domingo, 31 de janeiro de 2016

Minha primeira grande viagem: Angicos/Mossoró (28ª parte)

30/04/84 Acordei às 6h0min. Na frente da delegacia, conversei com o Sr. Manoel Joao. Entrei no prédio do revendedor Antarctica e pedi uma página do jornal de Natal que tinha um artigo sobre a minha viagem. Voltei à delegacia, peguei a bicicleta e comi cuscuz com leite trazido pela esposa de Manoel Joao. Atualizei o diário, me despedi do pessoal e segui viagem. Ainda ganhei mil cruzeiros de Manoel Joao “para comprar umas bananas”.

Tendo andado uns 4 km, encontrei o pastor andando de bicicleta. Ele estava indo a um lugarejo mais adiante. Seguimos juntos e conversamos animadamente até que nossos rumos se desviaram e tivemos que nos despedir.

Senti um forte cheiro de pêssego que saía de uns arbustos que tinham florzinhas amarelas.

Faltando dez km para Açu, entrei num acesso até uma grande barragem, inaugurada em maio/83. Com capacidade para tres e meio bilhões de metros cúbicos de água, a barragem estava, de acordo com o medidor, com um e meio bilhão. Bati uma foto e segui viagem.

Entrei em Açu por volta das onze horas. Tomei um banho num posto de gasolina. Procurei uma oficina de bicicletas e pedi uma revisão nos eixos central e traseiro.

 Fui pedir alimentos e ganhei bolachas, bananas e laranjas. Na casa do Sr. Aurino, fui convidado a entrar e almocei feijão, arroz, carne e suco. O Sr. Aurino ligou para a Rádio Princesa do Vale e fui entrevistado ao vivo via telefone. Ganhei um envelope. Johannes Valério, filho do Sr. Aurino, fazia muitas perguntas. Ele tinha nove anos. Mostrou dois álbuns de fotografias, sendo que, num deles, em todas as fotos, ele estava com uma camisa do Corinthians.

Depois da despedida fui ao correio despachar alguns aerogramas, sendo que Johannes me acompanhou com a sua bicicleta e depois voltou para casa.

 Na saída da cidade, ainda pedi alimento numa casa e ganhei uma banana muito grossa chamada Tres Quinas e um prato com arroz, farinha, carne, tomate e cebola.

Segui viagem. Faltando uns doze  km para Mossoró, encontrei outro rapaz de bicicleta e o acompanhei. Tinha uma grande caixa amarrada na garupa. Enquanto conversávamos, ele me deu dois pãezinhos que comi imediatamente.

Entramos em Mossoró já escuro. Ele seguiu e eu parei num posto de gasolina. Comi as bolachas e as duas laranjas que eu tinha.

 Andei pela cidade. Tinha umas pontes. Era plana e achei bonita. Pedi alimento numa casa e ganhei alguns pãezinhos que comi numa praça em frente à delegacia de polícia.
 Em seguida, entrei na delegacia, pedi um lugar para dormir e tomei banho. Um rapaz me serviu uma marmita com arroz e farofa. Depois, ainda ganhei um pão e um copo com café. Enquanto comia o pão, quebrei um pedaço de um dente molar.


Atualizei o diário. Fiquei um pouco ainda conversando em frente à delegacia e depois fui dormir numa cama próxima às celas.

domingo, 24 de janeiro de 2016

Pedalando no escuro

Muitas vezes, por querer chegar mais longe, costumo andar no escuro mesmo. Normalmente, no início da noite, o movimento nas estradas é intenso, e é possível andar com cuidado e aproveitar a luz dos veículos.

Quando a lua está no céu, facilita muito. Certa vez, em noite de lua cheia, próximo a Capanema/PA, num trecho de reta, uma carreta, andando a uns 100 km/hora, ao me avistar a 1 km de distância, desligou os faróis e só ligou após passar por mim.

Porém, quando é muito escuro e não dá para ver o chão, é muito arriscado. Posso cair por causa de qualquer coisa que esteja no chão, colidir com outro ciclista sem luz, ou um pedestre ou mesmo um animal.

