sábado, 24 de maio de 2014

PASSEIO CARUTAPERA

No dia 31 de janeiro de 1998, saí de casa bem cedo para dar um passeio comemorativo ao meu aniversário. Seria um passeio de alguns dias. Eu e a bicicleta. Para fazer um percurso diferente dos habituais, resolvi ir lá pras bandas de Carutapera, no cantinho do Maranhão.
Além do material para manutenção da bicicleta e para dormir (rede, lençol, calça comprida, repelente  e meias), levei água e 800 g de queijo regional. O queijo já cortado em  cubinhos e acondicionado numa vasilha “Tupperware”.
Saindo de Ananindeua, os primeiros 60 km até Castanhal apresentaram um trânsito intenso de veículos (a parte que me incomoda é o barulho). Um dia ensolarado e vento contra. Quando realizo meus passeios de bicicleta, não paro para almoçar, descansar, etc. As paradas são bem rápidas, só para beber água,  comer um pouquinho, ou necessidade fisiológica. Ando só “na manha”, geralmente entre 15 e 18 km/h.
Depois de Castanhal, o movimento diminuiu. Só o vento é que insistia em me atrapalhar. Depois  da encruzilhada Salinas/Capanema, gastei umas 3 horas e pouco para andar uns 40 km com muitas subidas contra o vento. Chegando a Capanema, mais ou menos 150 km percorridos  ainda resolvi  ir até Bragança, mais cinqüenta e poucos km. Nos últimos km, ao  anoitecer, encontrei, um de cada vez, uns 3 ou 4 ciclistas que tinham um facão pendurado no guidão da bicicleta. Conversei com um deles e ele explicou que  estavam indo para o mangal pegar caranguejo para vender. Era a rotina deles: ir à noitinha ao mangal pegar os caranguejos; antes de amanhecer, iam à cidade e vendiam na feira e nas ruas; antes do meio-dia, voltavam para casa descansar e repetir o ciclo novamente.
Minha alimentação neste dia consistiu  nos 800 g de queijo e uma coalhada que comi com farinha num estabelecimento antes de chegar a Capanema. Em Bragança,  ainda fui a uma padaria e comprei uns biscoitos. Paguei um quarto para dormir no Hotel Juca (5 reais).
Levantei às cinco e pouco conversei um pouco com  a funcionária do hotel que abriu a porta para eu sair. Comi uns biscoitos e segui viagem, sendo que atravessei a última esquina da cidade precisamente às seis horas. Estrada de piçarra, tinha às vezes uns retalhos de asfalto que vi  até mais ou menos a entrada para Açaiteua, a uns 40 km de Bragança. Mais uns 20 km, entrei num povoado chamado Curupaiti. Fiz uma merenda num mercadinho e segui viagem. Depois de passar algumas pequenas pontes em sequência, começaram a aparecer algumas subidas. Encontrei  outro ciclista com uma máquina fotográfica. Disse que era repórter de um jornal de Bragança. Tirou umas fotos e fez algumas perguntas. Cheguei em Viseu às 14:55, mais ou menos 120 km pedalados.
Fui até a beira do rio Gurupi, numa espécie de porto, e soube que para ir a Carutapera, do outro lado, teria de esperar até o final do dia, quando a maré estaria “cheia”.
Quando viajo de bicicleta, sempre vou ao banheiro quando levanto e faço minhas necessidades fisiológicas para ficar resolvido pelo dia inteiro. Curiosamente, neste dia, quando acordei, ainda lá em Bragança, não saiu nada.... Achei que foi por causa do queijo que travou tudo. Assim sendo, descobri um vendedor de lanches chamado Bigode, ali no porto mesmo, que servia abacatada. Pois fiquei lá, esperando a maré encher e tomando abacatada para melhorar o funcionamento do intestino.
Só consegui atravessar para Carutapera às 21 horas. No meio da travessia, num caminho de água que ia por dentro da mata, a luz do barco pifou. O condutor, então, pediu a um colega para focar com uma lanterna para  frente e para o alto, e lá fomos nós mais uma meia hora até chegar ao porto de Carutapera.
Desci do barco, e, ali mesmo, perguntei onde poderia procurar lugar para dormir. Me indicaram um bar que estava fechado e ali pendurei a rede por cima de uma mesa de bilharito. Ainda durante a noite fui abordado por policiais, sendo que mostrei meus documentos e fui convincente com minha história, de modo a continuar dormindo sossegado.

