Estava eu voltando para casa, perto de Taciateua, e vi um senhor empurrando a bicicleta na subida.
A bicicleta tinha uma caixa como a minha e um bocado de coisas nela inclusive um triângulo pendurado atrás.
Não tinha câmbio.
Conversamos e ele disse que estava indo para Betim-MG.
Aos sessenta anos, saiu de um povoado lá perto de Mossoró-RN.
Não tinha noção de quantos km andava por dia.
Neste dia ele havia saído de uma parada de ônibus onde dormiu entre Santa Luzia e Capanema.
Falou de algumas dificuldades que teve:
em Chaval-CE ninguém deu água,
no Maranhão caiu num buraco grande para não ser atropelado por um caminhão,
achou muito ruim andar na buraqueira do Maranhão
e tinha um curativo na perna por mordida de um cachorro perto de Cachoeira do Piriá.
Sugeri a ele que procurasse uma corrente nova (não encaixava mais nos dentes da coroa) e ele disse que ela estava nova pois havia colocado antes da viagem (já tinha andado mais de 1700 km)!
Por não ter câmbio falei a ele que, a partir de São Miguel do Guamá, ele perderia muito tempo empurrando a bicicleta e isto se estenderia até o final da viagem.
Ele falou que não conhecia o caminho e também não tinha pressa...
Dei a ele uma lanterna (eu estava com duas) e vinte reais. Ele não disfarçou sua alegria.
Nos despedimos na entrada de Santa Maria do Pará no horário de meio-dia.
Naquela ocasião fiquei com inveja e com vontade de ir junto.