Na primeira vez que viajei pela rodovia Belém/Brasília, ao pernoitar num posto de gasolina a 40 km depois de Paragominas (Posto Pernambuco), levantei antes das 4 horas, com muita vontade de “comer quilômetros” e perguntei aos bombeiros como era a pavimentação da estrada nos próximos 30 km. Ao ouvir que a pista estava sem buracos, me animei e fui.

Era muito escuro e havia neblina. Passava um caminhão de 15 em 15 minutos. Só podia ver o alto das árvores dos dois lados e isto era a minha referência. No chão, quando vinha um caminhão, apareciam as linhas tracejadas pintadas no meio da pista. Às vezes a bicicleta ganhava velocidade estranhamente a ponto de eu não conseguir mais pedalar e outras vezes parecia muito pesada (eu não conseguia perceber subidas ou descidas).

Depois que amanheceu, percebi o risco que eu corri. Se houvesse algum obstáculo “invisível” numa das descidas, a queda poderia ser um problema.


Hoje uso lanternas. 

domingo, 17 de janeiro de 2016

Minha primeira grande viagem (Natal/Angicos) (27ª parte)

28/04/84 Acordei às 3h40min. Tomei café, me despedi e segui viagem, levando algumas guloseimas de avião que os amigos de Mauro me deram.

Supondo estar encurtando o caminho para a BR-101, entrei numa rua à esquerda, e, sem encontrar a saída e sem ninguém na rua para me orientar, acabei dando uma grande volta ao redor de um conjunto habitacional e saí na mesma avenida.

A pista estava molhada, sinal de que havia chovido. Pouco antes de amanhecer caiu uma forte chuva.

Passei por Macaíba. Em Santa Maria, fiz uma refeição com as guloseimas que ganhei em Natal. Eram 8h10min.

Continuando, passei por Riachuelo, Cachoeira do Sapo e Caiçara do Rio dos Ventos. Vi plantações de milho e mandioca. O movimento discreto e o vento a favor facilitavam o meu deslocamento. Não havia mais canaviais. Muita grama e muitos arbustos. Os arbustos, quase todos, sem nenhuma folha. Vi muitos passarinhos: bem-te-vis, galos de campina (parecem cardeais), e alguns de cores metálicas azuis e verdes. Com surpresa, vi também quero-queros (tetéus), aves do folclore do Rio Grande do Sul.

Chegando a Lages, tomei banho num posto de gasolina. Um rapaz perguntou se eu estava percorrendo o Brasil de bicicleta. Confirmei e ele falou que havia lido uma reportagem no jornal, cuja página ele me deu.
Entrei na cidade e fui pedir alimentos. Ganhei bananas, laranjas, leite, guaraná e três pratos com comida (feijão preto, feijão verde, arroz, carne de boi, carneiro e galinha, pepino, tomate, azeitonas e abóbora).

Depois, muito bem alimentado e descansado, segui viagem. Apareceram grandes blocos de pedra na paisagem. Parecia cenário de faroeste.

Numa cidadezinha chamada Fernando Pedrosa, parei num posto de gasolina para beber água. A água era quase branca, sendo que um funcionário disse que era por causa da grande quantidade de cloro.

Segui viagem e entrei em Angicos ao anoitecer. Pedi alimentos em algumas casas e ganhei bananas, laranjas, bolachas, bolo e um sanduíche com queijo de Santana dos Matos. Depois, na delegacia, falei com o delegado, tomei banho e atualizei o diário. Deixei a bicicleta na delegacia e fui até o centro. Noite de sábado. Muitos jovens nas ruas e nas praças. Em alguns bares, rapazes jogavam sinuca. Voltei à delegacia. No caminho, conversei com um pastor evangélico e, mais adiante, com algumas moças.

A delegacia estava fechada. Um rapaz veio abrir. Deitei numa cama e dormi.

29/04/84 Acordei às 6h45min. Comi umas laranjas e resolvi seguir viagem. Quando estava pegando a bicicleta, um rapaz, em nome de um pequeno grupo, me convidou para ficar mais um dia em Angicos. Ele queria que eu fosse junto com eles ao balneário.

