para encontrar a estrada certa.


Entrei em Camaçari  ao anoitecer. Uma cidade muito espalhada. Pedi alimentos em algumas casas e ganhei pão suco de maracujá, laranjas e um abacate. Depois, fui à delegacia de polícia, onde a delegada me autorizou a dormir dentro de uma Brasília branca.  Havia muitos mosquitos.

Viagem Natal - Teresina - Belém 2002 - Quinta Parte

No oitavo dia, antes de amanhecer, levantei e fui convidado para tomar café na lanchonete. Pão com ovo.

Enchi as garrafas com água e segui viagem. Nem quis entrar na cidade. Apesar de o asfalto estar ruim, o vento não atrapalhava e o deslocamento era fácil.

Depois de passar por Capitão de Campos e Cocal de Telha, parei num restaurante de beira de estrada, “almocei” cuscuz com leite de cabra, sendo que, como já havia acontecido perto de Sobral, não quiseram que eu pagasse.

Na entrada de Campo Maior, muitas casas expondo carne de sol na beira da estrada. Entrei numa oficina de bicicletas, mas não lembro o motivo.

Seguindo, passei por Altos e entrei em Teresina à tardinha, sendo que fui direto por aquela avenida que ia para a ponte nova.

Quase chegando a tal ponte nova, parei numa esquina para beber água. Um caminhoneiro que estava ali falou que me viu várias vezes na Cidade Nova, bairro onde moro, e ofereceu carona, sendo que agradeci e recusei.

Passei a ponte sobre o Rio Parnaíba, atravessei Timon, a primeira cidade do Maranhão, e andei mais 18 km até um posto de gasolina (quase tudo no escuro), onde comi um PF e dormi.