No sétimo dia, levantei
cedo e tomei café com a família de Dona Rosa antes de clarear o dia.
Fomos juntos até a
frente da casa e, curiosamente, eles estavam com frio e eu não. Perguntei se havia algum caminho para Piripiri que
evitasse Tianguá; o esposo de Dona Rosa falou que havia um caminho com trechos
sem pavimentação e orientou para eu perguntar ao chegar em Serra Nova, um
povoado que encontraria no caminho.
Agradeci e segui
viagem. Na saída de Carnaubal, passei por um mata-burro e entrei no Piauí. A
estrada, ao invés de asfalto, passou a ser de terra, parecida com as estradas
de 100 anos atrás.
Depois de pedalar uma
hora e tanto, vi duas casas, uma de cada lado da estrada, e um menino. Havendo
uma entrada à direita, perguntei para onde ia. Ele disse que, indo reto
chegaria a Pedro II, e, pelo ramal à direita, chegaria a Domingos Mourão, que
seria o caminho mais curto, mas com mais dificuldade para uma bicicleta. Perguntei
onde era Serra Nova e ele disse que era ali onde nós estávamos. Admirado,
perguntei onde era a igreja, o comércio, a escola, e ele disse que só havia a
casa do vovô, a casa do papai e aquela outra casa “mais acolá”.
Optei pela segunda
alternativa. Fui uma estrada do tipo “rali”. Dois caminhos com um canteiro de
capim no meio. Quando havia descida, a estrada era cortada na pedra e a
bicicleta pulava muito e era preciso caminhar até o fim da descida. Quando
ficava plana, areia fofa. E, para complicar, uma meia dúzia de encruzilhadas
sem sinalização e sem ninguém para informar. E, ainda, mutucas mordendo nas
pernas, de modo que tive de vestir a calça jeans que uso para dormir.
Depois de umas duas ou
três horas de caminho difícil, vi uma longa cerca de galhos de árvore.
No final da cerca havia
uma casa e na frente da casa havia uma senhora. Perguntei se eu estava no
caminho certo para Domingos Mourão e ela disse que sim. Disse também que logo
em frente a estrada era pavimentada e que faltavam só seis km. Agradeci e
fiquei animado.
Sabem como era a
pavimentação? Enormes pedras irregulares, como na Idade Média. Uma subida e uma
descida. A subida, pulando muito, consegui percorrer pedalando, mas, na descida,
tive de ir caminhando.
Na entrada da cidade
havia uma ponte com água lá embaixo. Perguntei a um menino se podia tomar um
banho lá e ele respondeu que não, pois aquela água era parada e fazia meses que
não chovia no local.
Faminto, e com o
dinheiro que ganhei de José Aprígio em Muriú, encontrei um restaurante, pouco
depois das 13 horas. Lá chegando, havia só uma moça que me atendeu. Perguntei
se ainda havia comida e ela disse que sim. Disse a ela que trouxesse um prato
com qualquer coisa e deixei o dinheiro na mesa. Informei que eu estava muito
fedorento por causa do percurso que fiz desde Carnaubal e disse para ela evitar
ficar perto de mim.
Ela respondeu que eu
poderia tomar banho no chuveiro da casa e se quisesse poderia ir para o quarto,
mas eu achei aquela história meio esquisita, de modo que só fiquei para a
refeição.
Ao sair, passei numa
oficina de automóveis e pedi para calibrar os pneus da bicicleta. Perguntei se
havia algum açude ou rio no caminho para Piripiri onde eu pudesse tomar um banho
e o mecânico disse que só havia um que era muito longe (22 km)!
Agradeci e segui
viagem. Depois de uma hora e pouco pedalando, encontrei o riozinho. Desci o
barranco ao lado da ponte e tomei o tal banho.
Mais adiante, numa
encruzilhada, dobrei à direita e cheguei ao asfalto à noitinha. Vi um jegue
parado no meio da pista e uma carreta parada a 50 cm dele. Buzinava, roncava o
motor, e o jegue nem se mexia. Incrível e cômico.
Mais adiante, faltando
uns 10 km para chegar a Piripiri, escureceu. Fui andando com atenção,
aproveitando a luz dos caminhões. No final, longa descida, a bicicleta ganhou velocidade e andei acima
de 30 km\hora por uns 10 minutos.
Na entrada de Piripiri,
num posto de gasolina que eu já conhecia de outras viagens, jantei, pendurei a
rede e dormi.