A curiosidade de conhecer um improvável balneário num lugar de água escassa contribuiu para que eu aceitasse o convite.

Num comércio, em frente à delegacia, sentei num banco e conversei um pouco com o dono. Voltei à delegacia, atualizei o diário e escrevi alguns aerogramas. O dono do comércio trouxe alguns pães e um copo de leite para mim.

Mais tarde, com alguns rapazes, fui até o balneário. Um dos rapazes era Júlio, um policial. Outro, Valmiro, vulgo Bar, era detento: foi Valmiro que pediu para eu ficar mais um dia.

O balneário: um açude novo, com pedras ao redor, e coqueiros no meio encobertos até próximo às folhas. Havia muitas pessoas lá, tomando banho ou sentadas à beira do açude, conversando, como se fosse uma praia.

Tomei um banho e fiquei um tempo sentado dentro d’água. Me convidaram para sentar a uma mesa, onde conversamos e tomamos cachaça e caldo de feijão e comemos maxixe e pedaços de galinha.

Depois, de volta à cidade, fui almoçar na casa de Valmiro com ele e sua mãe. Feijão, arroz, farinha e carne. Valmiro me deu um frasco com perfume para que eu não esquecesse aquele dia.

Mais tarde, fui ao centro da cidade telefonar para minha mãe, mas não consegui.

Voltei à delegacia e atualizei o diário. No início da noite, o Sr. Manoel João, o dono do comércio, me convidou para jantar na casa dele. Depois, a convite dele, fui assistir a um culto na igreja Assembléia de Deus. Valmiro foi comigo. O pastor que eu havia conhecido na noite anterior falou sobre a minha viagem durante o culto.


Depois, eu e Valmiro voltamos à delegacia. Atualizei o diário, atendi uma ligação de uma moça (Sueli) que  dizia estar apaixonada por mim e fui dormir.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Minha primeira grande viagem (Goianinha-RN/Natal) (26ª parte)

24/04/84 Levantei às 5h45min. Um policial pediu que eu aguardasse para tomar café. Depois do café, segui viagem.

Entrei em São José de Mipibu. Pedi alimentos em duas casas e ganhei doces, bananas, munguzá de milho e coco e bolo de chocolate.

 Seguindo viagem, passei por Eduardo Gomes e entrei no Aeroporto Internacional Augusto Severo. Procurei meu amigo Mauro Hart numa divisão chamada Catre. Ao cabo de alguns minutos, ele veio me receber e fui com ele até o alojamento. Tomei banho e fomos ao restaurante, mas, percebendo que o almoço ia demorar, colocamos a bicicleta no carro dele e fomos até sua casa, na praia Ponta Negra. 

Mauro logo voltou ao aeroporto e eu fiquei na casa. Almocei macarrão com iogurte.

À tarde, fiquei um pouco na praia. À noite fui à casa de Pedro, um colega de Mauro, no outro lado da rua, sendo que, mais tarde, saímos de carro com mais alguns amigos e ficamos em um bar.


Fiquei em Natal até o dia 27. Andei bastante pela cidade, atualizei minha correspondência, fiz amizade com Liliana, a namorada de Mauro. Tomei vacina contra febre amarela, fui entrevistado pelo jornal Diário de Natal, comi muitos cocos e muito macarrão, e ainda pedi alimentos em ruas residenciais (mesmo sem necessidade), e dividi com mendigos (eram novidade para mim).

A folga do eixo central

O eixo central da minha bicicleta estava com uma folga muito grande dos dois lados, sendo que as bacias ficavam frouxas, mesmo colocadas novas. Por causa dessa folga as peças se desgastavam em menos tempo.

Por sugestão de um mecânico e borracheiro, levei a bicicleta até uma oficina metalúrgica e orientei o profissional a fazer três pingos de solda dentro do cubo. A bacia, dos dois lados, deveria entrar com dificuldade.

Feito isto, levei a bicicleta para a oficina de bicicletas.  O mecânico lixou o excesso de solda e montou o eixo central com bacias novas.


Resultado: já nem lembro quanto tempo faz.....