Acordei   às cinco e pouco com o canto da passarinhada. Ainda escuro, fui a um barranco e fiz a tal necessidade fisiológica.  Saí por aquela rua do porto, atravessei a pequena cidade e saí direto numa estrada de areião, toda cheia de buracos arredondados e grandes. Estava chovendo fino.
Após pedalar uns 18 ou 20 km, numa encruzilhada onde havia uma casa de madeira, Forquilha, escolhi o caminho da esquerda e fui em direção a Luís Domingues. A estrada estreita era só barro.  Passei por um povoado chamado Livramento e tive de empurrar a bicicleta por causa da grande quantidade de caranguejos que estavam andando no leito da  estrada.Depois de um bocado andando, a estrada acabou numa grande água, uns 200 metros de largura. Não tinha ponte. Olhei para todos os lados, só água e mato. Não tinha ninguém para ensinar o caminho. Eu não gosto de voltar. Vi, então, uma marca de pneu de carro entrando na água. Concluí que talvez não fosse muito fundo. Entrei na água empurrando a bicicleta no rumo da marca de pneu. Quando a água encobriu o pneu, olhei para  frente e vi uma clareira no mato a menos de 100 metros de distância. Fui naquela direção e a água foi ficando mais rasa. Não havia correnteza. No outro lado, havia até raízes de árvore no leito da estrada. Após ter andado uns 10 minutos, veio uma moto CG 125 atrás de mim com dois rapazes. Perguntei se tinham passado com a moto por dentro da água e eles confirmaram. Fiquei impressionado de o motor não ter apagado (quando eu era novo as motos apagavam só por molhar a vela na chuva). Um pouco mais adiante, passou por mim uma caminhonete com um bocado de gente em cima. Logo depois,  entrei em Luís Domingues, uma cidade pequena, muito antiga, com casas emendadas (típicas construções portuguesas).
Estava me sentindo meio enjoado, fui a uma farmácia. Comprei um remédio para o fígado e conversei com o dono da farmácia. Reclamei da precariedade da estrada que passei desde Carutapera  até ali, ao que ele respondeu que o pior estava me esperando quando fosse  sair para Godofredo Viana.
E era verdade. Num dia de chuva, um estrada  recém-patrolada, só barro. A bicicleta andava menos de 15 metros e trancava as duas rodas. Tinha eu que tirar o barro a todo minuto. Gastei umas duas horas para andar uns 5 km. Depois, peguei uns trechos menos ruins.  Passei por Godofredo Viana, outra cidade pequena, e fui até Cândido Mendes, por uma estrada “normal”, de piçarra. Chegando lá, dei uma andada pela cidade, era mais ou menos meio-dia. Fui até uma praça e tomei um mingau que uma senhora estava vendendo lá, na beira do rio. Conversei um bocado com ela. Ela disse que eu poderia subir num barco e ir pelo rio uns 6 km e sair no outro lado na estrada que ia para Turiaçu. Mas eu achei que esta opção iria espichar muito o meu passeio. Me despedi da senhora do mingau, saí pelo mesmo caminho que entrei, e fui até um povoado chamado Manaus,  onde, já estando refeito do enjôo, comprei uns biscoitos e tomei umas abacatadas num mercadinho. Segui no rumo de Gurupi, na divisa PA/MA. A chuvinha continuava. A estrada, o mesmo tipo daquela que vi quando saí de Carutapera: areião, cheia de crateras, só que agora tinha mais subidas e descidas, embora pequenas. Eu teria de andar perto de 40 km antes de escurecer. Passei por um outro povoado, Amapá, e nem parei. Na beira da estrada, só fazendas. Cheguei  à BR-316, num povoado chamado Quatro Bocas, uns 10 minutos depois de escurecer. Daí, mais 24 km de bom asfalto com acostamento e com a luz dos caminhões cheguei a Gurupi e entrei num grande posto de gasolina (Pombal). Fiz uma merenda e fui até perto da ponte perguntar onde poderia alugar um quarto para dormir. Me indicaram um hotel que ficava na beira do rio, descendo o barranco, na cabeceira da ponte.
O hotel era uma grande casa de madeira. Estava escuro. Falei com um senhor que estava lá e ele me conduziu até um quarto com uma lanterna. Se precisasse luz, era só acender a vela. Paguei 5 reais. Arrumei a rede e dormi. Durante toda a noite senti um cheiro de cocô.

