Acho que foi em fins de 1989. Eu tinha uma bicicleta Monark
barra circular. Naquele tempo, as únicas bicicletas que tinham marchas eram
a Caloi 10, a Monark l0, as bicicletas
de corrida e alguma importada que se via de vez em quando (lembro de uma
Peugeot, pneu balão, de 3 marchas).
Pois eu ousei colocar 10 marchas na minha Monark. Só
encontrei duas marcas de câmbio após procurar em algumas lojas de Belém: Shimano e Dimosil.
Por indicação de alguns ciclistas de corrida
, optei
pelo Dimosil, ö melhor¨. Coroa 52x40, catraca 28- 14 de cinco marchas,
corrente fina, alavancas.... sendo que
estas peças, na época, custavam a metade
do valor de uma bicicleta nova!
Ainda por cima, para a bicicleta ficar mais ¨veloz¨, comprei
dois pneus finos (26x1 1|2), os famosos selo branco da Pirelli.
Saí de casa ao
amanhecer , levando uma sacola na garupa, com a rede garimpeira e algumas
ferramentas. Partindo de Ananindeua,
passei por Marituba, Santa Izabel, Castanhal , Santa
Maria do Pará, sendo estes 100 km já conhecidos de outros passeios. Depois, mais trinta e poucos km, São Miguel
do Guamá; e mais 14 km, a localidade chamada de 14¨. Este último trecho de 14 km foi chato por que tive de fazer força em algumas
subidas. Como estivesse anoitecendo, resolvi ficar por ali mesmo. Perto de um
posto de gasolina, armei a rede num lugar que parecia ser uma cancha de bocha.
E ali dormi.
Levantei cedo.
Conversei com um caminhoneiro que era tio do famoso Zé do Pedal. Depois, fui a
uma lanchonete tomar café. Tinha umas pessoas esperando condução para Capitão
Poço. Conversei com um gordinho que ia para lá.
Ele me convidou para fazer uma
merenda na lanchonete da família dele lá em Cap. Poço. Perguntei se havia saída
de lá para Belém sem precisar voltar pelo ¨14¨, e ele disse que sim. Topei.
Faltavam 10 para as seis. O Gordinho disse que eram só 60 km e a lanchonete
ficava ao lado do supermercado Fukuda, que todos conheciam. Fui de bicicleta e ele iria de ônibus e me
esperaria lá na lanchonete.
Andei uns 8 km de sobe-e-desce e entrei em Irituia.
Passei direto. Vento contra e subidas
seguidas de 200\300 metros. Comecei a sentir cansaço. Nos últimos 5 km, a
estrada ficou mais suave e vi algumas plantações de laranja. Entrei na cidade,
procurei a tal lanchonete e, para minha surpresa, depois de 4 horas
pedalando para percorrer os 60 km, o
gordinho, que viria de ônibus, não tinha chegado. Conversei com os familiares dele, ganhei uma
gostosa merenda , agradeci, e segui viagem. Não quis esperar.
Na saída, perguntei
pela próxima cidade. Informaram que era Ourém, a 25 km. A estrada, que desde que saí de casa
era asfalto, passou a ser de piçarra; e, pior, cheia de curvas, muito movimento
de caçambas e muitas costelas de
vaca¨¨. Com os pneus finos que eu estava estreando, o desconforto foi grande:
poeira nos olhos e a bicicleta trepidando. Foram só 25 km, mas fiquei muito
chateado.
Chegando a Ourém, resolvi
descansar. Numa praça onde havia um Banco do Brasil, entrei em uma
mercearia que tinha um grande balcão de madeira. Comi um bom pedaço de queijo regional. O homem da
mercearia disse que a distância até a BR era mais ou menos uns
50 km, asfaltados, um tapete¨. Fiquei animado. Agradeci, me despedi e
ainda tomei um banho no rio que passava bem pertinho dali. Logo na saída, uma
subidinha e uma curva para a esquerda, e o tal tapete se revelou em um asfalto
velho e cheio de remendos , um por cima do outro. De qualquer maneira,
considerando os 25 km de poeira e trepidação, era verdadeiramente um tapete.
Quando cheguei na BR, estava anoitecendo e não vi ninguém
para perguntar a que distância eu estava
de onde. Dobrei à esquerda,
conforme indicava uma placa que seguia para Belém, e com o restante de claridade e mais de uma hora pedalando no escuro, cheguei na entrada de Santa Maria do Pará, faltando
só 100 km para chegar em casa. Comi não-sei-o-quê e pernoitei num quartinho de um hotelzinho.
Ao amanhecer, pedalei para casa, com vento a
favor, e cheguei às onze e pouco.
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