domingo, 11 de maio de 2014

Passeio Irituia / Ourém I

Acho que foi em fins de 1989. Eu tinha uma bicicleta Monark barra circular. Naquele tempo, as únicas bicicletas que tinham marchas eram a  Caloi 10, a Monark l0, as bicicletas de corrida e alguma importada que se via de vez em quando (lembro de uma Peugeot, pneu balão, de 3 marchas).
Pois eu ousei colocar 10 marchas na minha Monark. Só encontrei duas marcas de câmbio após procurar em  algumas lojas de Belém: Shimano e Dimosil. Por indicação de alguns ciclistas de  corrida ,  optei  pelo Dimosil, ö melhor¨. Coroa 52x40, catraca 28- 14 de cinco marchas, corrente  fina, alavancas.... sendo que estas peças, na época,  custavam a metade do valor de uma bicicleta nova!
Ainda por cima, para a bicicleta ficar mais ¨veloz¨, comprei dois pneus finos (26x1 1|2), os famosos selo branco da  Pirelli.
Saí de casa  ao amanhecer , levando uma sacola na garupa, com a rede garimpeira e algumas ferramentas.  Partindo de Ananindeua, passei  por  Marituba, Santa Izabel, Castanhal , Santa Maria do Pará, sendo estes 100 km já conhecidos de outros passeios.  Depois, mais trinta e poucos km, São Miguel do Guamá; e mais 14 km, a localidade chamada de 14¨.  Este último trecho de 14 km foi  chato por que tive de fazer força em algumas subidas. Como estivesse anoitecendo, resolvi ficar por ali mesmo. Perto de um posto de gasolina, armei a rede num lugar que parecia ser uma cancha de bocha. E ali dormi.
Levantei  cedo. Conversei com um caminhoneiro que era tio do famoso Zé do Pedal. Depois, fui a uma lanchonete tomar café. Tinha umas pessoas esperando condução para Capitão Poço. Conversei com um gordinho que ia para lá.  Ele me convidou para fazer  uma merenda na lanchonete da família dele lá em Cap. Poço. Perguntei se havia saída de lá para Belém sem precisar voltar pelo ¨14¨, e ele disse que sim. Topei. Faltavam 10 para as seis. O Gordinho disse que eram só 60 km e a lanchonete ficava ao lado do supermercado Fukuda, que todos conheciam.  Fui de bicicleta e ele iria de ônibus e me esperaria lá na lanchonete.
Andei uns 8 km de sobe-e-desce e entrei em Irituia. Passei  direto. Vento contra e subidas seguidas de 200\300 metros. Comecei a sentir cansaço. Nos últimos 5 km, a estrada ficou mais suave e vi algumas plantações de laranja. Entrei na cidade, procurei a tal lanchonete e, para minha surpresa, depois de 4 horas pedalando  para percorrer os 60 km, o gordinho, que viria de ônibus, não tinha chegado.  Conversei com os familiares dele, ganhei uma gostosa merenda , agradeci, e segui viagem. Não quis esperar.
Na saída,  perguntei pela próxima cidade.  Informaram   que era Ourém,  a 25 km. A estrada, que desde que saí de casa era asfalto, passou a ser de piçarra; e, pior, cheia de curvas, muito movimento de caçambas e muitas    costelas de vaca¨¨. Com os pneus finos que eu estava estreando, o desconforto foi grande: poeira nos olhos e a bicicleta trepidando. Foram só 25 km, mas fiquei muito chateado.
Chegando a Ourém, resolvi  descansar. Numa praça onde havia um Banco do Brasil, entrei em uma mercearia que tinha um grande balcão de madeira. Comi um  bom pedaço de queijo regional. O homem da mercearia disse que a distância até a BR era mais ou  menos uns  50 km, asfaltados, um tapete¨. Fiquei animado. Agradeci, me despedi e ainda tomei um banho no rio que passava bem pertinho dali. Logo na saída, uma subidinha e uma curva para a esquerda, e o tal tapete se revelou em um asfalto velho e cheio de remendos , um por cima do outro. De qualquer maneira, considerando os 25 km de poeira e trepidação, era verdadeiramente  um tapete.
Quando cheguei na BR, estava anoitecendo e não vi ninguém para perguntar a que distância eu estava   de onde.  Dobrei à esquerda, conforme indicava uma placa que seguia para Belém, e  com o restante de claridade e  mais de uma hora   pedalando no escuro, cheguei   na entrada de Santa Maria do Pará, faltando só 100 km para chegar em casa. Comi não-sei-o-quê  e pernoitei num quartinho de um hotelzinho.
Ao amanhecer, pedalei para casa, com vento a favor, e cheguei às onze e pouco.

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