Levantei às 4:30. Pretendia chegar o mais próximo de casa neste dia, sendo que faltavam 278 km para terminar o percurso. Falei do cheiro de cocô para o homem do hotel, e ele me disse que era o cheiro da madeira com a qual o prédio era construído (Cupiúba?).
Saí às 4:50. Atravessei a ponte, e, como estivesse muito escuro, fui bem pelo meio da pista, cantarolando para alertar alguém que por acaso estivesse no meu caminho. Num determinado lugar, sem eu ver ninguém, alguém perguntou se eu estava vendendo pão...
O dia amanheceu nublado e com chuvisco. Gastei 8 horas no sobe-e-desce de 120 km até Capanema. Depois da Polícia Rodoviária, fiz um lanche no restaurante Chaparral e continuei no rumo de Belém. Estava andando com os músculos cansados mas com uma grande disposição que só os atletas de longa distância sabem o que é.
Passei por todos os lugares do caminho praticamente sem parar, só não me descuidei de beber água, e às 18 e tanto, passando por Apeú, a 54 km de casa, escureceu. Daí em diante, tive que andar devagar por causa da luz dos carros que me ofuscava devido ao grande movimento (acho todas as estradas “BR” têm muito movimento quando estão próximas de grandes cidades). Na saída da BR para Mosqueiro, Já a 20 km de casa, parei num posto de gasolina para fazer um lanche. Assisti uma parte de um jogo amistoso da seleção brasileira contra um time da América Central. Depois, terminei o meu passeio. Cheguei em casa às 22:15.

Depois desta viagem, conheci um senhor que me viu  passando na frente da casa dele em Curupaiti e uma senhora que trabalha em Belém e é lá do povoado Livramento. E um outro senhor que trabalha em Belém falou que a senhora que vendeu mingau pra mim lá em Cândido Mendes é uma tia dele. Naquele mesmo ano ou no ano seguinte todas aquelas estradas ruins que passei foram asfaltadas. A bicicleta que usei? Uma Caloi Barraforte 1980, com 15 marchas.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

