Em 1982 eu tinha uma namorada no bairro Jurunas, em Belém, e
morava na Cidade Nova, em Ananindeua, a 20 km de distância.
Algumas vezes, quando a deixei em casa de madrugada, voltei
caminhando para a Cidade Nova, pois os ônibus, naquela época, paravam de
circular à meia-noite.
Quando eu já havia caminhado metade do percurso, a partir
das 6 horas já havia ônibus circulando, mas eu preferia ir até o fim
caminhando, sendo que nunca senti nenhum cansaço ou desconforto por isso.
Então, uns 15 anos depois, resolvi fazer uma caminhada
maior, 160 km, até Marudá. Calculei ir até Castanhal no primeiro dia (60 km),
dormir num quartinho de hotel, seguir até São Pedro no segundo dia (+ 53 km), e
os outros quarenta e poucos km no terceiro dia.
Para tal, saí de casa numa sexta-feira, feriado, levando
dinheiro para as despesas e uma pequena sacola com um par de tênis mais folgado
para o caso de os pés incharem, uma
toalha e uma rede garimpeira para dormir. Nem protetor solar eu usava.
Saí andando sem forçar, a mais ou menos 5 km/hora. Não senti
nada nas pernas, não tive bolhas. Com 28 km caminhados, lá pelas 10h30min,
parei para amarrar o cadarço que havia se soltado. Coloquei o pé sobre um galho
e percebi que a perna estava meio travada.
Mesmo não sentindo nada, continuei despreocupadamente. Notei
que, na medida em que o tempo passava, o comprimento das minhas passadas
diminuía, mas a cadência não. Com 54 km caminhados, lá pelas 17h30min, resolvi,
pela primeira vez, parar para descansar.
Pensei: “vou descansar dez minutos, tomar um banho no rio
Apeú, e seguir para Castanhal”. Havia um tronco de árvore atravessado sobre a
pista e sentei nele para o tal descanso.
Passados os dez minutos, tentei levantar, mas, para minha
surpresa, embora não sentisse nenhuma dor, não consegui, pois as pernas, embora
eu me esforçasse, continuavam dobradas.
Insisti por uns três minutos e, finalmente, consegui ficar
de pé. Muito aborrecido, desisti de tomar o banho no rio e resolvi ir direto
até Castanhal, pois faltavam só seis quilômetros.
Aí veio a outra surpresa. O pé não queria ir para frente. O
máximo que eu conseguia era dar passos de dez centímetros. Calculei que, com um
passinho destes, chegaria a Castanhal depois de duas ou três horas.
Vi então, a uns 100 metros atrás de mim, um caminhão de
farinha parado no acostamento. Fui até lá e pedi uma carona para Castanhal.
Subi na carroceria e, em dois minutos, estava indo de carona para terminar o
primeiro dia da minha caminhada.
Uma vez em Castanhal, o caminhão não parou, e depois de eu
chamar várias vezes, o motorista, que havia me esquecido, parou. Eu desci e o
caminhão seguiu para Bragança, mais ou menos a 160 km de Castanhal.
Fiquei pensando que, se no primeiro dia as minhas pernas
ficaram daquele jeito, como ficariam nos outros dois dias que faltavam?
Acabei desistindo. Peguei um ônibus de volta para Ananindeua
e fiquei o sábado e o domingo em casa, amolecendo as pernas.
Se eu fosse uma pessoa normal, eu teria tido cãibras, pois
nem certa vez quando corri durante mais de cinco horas sem parar eu as tive
(mas as pernas ficaram meio travadas também).
Depois, conversando com militares e profissionais do
atletismo, fiquei (quase) convencido de que, seu eu continuasse caminhando, as
minhas passadas voltariam ao normal na medida em que os músculos fossem
aquecendo....... mas isto eu ainda vou comprovar oportunamente.