quarta-feira, 21 de maio de 2014

PASSEIO MOJU \ BUJARU


Mais ou menos em 1990, saí num final de semana disposto a andar por algum caminho novo, ainda não conhecido.
Saí de casa às 4 da madrugada e fui até a balsa que atravessava para o Arapari, a uns 20 km daqui, na   Estrada Nova, em Belém.  Todo o percurso era iluminado (urbano).
Lá no porto   paguei  uma taxa  para atravessar com a bicicleta e subi na balsa, a  qual  demorou uns 40 minutos para chegar no porto do Arapari.
Saí do  Arapari  ainda no escuro, aproveitando a luz dos carros e caminhões que saíram da balsa. A estrada era quase plana e, com duas horas e pouco, cheguei  a uma encruzilhada: à esquerda, Moju  e à direita, Abaetetuba, para onde resolvi seguir.
Mais ou menos uma hora depois, entrei  em Abaetetuba. Achei interessante a pavimentação da rua principal (Lauro Sodré) com blocos de concreto. Segui  por ela até o fim, na beira do rio, onde havia uma feira. Fiz uma merenda  e voltei  pelo outro lado , por uma rua paralela. Na saída, vi dois  rapazes  precursores  dos mototaxistas; o serviço deles  era  taxicleta...
Decidi ir  para  Moju, que não  era  muito  longe. Voltei até   a  encruzilhada  e  percorri  mais  ou  menos  a  mesma distância  até  Moju. Enquanto esperava  para   a  travessia  de  balsa,  fiz  outra   merenda. 
Em  Moju  andei  só  uns  300  metros  na  primeira  rua  e  voltei  para  continuar  o  passeio.  Me  disseram  que  eu  poderia  ir  para  Acará  e  voltar  a  Belém  por  Bujaru, e  foi isto  que  eu  escolhi.
Saindo   de  Moju,  já  à  tarde,  vento  contra,  andei  vinte e poucos   km. Daí, para  Acará, saí  do  asfalto  e  entrei  à  esquerda  numa  estrada  de  piçarra.  Com  menos  de  10  km  pedalados,  escureceu,  mas  era  dia  de  lua  cheia.  Não  havia  placas  na  estrada  e  eu  não  sabia  quanto  teria  que  andar  para  chegar  a   algum  povoado. 
Fui   andando  no  escuro  mesmo.  No  alto  de  uma  subida, um  caminhão  parado.  O  motorista  me  chamou  e  perguntou  onde era  a  Sococo.  Eu  disse   a  ele  que  estava  viajando  e  não  tinha  visto  e  não  sabia  onde  era.
Andei   até  umas  20:30  e  cheguei  a  um  povoado.  Vi   um  comércio  no  lado  direito  de  uma   descida   e   comprei  leite  e    bolachas.  Conversei  um  pouco  com o  pessoal  que  estava lá.   O  dono  do  comércio  disse  que  eu  poderia   pernoitar  lá  quando  fechasse  o  estabelecimento.  Topei.  Um  freguês  que  estava  no comércio  me  acompanhou  na  descida  uns 100 m  e  me  mostrou  a  margem  do  igarapé  onde  tomei  banho.  Quando  voltei  ao  comércio,  já  estava  fechando.   Agradeci,   pendurei  a rede  e   dormi.
Antes  de  amanhecer,  eu  já  estava  arrumado  para  seguir  para  Acará.  Não  sabia  a   distância,  mas  isto  era  para  mim  irrelevante,  pois  um  dia  a  mais  ou  a  menos  no  meu  passeio  não  faria  diferença.
A  estrada  não  era  boa,  vento  contra,  subidas,  acho  que  estava  andando  a  menos  de  15 km\h. Lá  pelas  10 horas  da  manhã,  cheguei  a  um  grande  povoado.  Entrei  num  mercadinho,  fiz  uma  merenda.  Me   disseram  que  faltavam  só  17  km  para  Acará.
Nos  últimos  6  km,  umas  subidas  bem  difíceis.  Entrei  na  cidade  e  fui  direto  para  a  balsa.  A  balsa  era  menor  que  as  outras  duas   anteriores.  No  meio  dela  havia  uma  parte  do piso  afundada  em  mais  de  um  metro.
O  condutor  da  balsa  chegou-se  para  perto  de  mim  e  perguntou  o  que  eu  estava  fazendo  lá  ao  invés   de   estar  em  casa   na  Cidade  Nova.  Falei  que  estava  dando  um  passeio  e  perguntei  como   é  que  ele  sabia  onde  eu  morava.  Ele  respondeu  que  era  meu  vizinho.  Perguntei  então  por  que   é   que  eu  não  me   lembrava  de  vê-lo  perto  da  minha  casa,  e  ele disse  que  só  ia  lá  nos  finais de  semana...
Saindo  da  balsa,  andei  mais  19 km  e   cheguei  na  entrada  para  Bujaru  ainda  a  sessenta  e  poucos  km   dali.  Num  restaurante  típico  de  estrada,  comi  um  PF.
A estrada  para  Bujaru  era  de  piçarra,  um  areião  grosso,  úmido,   cheio  de  buracos   bem  redondos,  de  30 a  60 cm de diâmetro.  Sabendo  que  a  distância  média  entre  os  postes  de  energia  era  de  100 m,  fui  contando  eles  para  saber  quantos  km  estava  andando, pois, quando  escurecesse,  eu  teria  uma  noção  de   quanto  faltaria  para  Bujaru.
Pois,  quando  contei  o  poste  600,  mais  ou  menos  60  km,  começou  uma  grande  descida  em  cujo  fim  pude  ver  a  cidade,  ainda  antes  de  escurecer.
Resolvi   ficar  por  lá.  Num  restaurante  bem  próximo  ao  porto  da  balsa,  entrei  para  jantar.  Era  o  dia  31  de  dezembro.   Na  mesma  mesa  que  eu  estava   um  caminhoneiro   que   era  o  primeiro  vice-prefeito  do  recém  criado  município  de   Concórdia  do  Pará.  Ele  gostou  de  algumas  histórias  que  contei  dos  meus  passeios.  Deu-me    o  seu  cartão  e  se  prontificou  a  me  ajudar  no  que  eu  precisasse  quando  passasse  na  sua  cidade.
Anexo  ao  restaurante   havia  quartos  para  pernoitar.  Aluguei  um.  Era  mais  barato  que  o  valor  da  refeição.  O  corredor  era  tão  estreito  que  a  minha  bicicleta,  com  uma  caixa  na  garupa,  não  conseguia  passar. Assim  sendo,  ela  ficou  no  restaurante  mesmo  até  o  outro  dia  de  manhã.
Quando  levantei,  peguei  a  bicicleta  e  fui  direto  para  a  balsa.  Em cima da balsa,  já  atravessando  o  largo  rio  Guamá,  um  caminhoneiro  comentou  que  eu  havia  andado  muito  para  já  estar   ali.   Ao  perguntar  onde  ele  havia  me  visto,  contou  que  ele  havia  me  perguntado  onde  era  a  Sococo,  e,  como  estivesse  escuro,  não  vi  o  rosto  dele.  O  caminhoneiro  fez  uma  entrega  lá  e  pegou  uma carga  de  dendê  para  Nazaré  das  Farinhas,  perto  de  Salvador,  cidade  que  conheci  nas  minhas  viagens  de  1984  e   1987.
Saindo  da  balsa  às  seis  e  pouco,  com vento  a  favor,  retornei   para  casa  onde  cheguei  ao  meio-dia.


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