PASSEIO MOJU \ BUJARU


Mais ou menos em 1990, saí num final de semana disposto a andar por algum caminho novo, ainda não conhecido.
Saí de casa às 4 da madrugada e fui até a balsa que atravessava para o Arapari, a uns 20 km daqui, na   Estrada Nova, em Belém.  Todo o percurso era iluminado (urbano).
Lá no porto   paguei  uma taxa  para atravessar com a bicicleta e subi na balsa, a  qual  demorou uns 40 minutos para chegar no porto do Arapari.
Saí do  Arapari  ainda no escuro, aproveitando a luz dos carros e caminhões que saíram da balsa. A estrada era quase plana e, com duas horas e pouco, cheguei  a uma encruzilhada: à esquerda, Moju  e à direita, Abaetetuba, para onde resolvi seguir.
Mais ou menos uma hora depois, entrei  em Abaetetuba. Achei interessante a pavimentação da rua principal (Lauro Sodré) com blocos de concreto. Segui  por ela até o fim, na beira do rio, onde havia uma feira. Fiz uma merenda  e voltei  pelo outro lado , por uma rua paralela. Na saída, vi dois  rapazes  precursores  dos mototaxistas; o serviço deles  era  taxicleta...
Decidi ir  para  Moju, que não  era  muito  longe. Voltei até   a  encruzilhada  e  percorri  mais  ou  menos  a  mesma distância  até  Moju. Enquanto esperava  para   a  travessia  de  balsa,  fiz  outra   merenda. 
Em  Moju  andei  só  uns  300  metros  na  primeira  rua  e  voltei  para  continuar  o  passeio.  Me  disseram  que  eu  poderia  ir  para  Acará  e  voltar  a  Belém  por  Bujaru, e  foi isto  que  eu  escolhi.
Saindo   de  Moju,  já  à  tarde,  vento  contra,  andei  vinte e poucos   km. Daí, para  Acará, saí  do  asfalto  e  entrei  à  esquerda  numa  estrada  de  piçarra.  Com  menos  de  10  km  pedalados,  escureceu,  mas  era  dia  de  lua  cheia.  Não  havia  placas  na  estrada  e  eu  não  sabia  quanto  teria  que  andar  para  chegar  a   algum  povoado. 
Fui   andando  no  escuro  mesmo.  No  alto  de  uma  subida, um  caminhão  parado.  O  motorista  me  chamou  e  perguntou  onde era  a  Sococo.  Eu  disse   a  ele  que  estava  viajando  e  não  tinha  visto  e  não  sabia  onde  era.
Andei   até  umas  20:30  e  cheguei  a  um  povoado.  Vi   um  comércio  no  lado  direito  de  uma   descida   e   comprei  leite  e    bolachas.  Conversei  um  pouco  com o  pessoal  que  estava lá.   O  dono  do  comércio  disse  que  eu  poderia   pernoitar  lá  quando  fechasse  o  estabelecimento.  Topei.  Um  freguês  que  estava  no comércio  me  acompanhou  na  descida  uns 100 m  e  me  mostrou  a  margem  do  igarapé  onde  tomei  banho.  Quando  voltei  ao  comércio,  já  estava  fechando.   Agradeci,   pendurei  a rede  e   dormi.
Antes  de  amanhecer,  eu  já  estava  arrumado  para  seguir  para  Acará.  Não  sabia  a   distância,  mas  isto  era  para  mim  irrelevante,  pois  um  dia  a  mais  ou  a  menos  no  meu  passeio  não  faria  diferença.
A  estrada  não  era  boa,  vento  contra,  subidas,  acho  que  estava  andando  a  menos  de  15 km\h. Lá  pelas  10 horas  da  manhã,  cheguei  a  um  grande  povoado.  Entrei  num  mercadinho,  fiz  uma  merenda.  Me   disseram  que  faltavam  só  17  km  para  Acará.
Nos  últimos  6  km,  umas  subidas  bem  difíceis.  Entrei  na  cidade  e  fui  direto  para  a  balsa.  A  balsa  era  menor  que  as  outras  duas   anteriores.  No  meio  dela  havia  uma  parte  do piso  afundada  em  mais  de  um  metro.
O  condutor  da  balsa  chegou-se  para  perto  de  mim  e  perguntou  o  que  eu  estava  fazendo  lá  ao  invés   de   estar  em  casa   na  Cidade  Nova.  Falei  que  estava  dando  um  passeio  e  perguntei  como   é  que  ele  sabia  onde  eu  morava.  Ele  respondeu  que  era  meu  vizinho.  Perguntei  então  por  que   é   que  eu  não  me   lembrava  de  vê-lo  perto  da  minha  casa,  e  ele disse  que  só  ia  lá  nos  finais de  semana...
Saindo  da  balsa,  andei  mais  19 km  e   cheguei  na  entrada  para  Bujaru  ainda  a  sessenta  e  poucos  km   dali.  Num  restaurante  típico  de  estrada,  comi  um  PF.
A estrada  para  Bujaru  era  de  piçarra,  um  areião  grosso,  úmido,   cheio  de  buracos   bem  redondos,  de  30 a  60 cm de diâmetro.  Sabendo  que  a  distância  média  entre  os  postes  de  energia  era  de  100 m,  fui  contando  eles  para  saber  quantos  km  estava  andando, pois, quando  escurecesse,  eu  teria  uma  noção  de   quanto  faltaria  para  Bujaru.
Pois,  quando  contei  o  poste  600,  mais  ou  menos  60  km,  começou  uma  grande  descida  em  cujo  fim  pude  ver  a  cidade,  ainda  antes  de  escurecer.
Resolvi   ficar  por  lá.  Num  restaurante  bem  próximo  ao  porto  da  balsa,  entrei  para  jantar.  Era  o  dia  31  de  dezembro.   Na  mesma  mesa  que  eu  estava   um  caminhoneiro   que   era  o  primeiro  vice-prefeito  do  recém  criado  município  de   Concórdia  do  Pará.  Ele  gostou  de  algumas  histórias  que  contei  dos  meus  passeios.  Deu-me    o  seu  cartão  e  se  prontificou  a  me  ajudar  no  que  eu  precisasse  quando  passasse  na  sua  cidade.
Anexo  ao  restaurante   havia  quartos  para  pernoitar.  Aluguei  um.  Era  mais  barato  que  o  valor  da  refeição.  O  corredor  era  tão  estreito  que  a  minha  bicicleta,  com  uma  caixa  na  garupa,  não  conseguia  passar. Assim  sendo,  ela  ficou  no  restaurante  mesmo  até  o  outro  dia  de  manhã.
Quando  levantei,  peguei  a  bicicleta  e  fui  direto  para  a  balsa.  Em cima da balsa,  já  atravessando  o  largo  rio  Guamá,  um  caminhoneiro  comentou  que  eu  havia  andado  muito  para  já  estar   ali.   Ao  perguntar  onde  ele  havia  me  visto,  contou  que  ele  havia  me  perguntado  onde  era  a  Sococo,  e,  como  estivesse  escuro,  não  vi  o  rosto  dele.  O  caminhoneiro  fez  uma  entrega  lá  e  pegou  uma carga  de  dendê  para  Nazaré  das  Farinhas,  perto  de  Salvador,  cidade  que  conheci  nas  minhas  viagens  de  1984  e   1987.
Saindo  da  balsa  às  seis  e  pouco,  com vento  a  favor,  retornei   para  casa  onde  cheguei  ao  meio-dia.


