sábado, 17 de janeiro de 2015

Minha primeira grande viagem (São Paulo\Bertioga) (7ª parte)

27\12\83. Acordei, e, depois de tomar café, me despedi de  Joanina,  a mulher de Ruben.  Ela me abraçou.  Saí  de  São  Paulo  com  céu  nublado.  Andei um trecho pela Rodovia dos Imigrantes, até encontrar uma guarita da Polícia Rodoviária.  O guarda falou que era expressamente proibido andar de bicicleta por ali e também  pela  Via Anchieta. Sugeriu que passasse por Diadema e São Bernardo do Campo, depois mais uns 7 km pela Via  Anchieta, sem ser notado pela Polícia Rodoviária,  e entrasse na estrada antiga...

 Foi o que fiz.  Na estrada antiga havia muitas curvas.  Diversas pessoas estavam às margens da estrada pescando nas águas de uma barragem.  Quando terminou o trecho que tinha água à beira da estrada, iniciou-se uma descida muito forte. A pista era bem estreita, de concreto.  Aproximadamente 7 km. Não havia retas.  Somente curvas,  uma após a outra,  variavam de 45 até 180 graus.  No final da descida, entrei em Cubatão, a cidade que eu havia visto do alto da serra (parecia que estava com neblina, mas era poluição do ar).

 Atravessei Cubatão e fui até Santos por uma estrada que acompanhava uma ferrovia.  Chegando a Santos, fui ao centro da cidade e passei um tempo numa praça observando o movimento. Em seguida, dei umas voltas em ruas residenciais, e pedi algo para comer esporadicamente.  Chovia sem parar.  No início da noite, caminhei por uma avenida que se estendia ao longo do mar, formando uma curva, como em Camboriú.  Subi  numa balsa e atravessei a baía, chegando em Guarujá.  Procurei a delegacia de polícia. O delegado me autorizou a dormir num banco.

28\12\83. Acordei às 6:30. Peguei a bicicleta e segui viagem. Guarujá era uma grande cidade onde quase só se via casas bonitas. Andei alguns km e cheguei a uma praia cheia de pescadores. Os barcos, os urubus e as peixarias completavam a paisagem. Era chamada Perequê. Continuei.

 Após passar por alguns km de braço de mar à esquerda (canal de Bertioga), onde havia também muitos pescadores com barcos, cheguei a uma barca (balsa). Subi. Atravessei o braço de mar. Bati uma foto. Estava na praia de Bertioga. Por ali fiquei.


Dei umas voltas, pedi alimentos. Lubrifiquei a bicicleta. Fui até a beira da praia. Descansei um pouco. Depois joguei vôlei e tomei um rápido banho no mar. Entrei numa loja de jogos eletrônicos, joguei quatro vezes. Era a máquina Penta e, como de hábito, bati o recorde três vezes consecutivas. Começou a chover. Escorei-me na bicicleta, debaixo de uma cobertura de zinco, e atualizei o diário. Em seguida, escrevi aerogramas para mamãe, Sandra e Alceu. Fui ao correio, tomei um cafezinho.

Numa casa ganhei dois sanduíches e tomei coca-cola. Fiquei na casa. Uma senhora ainda preparou mais alguns lanches. Guardei-os na caixa, para mais tarde. Fiquei conversando com o pessoal da casa. Chegou uma visita. Um casal e dois garotinhos. Ofereceram vinho. Aceitei.  A chuva caía e o pessoal conversava animadamente.

 Num dado momento,  percebi que os homens haviam sumido. Descobri que eles estavam nos fundos da casa quebrando cacos de tijolos. Estavam aterrando. Ajudei um pouco, transportando areia com um carrinho de mão, da frente para os fundos. Quando escureceu, Edmar declarou-se pregado e parou. Oscar, no entanto, continuava disposto, mas também parou. Eu e Edmar tomamos suco de abacaxi. Oscar serviu-se de vinho. Alguns mosquitos fizeram-se presentes, mas não liguei para eles. Ajudamos um vizinho a colocar um grande armário dentro da casa. Em seguida, tomamos cerveja. O dono do armário (e da casa) pegou um armário menor e o levou até o meio da rua. Não havia se decidido entre deixar o armário para alguém levar ou queimá-lo. Nesta casa havia um cachorro da raça setter, grande, marrom, peludo, babão e muito brincalhão.


 Voltei à casa onde ganhei o lanche e anotei algumas coisas no diário. Em seguida, fui convidado para jantar. Jantei. Uma senhora, esposa de Edmar, leu o meu diário. Enquanto isto, fiquei  assistindo TV. Às onze horas fui até a casa do Sr. Gerhard, o homem do armário. Ele havia me convidado para dormir lá. Dormi na área da frente, numa rede. Ao meu lado dormiu Átila, o cachorro.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Mutucas, muriçocas, borrachudos

Aqui no Pará, nas estradas do interior, é comum haver mutucas em janeiro. Basta andar devagar, ou parar por qualquer motivo, e logo tem umas 3 ou quatro mordendo a perna da gente. Não dói muito, mas incomoda.
Lá no litoral de São Paulo, entre Bertioga e Perequê, eu e a Ilda passávamos de bicicleta quando vieram centenas de mutucas. Em vez de morderem nas pernas, elas queriam ficar nas nossas cabeças. Eram tantas que não dava nem para abrir os olhos.
Sofremos por uns dez minutos. Não adiantava correr. Vimos uma fumaça de um capinzal que estava queimando e fomos bem para o meio dela. As mutucas nos deixaram!


As muriçocas são um tipo de mosquito que morde a gente por cima de calça jeans, rede, e não respeitam repelente.  
Estava eu em Parnaíba, ao anoitecer, conversando com alguns motoristas de táxi no centro da cidade, e os bichinhos mordiam sem parar.
Como eu ainda não conhecia, perguntei aos taxistas e eles disseram que era a tal muriçoca e ficaram admirados que não houvesse em Belém. Respondi que, nem em Belém e nem em qualquer outro lugar onde eu já havia passado por meio Brasil. Temendo  muito desconforto, desisti de dormir na cidade e voltei 6 km na BR até um posto de gasolina, onde, ao invés de muriçocas, havia milhares de mariposas amarelas em qualquer lugar onde estivesse alguma luz acesa. Porém, elas não mordiam e não estavam debaixo da carreta onde pendurei a rede para dormir.
Alguns anos depois, tive o desprazer de constatar na pele a presença das muriçocas na BR-101, na entrada de Tubarão-SC, sendo que, desta vez, tive que aturá-las a noite inteira.



O borrachudo, na Rio-Santos, é o mais perigoso. A mordida dói muito, mas dá pra usar repelente. Se a gente coçar no local onde foi mordido, pode aparecer uma enorme ferida  que vai levar meses para sarar. Conheci, num posto de gasolina, um caminhoneiro que tinha um curativo na perna. Perguntei se ele havia queimado na descarga da moto. Ele disse: ¨um borrachudo  me mordeu  lá em Hortolândia...¨. A ferida tinha mais de dois meses.