Mais ou menos em 1990, saí num final de semana disposto a
andar por algum caminho novo, ainda não conhecido.
Saí de casa às 4 da madrugada e fui até a balsa que
atravessava para o Arapari, a uns 20 km daqui, na Estrada Nova, em Belém. Todo o percurso era iluminado (urbano).
Lá no porto paguei
uma taxa para atravessar com a
bicicleta e subi na balsa, a qual demorou uns 40 minutos para chegar no porto
do Arapari.
Saí do Arapari ainda no escuro, aproveitando a luz dos carros
e caminhões que saíram da balsa. A estrada era quase plana e, com duas horas e
pouco, cheguei a uma encruzilhada: à
esquerda, Moju e à direita, Abaetetuba,
para onde resolvi seguir.
Mais ou menos uma hora depois, entrei em Abaetetuba. Achei interessante a
pavimentação da rua principal (Lauro Sodré) com blocos de concreto. Segui por ela até o fim, na beira do rio, onde
havia uma feira. Fiz uma merenda e
voltei pelo outro lado , por uma rua
paralela. Na saída, vi dois rapazes precursores
dos mototaxistas; o serviço deles
era taxicleta...
Decidi ir para Moju, que não
era muito longe. Voltei até a encruzilhada
e percorri mais
ou menos a
mesma distância até Moju. Enquanto esperava para
a travessia de
balsa, fiz outra merenda.
Em Moju andei
só uns 300
metros na primeira
rua e voltei
para continuar o
passeio. Me disseram
que eu poderia
ir para Acará
e voltar a
Belém por Bujaru, e
foi isto que eu
escolhi.
Saindo de
Moju, já à
tarde, vento contra,
andei vinte e poucos km. Daí, para Acará, saí
do asfalto e
entrei à esquerda
numa estrada de
piçarra. Com menos
de 10 km
pedalados, escureceu, mas
era dia de
lua cheia. Não
havia placas na
estrada e eu não
sabia quanto teria
que andar para
chegar a algum
povoado.
Fui andando no
escuro mesmo. No
alto de uma
subida, um caminhão parado.
O motorista me
chamou e perguntou
onde era a Sococo.
Eu disse a
ele que estava
viajando e não
tinha visto e
não sabia onde
era.
Andei até
umas 20:30 e
cheguei a um
povoado. Vi um comércio
no lado direito
de uma descida
e comprei leite
e bolachas. Conversei
um pouco com o
pessoal que estava lá.
O dono do
comércio disse que
eu poderia pernoitar
lá quando fechasse
o estabelecimento. Topei.
Um freguês que
estava no comércio me
acompanhou na descida
uns 100 m e me
mostrou a margem
do igarapé onde
tomei banho. Quando
voltei ao comércio,
já estava fechando.
Agradeci, pendurei
a rede e dormi.
Antes de amanhecer,
eu já estava
arrumado para seguir
para Acará. Não
sabia a distância,
mas isto era
para mim irrelevante,
pois um dia
a mais ou
a menos no
meu passeio não
faria diferença.
A estrada não
era boa, vento
contra, subidas, acho
que estava andando
a menos de 15
km\h. Lá pelas 10 horas
da manhã, cheguei
a um grande
povoado. Entrei num
mercadinho, fiz uma
merenda. Me disseram
que faltavam só
17 km para
Acará.
Nos últimos 6
km, umas subidas
bem difíceis. Entrei
na cidade e
fui direto para
a balsa. A
balsa era menor
que as outras
duas anteriores. No meio dela
havia uma parte
do piso afundada em
mais de um
metro.
O condutor da
balsa chegou-se para
perto de mim
e perguntou o
que eu estava
fazendo lá ao
invés de estar
em casa na
Cidade Nova. Falei
que estava dando um
passeio e perguntei
como é que
ele sabia onde
eu morava. Ele
respondeu que era
meu vizinho. Perguntei
então por que
é que eu
não me lembrava
de vê-lo perto
da minha casa,
e ele disse que
só ia lá
nos finais de semana...
Saindo da balsa,
andei mais 19 km
e cheguei na
entrada para Bujaru
ainda a sessenta
e poucos km
dali. Num restaurante
típico de estrada,
comi um PF.
A estrada para Bujaru
era de piçarra,
um areião grosso, úmido, cheio
de buracos bem
redondos, de 30 a
60 cm de diâmetro. Sabendo que
a distância média
entre os postes de
energia era de 100
m, fui
contando eles para
saber quantos km
estava andando, pois, quando escurecesse,
eu teria uma
noção de quanto
faltaria para Bujaru.
Pois, quando contei
o poste 600,
mais ou menos
60 km, começou
uma grande descida
em cujo fim
pude ver a
cidade, ainda antes
de escurecer.
Resolvi ficar por
lá. Num restaurante
bem próximo ao
porto da balsa,
entrei para jantar.
Era o dia
31 de dezembro.
Na mesma mesa
que eu estava
um caminhoneiro que
era o primeiro
vice-prefeito do recém
criado município de Concórdia
do Pará. Ele gostou de
algumas histórias que
contei dos meus
passeios. Deu-me o
seu cartão e
se prontificou a
me ajudar no que eu
precisasse quando passasse
na sua cidade.
Anexo ao restaurante
havia quartos para
pernoitar. Aluguei um.
Era mais barato
que o valor
da refeição. O
corredor era tão
estreito que a
minha bicicleta, com
uma caixa na
garupa, não conseguia
passar. Assim sendo, ela
ficou no restaurante
mesmo até o
outro dia de
manhã.
Quando levantei, peguei
a bicicleta e
fui direto para
a balsa. Em cima da balsa, já
atravessando o largo
rio Guamá, um
caminhoneiro comentou que
eu havia andado
muito para já
estar ali. Ao
perguntar onde ele
havia me visto, contou
que ele havia
me perguntado onde
era a Sococo,
e, como estivesse
escuro, não vi
o rosto dele.
O caminhoneiro fez
uma entrega lá
e pegou uma carga
de dendê para
Nazaré das Farinhas,
perto de Salvador,
cidade que conheci
nas minhas viagens
de 1984 e
1987.
Saindo da balsa
às seis e
pouco, com vento a
favor, retornei para
casa onde cheguei
ao meio-dia.
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