domingo, 11 de maio de 2014

Passeio Irituia / Ourém I

Acho que foi em fins de 1989. Eu tinha uma bicicleta Monark barra circular. Naquele tempo, as únicas bicicletas que tinham marchas eram a  Caloi 10, a Monark l0, as bicicletas de corrida e alguma importada que se via de vez em quando (lembro de uma Peugeot, pneu balão, de 3 marchas).
Pois eu ousei colocar 10 marchas na minha Monark. Só encontrei duas marcas de câmbio após procurar em  algumas lojas de Belém: Shimano e Dimosil. Por indicação de alguns ciclistas de  corrida ,  optei  pelo Dimosil, ö melhor¨. Coroa 52x40, catraca 28- 14 de cinco marchas, corrente  fina, alavancas.... sendo que estas peças, na época,  custavam a metade do valor de uma bicicleta nova!
Ainda por cima, para a bicicleta ficar mais ¨veloz¨, comprei dois pneus finos (26x1 1|2), os famosos selo branco da  Pirelli.
Saí de casa  ao amanhecer , levando uma sacola na garupa, com a rede garimpeira e algumas ferramentas.  Partindo de Ananindeua, passei  por  Marituba, Santa Izabel, Castanhal , Santa Maria do Pará, sendo estes 100 km já conhecidos de outros passeios.  Depois, mais trinta e poucos km, São Miguel do Guamá; e mais 14 km, a localidade chamada de 14¨.  Este último trecho de 14 km foi  chato por que tive de fazer força em algumas subidas. Como estivesse anoitecendo, resolvi ficar por ali mesmo. Perto de um posto de gasolina, armei a rede num lugar que parecia ser uma cancha de bocha. E ali dormi.
Levantei  cedo. Conversei com um caminhoneiro que era tio do famoso Zé do Pedal. Depois, fui a uma lanchonete tomar café. Tinha umas pessoas esperando condução para Capitão Poço. Conversei com um gordinho que ia para lá.  Ele me convidou para fazer  uma merenda na lanchonete da família dele lá em Cap. Poço. Perguntei se havia saída de lá para Belém sem precisar voltar pelo ¨14¨, e ele disse que sim. Topei. Faltavam 10 para as seis. O Gordinho disse que eram só 60 km e a lanchonete ficava ao lado do supermercado Fukuda, que todos conheciam.  Fui de bicicleta e ele iria de ônibus e me esperaria lá na lanchonete.
Andei uns 8 km de sobe-e-desce e entrei em Irituia. Passei  direto. Vento contra e subidas seguidas de 200\300 metros. Comecei a sentir cansaço. Nos últimos 5 km, a estrada ficou mais suave e vi algumas plantações de laranja. Entrei na cidade, procurei a tal lanchonete e, para minha surpresa, depois de 4 horas pedalando  para percorrer os 60 km, o gordinho, que viria de ônibus, não tinha chegado.  Conversei com os familiares dele, ganhei uma gostosa merenda , agradeci, e segui viagem. Não quis esperar.
Na saída,  perguntei pela próxima cidade.  Informaram   que era Ourém,  a 25 km. A estrada, que desde que saí de casa era asfalto, passou a ser de piçarra; e, pior, cheia de curvas, muito movimento de caçambas e muitas    costelas de vaca¨¨. Com os pneus finos que eu estava estreando, o desconforto foi grande: poeira nos olhos e a bicicleta trepidando. Foram só 25 km, mas fiquei muito chateado.
Chegando a Ourém, resolvi  descansar. Numa praça onde havia um Banco do Brasil, entrei em uma mercearia que tinha um grande balcão de madeira. Comi um  bom pedaço de queijo regional. O homem da mercearia disse que a distância até a BR era mais ou  menos uns  50 km, asfaltados, um tapete¨. Fiquei animado. Agradeci, me despedi e ainda tomei um banho no rio que passava bem pertinho dali. Logo na saída, uma subidinha e uma curva para a esquerda, e o tal tapete se revelou em um asfalto velho e cheio de remendos , um por cima do outro. De qualquer maneira, considerando os 25 km de poeira e trepidação, era verdadeiramente  um tapete.
Quando cheguei na BR, estava anoitecendo e não vi ninguém para perguntar a que distância eu estava   de onde.  Dobrei à esquerda, conforme indicava uma placa que seguia para Belém, e  com o restante de claridade e  mais de uma hora   pedalando no escuro, cheguei   na entrada de Santa Maria do Pará, faltando só 100 km para chegar em casa. Comi não-sei-o-quê  e pernoitei num quartinho de um hotelzinho.
Ao amanhecer, pedalei para casa, com vento a favor, e cheguei às onze e pouco.